Recém-saída da faculdade, Angela Li estava orgulhosa de seu emprego de caixa no banco estatal Everbright da China —não era excitante, mas tinha perspectivas. Depois de um ano e meio, ela se candidatou a uma promoção, juntamente a um colega homem que havia entrado na empresa na mesma época.Ele conseguiu a promoção. Ela não.
“Nosso chefe veio falar comigo depois”, disse Li, 25. “Ele disse: ‘É bom que vocês, garotas, levem a sério seu trabalho. Mas vocês devem se dedicar mais a arrumar um namorado, casar e ter um filho’.”
Li se demitiu. “Eu poderia competir em termos de capacidade, mas não de gênero”, disse ela.
As mulheres fizeram grandes avanços nas primeiras décadas do regime comunista. O governo se esforçou para retratá-las como iguais aos homens, a começar pela declaração do presidente Mao de que as mulheres “sustentam a metade do céu”.
Mas a mudança para uma economia de mercado e o resultante progresso que gerou oportunidades para as mulheres também promoveram o ressurgimento de valores tradicionais. Cada vez mais, homens e mulheres dizem que o lugar da mulher é em casa. “A situação das mulheres não melhorou. Em algumas áreas, regrediu”, disse Feng Yuan, importante feminista chinesa.
As mulheres formam 44,7% da força de trabalho do país, mas ocupam apenas 25,1% dos cargos de “responsabilidade”, segundo o censo de 2010 da China. Menos de um em cada dez membros da diretoria das 300 principais companhias chinesas são mulheres.
Essa medida se baseia em uma revisão das diretorias de todas as companhias que formam o índice CSI 300, o equivalente chinês ao Standard & Poor’s 500 dos Estados Unidos. Entre as companhias do CSI 300, 126 não têm mulheres em sua diretoria.
Em comparação, as mulheres detêm 19,2% das diretorias nas empresas do S&P 500, e são cerca de 18% dos membros de diretorias nas 610 maiores empresas da Europa. Enquanto as vantagens de ter mulheres na direção são aceitas nos círculos empresariais globais, na China a ideia esbarra em incompreensão, e até tédio, entre os líderes empresariais.
A Dongfang Electric, uma das maiores fabricantes de turbinas de energia elétrica do mundo, não tem mulheres em sua diretoria de nove membros. “Nunca pensamos nisso”, disse Zhang Linchao, diretor dos escritórios gerais da empresa. Perguntado se a companhia responderia a perguntas sobre o assunto, ele declinou, dizendo: “É irrelevante”.
Esse padrão é acentuado nas companhias estatais, onde o governo poderia simplesmente ordenar uma maior participação feminina. Das 31 empresas no índice CSI 300 que não têm mulheres como altas executivas, 30 são de propriedade majoritária do Estado.
A organização das mulheres no Partido Comunista, a Federação das Mulheres de Toda a China, tem a missão de representar as mulheres e proteger seus direitos. Na realidade, ela se concentra em manter o controle do partido e os valores tradicionais. Até recentemente, publicava editoriais em seu site na web criticando as mulheres que adiam o casamento. Também é um dos principais órgãos do partido que elaboram a política de planejamento familiar do país, cuja aplicação levou a abortos forçados.
As poucas mulheres nos altos escalões empresariais pouco fazem para promover seu gênero, segundo várias empresárias.
Dong Mingzhu, presidente da Gree Electric, uma fábrica de aparelhos de ar-condicionado que teve vendas de US$ 22,5 bilhões no ano passado, culpa as mulheres por seu fraco desempenho. “As mulheres não se esforçam o suficiente”, disse. “Ficam felizes em encontrar um homem do qual possam depender.”
Em alguns casos, a lei apoia a discriminação. Legalmente, as mulheres devem se aposentar antes dos homens —geralmente aos 60 anos para homens e 50 ou 55 para as mulheres—, pois espera-se que elas cuidem dos jovens, doentes e velhos.
Algumas empresas não listadas no CSI 300, incluindo as gigantes da internet Baidu e Alibaba, têm mais mulheres em altos cargos.
Estas muitas vezes se encontram em uma fronteira solitária.
Fu Xin, 32, arquiteta que projeta revendas de automóveis para uma companhia alemã, diz que raramente encontra mulheres em seu nível profissional. Mas as atitudes das mulheres bem-sucedidas que ela encontrou não diferem muito das de seus colegas homens.
Em uma recente viagem a Guangzhou, capital da província de Guangdong, uma rara cliente mulher, diretora de uma nova revenda, chamou-a para conversar.
“Ela disse: ‘Você deveria fazer a coisa mais importante em sua vida agora’”, contou Fu. “Arrumar um marido.”
Colaboraram Zheng Huang e Kiki Zhao, de Pequim