Vendedor de rua na Grécia| Foto: Angelos Tzortzinis para The New York Times

Em seu salão de beleza, uma casa sofisticada com três andares em um bairro de classe média em Atenas, Doria Tsirigotis costumava cobrar 30 euros por um corte de cabelo. Mas, quando chegou a recessão, os concorrentes começaram a baixar seus preços, primeiro para 20 euros, depois para 10 euros, e mais tarde para 5 euros.

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Tsirigotis por fim baixou seus preços. Seu faturamento caiu, suas dívidas subiram e ela teve de demitir 11 de seus 13 funcionários. No mês passado, ela reduziu a escala de suas operações, mudando-se para um salão minúsculo do outro lado da rua. "Quando os preços caem tanto assim, não há como acompanhar a tendência", diz.

Embora os consumidores recebam positivamente os preços mais baixos, os economistas estão preocupados com a possibilidade de que um surto de inflação ultrabaixa em toda a zona do euro esteja prejudicando a recuperação da União Europeia.

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A inflação da zona do euro caiu a 0,5% anual em maio, ante 0,7% em abril, afastando-se ainda mais da meta de 2% ao ano que o Banco Central Europeu (BCE) considera saudável. Mesmo na Alemanha, a inflação caiu a um patamar anualizado de 0,9% em maio, o nível mais baixo em quatro anos.

A situação se tornou tão alarmante que o Banco Central não só reduziu sua principal taxa de juros pela primeira vez desde novembro de 2013 como começou a cobrar dos bancos comerciais pelo dinheiro que eles mantêm depositado na instituição —a chamada taxa negativa de juros. O objetivo é impedir que a inflação baixa se torne deflação: um mergulho descontrolado dos preços e salários.

"Com inflação baixa, é mais difícil que as dívidas caiam e o crescimento econômico retorne. Há risco de estagnação", disse Reza Moghadam, diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A deflação já incomoda quatro países europeus —Portugal, Chipre, Eslováquia e especialmente a Grécia, que sofreu uma queda de salários de 18% de 2008 para cá e onde o alto desemprego contribuiu para uma queda de preços que já dura mais de um ano.

A deflação é um perigo para a capacidade da Grécia de manter em dia o serviço de sua dívida de US$ 318 bilhões, com a redução da arrecadação tributária do governo causada pela queda dos salários e desaceleração na atividade econômica.

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A dívida da Grécia subiu a 175% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, ante 130% em 2010. Embora a inflação possa reduzir os juros que a Grécia paga sobre sua dívida, a deflação torna mais pesada a carga dos juros.

As consequências da deflação se fazem sentir em toda a economia grega. Lefteris Potamianos, veterano corretor de imóveis, estava a ponto de realizar uma das raras vendas atuais de um apartamento no centro de Atenas, no mês passado.

O preço do apartamento, que no passado chegou a um milhão de euros, seria de 400 mil euros. Mas o comprador decidiu esperar para ver se não haveria queda ainda maior. Potamianos perdeu sua comissão, e os cartórios e advogados também perderam negócios. O mesmo vale para os empreiteiros que estavam prontos para reformar o imóvel. E o governo grego deixou de recolher 70 mil euros em impostos.

Do outro lado da cidade, Nikolas Varelas, proprietário da Varelas Home Design, reduziu seus preços em 45% a 60%. Mas "as vendas continuam baixas", disse, "porque as pessoas não têm dinheiro". Para evitar demissões, Varelas reduziu os salários de seu pessoal em 40%.

Tsirigotis, a proprietária do salão de beleza, também reduziu os salários de seu pessoal e o dela própria antes de recorrer a demissões.

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O custo médio por hora da mão de obra grega caiu a 13,60 euros no ano passado, ante 17 euros em 2010. Declínios como esse deveriam tornar as exportações gregas mais competitivas. Mas os industriais afirmam que o dinheiro assim economizado foi consumido por novos impostos.

Sobre as pressões deflacionárias que enfrenta, Tsirigotis afirmou que "em um ambiente como esse, ninguém ganha".