Em Darfur, as forças de paz da ONU teriam acobertado provas de ataques do governo contra civis.
No norte do Mali, ataques contra os “capacetes azuis” mataram 42 soldados internacionais nos últimos dois anos, dificultando a entrega de suprimentos aos quartéis das forças de paz.
Na República Centro-Africana, as forças de paz enfrentam repetidas acusações de abusos sexuais.
Passados 70 anos da fundação da Organização das Nações Unidas, as operações de paz estão maiores e mais caras do que nunca —e enfrentam uma crise de identidade.
Desde a dura reflexão que se seguiu aos genocídios de Ruanda e Srebrenica, que a ONU foi incapaz de evitar há 20 anos, não havia tanta polêmica envolvendo as forças de paz. Os principais dirigentes e doadores da organização se perguntam o que as operações de manutenção de paz estão conquistando e como é possível fazê-las funcionar em algumas das piores zonas de guerra do mundo, onde não há paz alguma para manter.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, propôs em um relatório divulgado neste mês uma série de mudanças para reformar as operações de paz, pedindo que as potências mundiais se empenhem mais na resolução diplomática de conflitos e prometendo tornar as operações “mais rápidas, mais reativas e mais responsáveis perante os países e pessoas em conflito”.
Ban disse que os conflitos estão se multiplicando mais rapidamente do que a capacidade da ONU de lidar com eles. “Não temos muitas oportunidades de reformar as operações de paz da ONU de forma tão abrangente”, admitiu. “É essencial agirmos de forma urgente e coletiva.”
O governo dos EUA, que arca com mais de um quarto do orçamento das operações de paz, que é de US$ 8,27 bilhões, tem pressionado outros países a dedicarem mais contingentes militares às missões. “A ONU está obrigada a trabalhar com o que tem”, disse uma autoridade dos EUA.
A maior parte das tropas de paz vem de nações em desenvolvimento; os países do sul da Ásia, junto com Etiópia e Ruanda, são os principais contribuintes. Há crescentes tensões entre esses países que cedem militares, os quais se veem tratados como bucha de canhão, e os membros permanentes do Conselho de Segurança, que lhes dizem o que fazer.
As atuais operações de manutenção de paz nada têm a ver com o que eram há 70 anos, quando a ONU enviava um punhado de observadores militares, geralmente desarmados, para monitorar algum cessar-fogo. Hoje, há cerca de 124 mil soldados e policiais mobilizados em 16 missões de paz, inclusive em países devastados por conflitos étnicos, como a República Centro-Africana, e por grupos terroristas, como o Mali.
Em alguns lugares, a ONU faz questão de salientar que a presença das forças de paz está salvando vidas. Em outros, no entanto, os participantes das missões agem de forma predatória ou no mínimo ineficaz.
Geralmente, a mobilização da ONU demora muitos meses. Além disso, seus soldados muitas vezes carecem de ferramentas básicas, de walkie-talkies a veículos blindados. Eles têm sua atuação tolhida por governos hostis e são criticados por não fazerem o suficiente para proteger os civis, o que é a sua obrigação.
Consertar esse sistema não será fácil e, como o mandato de Ban termina no ano que vem, as decisões mais difíceis precisarão ser tomadas por seu sucessor.
Richard Gowan, pesquisador do Conselho Europeu de Relações Exteriores, disse que “há pouquíssimos bons frutos que Ban Ki-moon esteja em condições de apanhar”.
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