Apresentação de “Rice” nos arrozais de Chihshang; a companhia Cloud Gate Dance Theater promove a imagem de Taiwan pelo mundo.| Foto: Liu Chen-Hsiang/

A maioria dos habitantes de Taiwan provavelmente conhece o Cloud Gate Dance Theater, importante grupo local de artes cênicas. Nas laterais de qualquer ônibus ou metrô daqui se veem imagens dos dançarinos da companhia.

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No movimentado bairro de Tamsui, é possível vislumbrar a reluzente sede da trupe, que custou US$ 22 milhões. A companhia aérea taiwanesa China Airlines tem um avião com sua parte externa decorada com alusões ao Cloud Gate. Ao apresentar a aeronave no ano passado, a empresa disse que o grupo representa “o ápice da cultura de Taiwan”.

Fundado em 1973, o Cloud Gate foi a primeira companhia de dança profissional de Taiwan. Quarenta e dois anos mais tarde, tornou-se um símbolo itinerante desta ilha. Recentemente, o grupo abriu o festival anual Next Wave, na Academia de Música do Brooklyn, com uma apresentação do espetáculo “Rice” (2013), até então inédito nos EUA. A visita foi a primeira escala em uma turnê que incluirá apresentações em Los Angeles, Washington e Paris.

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Promover a imagem de Taiwan no exterior é uma responsabilidade que o fundador, diretor artístico e coreógrafo-chefe da Cloud Gate, Lin Hwai-Min, 68, leva muito a sério.

“Por causa da situação política envolvendo a China continental, é muito difícil para os nossos líderes políticos serem ativos no exterior, por isso muita gente vê Lin não só como um artista, mas também como uma espécie de embaixador cultural de Taiwan”, disse Yatin Lin, professora de estudos da dança na Universidade Nacional de Artes de Taipé (e sem parentesco com ele).

 

Esse compromisso estava presente, por exemplo, quando o coreógrafo entrou na nova sede da companhia para assistir a um ensaio de “Rice”.

Os 22 dançarinos sapateavam, saltavam, dobravam e esticavam seus corpos numa demonstração da estética híbrida da Cloud Gate, que combina técnicas ocidentais de dança clássica com os movimentos orientais “arredondados”, oriundos das artes marciais e do tai chi.

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Depois que os dançarinos curvaram-se na saudação final, Lin trabalhou individualmente com alguns em pequenos ajustes.

Mais tarde, ele falou sobre as obrigações que considera ter com relação aos dançarinos e à sociedade. “Eu costumo lembrar aos dançarinos que, quando estão no palco, muitas vezes eles são os únicos taiwaneses que muita gente chega a ver e que são realmente rotulados como taiwaneses.”

Muita coisa mudou desde que Lin nasceu em Taiwan, em 1947. Chiang Kai-shek e o Exército Nacional Revolucionário do Kuomintang fugiram para cá em 1949 depois de perderem a guerra civil para os comunistas chineses comandados por Mao Tsé-tung. O Kuomintang governou Taiwan até 1996, quando os eleitores elegeram seu presidente pela primeira vez. Taiwan é considerada uma democracia desde então, mas a ilha continua sendo um território disputado.

Lin alimentou várias paixões antes de decidir estudar coreografia nos EUA. De volta a Taiwan, criou a Cloud Gate. O status da companhia foi crescendo junto com o da dança moderna em Taiwan. “Antes do Cloud Gate, nem existia algo como um ‘wuzhe’”, disse Ping Heng, 57, fundador e diretor-artístico do Fórum da Dança de Taipé, usando o termo que designa um dançarino.

Questionado sobre uma eventual aposentadoria, Lin admitiu que a nova sede da companhia permitirá que o grupo perpetue a “energia da Cloud Gate”, facilitando seu afastamento. Mas ele adverte: “Não quero nenhuma estátua. Sou budista. Acho que tudo é apenas ilusório, especialmente para dançarinos”.

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“Sabemos que a dança acontece, mas também que desaparece quando acontece. Tudo o que estamos criando é ar. Estamos dando um ar diferente para a sociedade, só isso.”