Astrônomos de universidades americanas lançaram no início de julho o que descreveram como um “chamado às armas” à Nasa. Para eles, a agência espacial americana deve começar o quanto antes a traçar planos para lançar na década de 2030 uma versão muito maior do Telescópio Espacial Hubble para procurar vida fora da Terra.
Esse Telescópio Espacial de Alta Definição (HDST, na sigla em inglês) seria cinco vezes maior e cem vezes mais sensível que o Hubble, com um espelho de quase 12 metros de diâmetro, e orbitaria o Sol a mais ou menos 1,6 milhão de quilômetros da Terra.
De acordo com os astrônomos, o telescópio será grande o suficiente para localizar e estudar dezenas de planetas semelhantes à Terra. Ele será capaz de discernir objetos com apenas 300 anos-luz de diâmetro —por exemplo, o núcleo de uma pequena galáxia—em qualquer parte do Universo observável.
Os argumentos em favor do HDST estão em um relatório da Associação de Universidades para Pesquisas em Astronomia (Aura, na sigla em inglês), que administra o Hubble. “Esperamos descobrir se estamos sozinhos no Universo ou não”, disse Matt Mountain, presidente da Aura.
Em 1995, a organização já havia pedido um telescópio para suceder o Hubble. O chamado foi atendido com o Telescópio Espacial James Webb, projetado para procurar as primeiras estrelas e galáxias no Universo e previsto para ser lançado em 2018.
No entanto, o custo do telescópio Webb, orçado inicialmente em 1996 em US$ 1,6 bilhão, saltou para cerca de US$ 9 bilhões, quase esgotando o orçamento da Nasa para a ciência espacial. Para evitar esse tipo de situação, os astrônomos da Aura disseram que a Nasa deve começar a pesquisar agora as tecnologias necessárias para o funcionamento de telescópios futuros.
Assim, o HDST não está destinado a ser o próximo telescópio da Nasa a ser lançado. O próximo será o Wfirst-Afta, projetado para pesquisar a misteriosa energia escura. Essa missão foi citada como prioritária em uma pesquisa feita com cientistas em 2010 e, se tudo correr bem, poderá decolar em 2024.
O HDST está ao final de uma linha instigante de pesquisas sobre exoplanetas. Graças à nave espacial Kepler, os astrônomos acreditam que 10% das estrelas de nossa galáxia contam com planetas do tamanho da Terra na chamada distância habitável, própria para água líquida e vida. Porém, os planetas que Kepler descobriu estão distantes demais —a centenas de anos-luz—para serem estudados de perto.
Já existe um foguete, o Delta IV Heavy, que poderia lançar o HDST, e o Sistema de Lançamento Espacial que a Nasa está desenvolvendo para enviar astronautas ao espaço distante seria ainda melhor.
Transportado por um foguete, o telescópio se abriria no espaço, como uma borboleta, em uma técnica que a Nasa espera ter aperfeiçoado com o telescópio Webb. Mesmo a 1,6 milhão de quilômetros da Terra, sua manutenção poderia ser feita por robôs ou até humanos.
“Seria uma insensatez não fazer o HDST”, opinou Neil deGrasse Tyson, diretor do Planetário Hayden, em Nova York. Ele observou que 1,6 milhão de quilômetros será de longe a maior distância que um humano já esteve da Terra, quebrando o recorde marcado quando os astronautas do Apollo 13 deram a volta à Lua e alcançaram uma distância de 400 mil quilômetros, em 1970.
O maior problema técnico pendente é o de suprimir o brilho de estrelas para localizar seus planetas. O Sol, por exemplo, tem brilho 10 milhões de vezes mais forte que a Terra. O telescópio espacial terá um coronógrafo interno, um disco que bloqueia a luz da estrela central, aumentando a visibilidade de um planeta obscuro, e possivelmente um bloqueador de estrelas que flutuaria quilômetros à sua frente para fazer o mesmo.
Há também a questão do custo.Mountain e seus colegas disseram que o telescópio deveria ser uma “missão principal”, como o Hubble. Isso possibilitaria um orçamento em torno de US$ 10 bilhões, equivalente ao custo do Grande Colisor de Hádrons do CERN, onde o bóson de Higgs foi descoberto três anos atrás.
Para os astrônomos, adiar o projeto não trará vantagem alguma. “A pergunta ‘Estamos sozinhos no Universo?’ não vai desaparecer”, disse Sara Seager, que comandou o comitê Aura. “E ela sempre terá um preço.”
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