Num armazém ao sul de Boston, longe do porto da cidade, o designer de semicondutores James Tran está preparando um produto improvável: camarões.
Tran abriu a criação de camarões Sky8 Shrimp Farm oito anos atrás. Ele faz parte do número crescente de pequenos criadores de camarões nos EUA que usam alta tecnologia para alimentar o apetite americano aparentemente insaciável pelo crustáceo sem prejudicar o meio ambiente, usar produtos químicos nocivos ou depender de fornecedores no exterior acusados de violações dos direitos trabalhistas.
"Não é possível continuar a obter os camarões como fizemos até agora", disse Tran. Familiares deles no Vietnã criam camarões à moda litorânea tradicional, um sistema frequentemente ligado a problemas ambientais, trabalhistas e de segurança alimentar. Aqui, porém, os camarões crescem em tanques de fibra de vidro dotados de sistemas de controle de temperatura, circulação e filtragem.
Os americanos adoram o camarão, que em 2002 superou o atum enlatado para tornar-se o fruto do mar mais consumido no país.
A maior parte do camarão importado pelos EUA vem de criações na América Latina e no sudeste asiático, onde especialistas ambientais e de direitos humanos identificaram violações de direitos trabalhistas, condições de trabalho perigosas, danos aos ecossistemas e o uso de hormônios e antibióticos. Desde o ano passado, uma doença bacteriana atingiu criações de camarões na Ásia e no México, prejudicando a produção. Recentemente vieram à tona relatos sobre uso de mão de obra escrava nos barcos que fornecem farinha de peixe às criações de camarão da Tailândia.
A pesca do camarão também enfrenta problemas. Os estoques do crustáceo estão sob pressão em todo o mundo. A China, no passado grande exportadora de camarão, hoje importa o produto para atender sua própria demanda crescente.
Essas preocupações crescentes inspiram a ação de uma nova geração de criadores, como James Tran. O número de criações de camarão pequenas, em ambientes fechados, nos EUA passou de apenas duas para pelo menos 22 nos últimos cinco anos, e dezenas de outros estão sendo previstas, seguindo a EDM Aquaculture, que fornece equipamentos e know-how aos criadores.
O influente programa Seafood Watch, do aquário Monterey Bay, dá aos camarões vindos dessas criações em tanques sua avaliação mais alta entre frutos do mar criados ou pescados de modo sustentável. "Estamos assistindo à chegada de novas criações intensivas em locais fechados, e não há dúvida de que existe mercado para isso", comentou Pete Bridson, gerente de pesquisas sobre aquacultura no aquário.
A nova onda de criação de camarões nos EUA faz parte de uma campanha travada pelo governo e figuras do setor para promover a aquacultura e reverter uma percepção pública negativa dos frutos do mar criados para serem pescados, em parte devido a controvérsias passadas em torno de produtos oceânicos criados.
Os criadores americanos representaram 0,8% da produção global de aquacultura em 2011, segundo dados da ONU para a Alimentação e Agricultura.
A Sky8 Shrimp, operada por quatro trabalhadores, leva três meses para criar lotes de 40 mil larvas de camarões, que se alimentam de farinha de peixe e algas, até os camarões atingirem o tamanho preferido pelo varejo e os restaurantes. A criação usa tanques de água do oceano Atlântico, filtrada e reutilizada. Não há antibióticos, hormônios ou pesticidas, segundo testes realizados pela Food and Drug Administration (FDA, órgão regulador de alimentos e medicamentos), que regulamenta o camarão. Há pouco risco de os camarões escaparem e prejudicarem os estoques existentes na natureza.
Toda essa atenção aos detalhes encerra custos. Tran vende até 600 kg mensais de camarão fresco a compradores de alto padrão locais por US$ 34 (R$ 75) o quilo, até o dobro do preço pago pelos consumidores de camarões importados. Mesmo assim, ele diz que a Sky8 não consegue atender a demanda. "Precisamos muito ampliar nossa capacidade", comentou.
O preço médio do camarão importado pelos EUA no primeiro trimestre deste ano foi 45% superior ao do ano passado, segundo o periódico especializado "Undercurrent News".
No Indiana, Karlanea Brown e seu marido, Darryl, criam camarões desde 2009 para complementar o que ganham plantando milho e soja. Brown também dá aulas de criação de camarões, financiamento e marketing.
Até agora a empresa deles, RDM Aquaculture, já ajudou a fazer 14 criações de camarão sair do papel, dirigidas por agricultores, bancários, um técnico telefônico e um ex-diretor de funerária. Brown disse que em 2015, pelo menos seis outras criações de camarão vão começar a funcionar.
"Os Estados Unidos não deveriam importar camarões, quando podemos produzir os nossos próprios", disse Brown.