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A Irlanda quer demolir 40 conjuntos habitacionais problemáticos até o fim de 2014. Autoridades afirmam que o país possui ao menos 1.300 conjuntos residenciais fantasma. Casas vazias em Cloonfad | Paulo Nunes dos Santos/The New York Times
A Irlanda quer demolir 40 conjuntos habitacionais problemáticos até o fim de 2014. Autoridades afirmam que o país possui ao menos 1.300 conjuntos residenciais fantasma. Casas vazias em Cloonfad| Foto: Paulo Nunes dos Santos/The New York Times

A casa que está sendo demolida aqui fazia parte de um complexo habitacional onde um menino de dois anos, provavelmente correndo atrás de um cachorro, pulou uma cerca no ano passado e se afogou em uma poça de água escondida atrás de uma dezena de casas inacabadas.

John Burke ficou impressionado com o fato de que as casas que ele estava prestes a derrubar já foram colocadas à venda por mais de 450.000 dólares cada. Ele estimou que estava prestes a esmagar 500.000 dólares em construções abandonadas.

"Não dá para fazer nada com essas casas", afirmou. "O custo para terminá-las seria alto demais. Não existe um mercado desse tipo por aqui. Não há empregos na cidade e deixá-las abandonadas é perigoso demais."

Não havia nenhum sinal mais claro da bonança econômica pela qual a Irlanda passou há uma década do que seu mercado imobiliário, que teve um crescimento impressionante nos preços e no número de construções. E nada ilustra melhor os custos e as dificuldades da recuperação pós-crise que o destino das milhares de casas que nunca ficaram prontas ou que foram feitas com material de baixo padrão.

Outros países com problemas parecidos, como a Espanha, também estão enfrentando esse problema, mas nenhum chegou ao ponto da Irlanda, que pretende demolir 40 conjuntos habitacionais até o fim de 2014 e cogita ainda mais demolições no futuro.

Porém, em um país onde, segundo estimativas do governo, ainda existem 1.300 moradias-fantasma e, possivelmente, centenas de milhares de casas novas desocupadas, o programa de demolição não faz nem cócegas no problema. Nos anos 2000, a Irlanda permitiu que as construções fossem inspecionadas com base na confiança e, como consequência, muitas pessoas pagaram caro demais por casas que correm risco de incêndio, estão afundando no solo pantanoso, ou foram construídas com alicerces problemáticos e sem sistema de drenagem.

Na cidade de Ballymahon, Debbie Cox pagou cerca de 255.000 dólares por sua casa geminada em 2005. Contudo, quando chove forte o cheiro de esgoto na frente da casa fica insuportável. Ela deu todos os móveis do jardim porque eles sempre afundavam na lama do quintal e o encanamento sempre congela no inverno, pois foi colocado muito perto da superfície.

Cox duvida que consiga vender a casa por mais de 95.000 dólares. A maioria das outras casas de seu conjunto habitacional, o Hawthorn Meadows, a cerca de duas horas de carro de Dublin, foi alugada por cerca de 500 dólares ao mês. Ela paga em torno de 1.100 dólares por mês de hipoteca.

"Não acho que a Irlanda esteja bem", afirmou recentemente. "Pelo menos não completamente. Afinal, e as outras pessoas na mesma situação que eu?"

Ao todo, o preço das casas irlandesas continua quase 50 por cento abaixo do auge, em 2007. Mas nem todas as notícias a respeito do mercado imobiliário do país são ruins. À medida que a Irlanda se torna o primeiro país da zona do euro a sair do programa de ajuda internacional nas próximas semanas, especialistas afirmam que a demanda por casas tem aumentado em Dublin.

Entretanto, a maioria das moradias-fantasma fica em condados no centro e no oeste do país, incluindo Cavan, Donegal, Roscommon e Longford, quase sempre no interior, onde as construtoras receberam incentivos fiscais para construir e onde os efeitos da crise econômica ainda são óbvios. As ruas principais dos vilarejos estão repletas de lojas vazias e as autoridades locais continuam frustradas.

O Instituto Nacional de Análise Regional e Espacial da Universidade Nacional da Irlanda, em Maynooth, concluiu em 2010 que havia mais de 300.000 casas novas vazias na Irlanda, além de 621 conjuntos habitacionais com mais de 12 casas desocupadas ou inacabadas.

Especialistas afirmam que alguns donos de casas de baixo padrão podem parar de pagar as hipotecas, causando ainda mais problemas aos bancos irlandeses. O número de pessoas que deixaram de pagar continuou a crescer no último trimestre, chegando a 99.189, de acordo com dados do Banco Central Irlandês.

Enquanto isso, Cox e o marido afirmam que se sentem abandonados e ainda não sabem qual será o próximo passo. "Foi uma frustração muito grande", afirmou. "A casa que estava em exposição era linda".

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