Poucos críticos admiravam Paul Stanley e Kiss, mas a banda entrou no Hall da Fama do Rock and Roll| Foto: Britta Pedersen/European Pressphoto Agency

No início, era evidente quem devia estar no Hall da Fama do Rock and Roll. Elvis Presley, Chuck Berry, Ray Charles, Beatles, Rolling Stones, Little Richard, James Brown, Bob Dylan: todos eram gigantes. Ninguém duvidaria da escolha.

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Mas, depois de 30 anos em que a música pop se dividiu em cada vez mais gêneros, as escolhas já não tão evidentes, e essa situação vem suscitando uma intensa discussão geracional e estilística sobre os nomes escolhidos e o processo de seleção.

Ao mesmo tempo, também parece se aprofundar uma discussão estética de longa data sobre o peso relativo da popularidade versus a excelência musical.

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Nos dois casos, a questão é basicamente a seguinte: existe um cânon? Se sim, quem faz parte dele e quem tem o direito de decidir? O grupo de artistas deste ano, que foi incluído em 10 de abril, encarna todas essas controvérsias.

Após anos de rejeição, a banda de glam rock dos anos 1970 Kiss, ironizada por seus muitos críticos mas dotada de uma base de fãs grande e entusiasmada, finalmente entrou. Foi o caso também do Nirvana, além de Peter Gabriel, Linda Ronstadt, Cat Stevens e Hall & Oates.

Mas o pioneiro do rap N.W.A. foi passado por cima, omissão que provocou uma enxurrada de queixas de críticos mais jovens e fãs do hip-hop.

O processo de seleção para o Hall da Fama, situado em Cleveland, visa ser opaco, para evitar o tipo de trabalho de lobby que tomou conta dos Oscar. Mas, em entrevistas, os envolvidos nas deliberações fornecem alguns vislumbres raros de como funciona o processo.

"Não nos preocupamos principalmente com critérios estatísticos", disse John Landau, chefe do comitê de indicação de artistas. "Não é uma questão de quantos ingressos ou discos você vendeu ou de quantos Grammy ganhou. Sabemos que atuamos numa área altamente subjetiva."

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O ingresso no Hall da Fama é sobretudo uma questão de prestígio, mas pode em muitos casos resultar em aumento das vendas de discos, na recuperação de carreiras que estavam em baixa e, em alguns casos, já levou bandas a se reunirem novamente e voltarem a fazer turnês.

Os artistas escolhidos são selecionados num processo em duas partes que começa com o comitê de indicação, com 35 membros, que inclui críticos, músicos, empresários de músicos e executivos de gravadoras.

Depois de selecionados cerca de uma dúzia de nomes, a escolha é entregue a um grupo maior de mais de 600 eleitores. Os cinco ou seis artistas ou grupos mais votados emergem como os homenageados do ano.

Mas alguns membros do comitê de indicações vêm falando de uma desconexão crescente entre os grupos.

"Existe uma divisão inicial muito básica entre nós e os membros eleitores, sem falar no público", comentou um membro do comitê de indicações, exigindo anonimato para falar porque as regras desencorajam a discussão pública do processo.

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"Acho que nós somos mais abertos e vanguardistas que os membros eleitores, que tendem a ser mais conservadores ou mais mainstream."

Nos últimos anos, a Fundação do Hall da Fama tenta aumentar a diversidade do comitê de indicações, ao mesmo tempo que mantém número de integrantes em um nível controlável.

Pessoas mais jovens foram convidadas a participar, e o número de membros mulheres e não brancos vem crescendo. Entre os acréscimos recentes ao comitê de indicações estão os músicos Tom Morello, 39, do Rage Against the Machine, e Questlove, 43, do Roots.

Ambos teriam argumentado fortemente em favor da inclusão do Kiss, segundo outros membros do comitê. O grupo maior de eleitores foi diversificado ainda mais: um voto é dado aos fãs, graças a uma pesquisa online.

Outra inovação recente é a criação de subcomitês especiais para examinar e apresentar argumentos em favor de gêneros específicos que o Hall da Fama já foi acusado de passar por cima. O hip-hop se enquadra nessa categoria; o rock progressivo e o heavy metal, também.

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Mesmo com sua própria banda finalmente sendo incluída, Gene Simmons, o líder do Kiss, não resistiu à tentação de criticar o processo de seleção. "Se você não toca guitarra e não escreve suas próprias canções, não tem lugar aqui", comentou.

"Grandmaster Flash está no Hall da Fama do Rock and Roll? Run-DMC. está no Hall? É inacreditável. Não quer dizer que eles não sejam bons artistas. Mas eles não tocam guitarra. Fazem samples e falam. Nem sequer cantar eles cantam."

Mais para frente, é provável que artistas de rap se beneficiem da entrada de membros mais bem informados e mais favoráveis a eles nos comitês.

E, pelo fato de os artistas se tornarem elegíveis 25 anos após o lançamento de sua primeira gravação comercial, disse Joel Peresman, presidente da Fundação do Hall da Fama do Rock and Roll, "o hip-hop é relativamente novo para nós. Alguns artistas vão envelhecer à medida que se tornarem elegíveis."

Um partidário do hip-hop no comitê de indicações endossou essa opinião: "Alguns dos nossos estão entrando. Estamos no jogo, estamos na discussão."

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Peresman prosseguiu: "Isto daqui não é física newtoniana. É algo emocional e às vezes inquantificável."