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Andrew Schmeder fez parte da equipe que desenvolveu os óculos EnChroma | Jason Henry/ The New York Tim
Andrew Schmeder fez parte da equipe que desenvolveu os óculos EnChroma| Foto: Jason Henry/ The New York Tim

As lentes que Don McPherson inventou se destinavam a cirurgiões. Porém, por mero acaso, ele encontrou outra utilidade para elas: um possível tratamento para o daltonismo.

McPherson é um cientista do vidro. Ele descobriu que as lentes que tinha inventado, para proteger os olhos dos cirurgiões de raios laser e ajudá-los a diferenciar tecido humano, faziam o mundo parecer mais colorido —incluindo um campo de Frisbee.

Em 2002, quando estava em um campo gramado salpicado de cones amarelos, ele emprestou um par de óculos a um amigo que era daltônico. “Ele disse algo como: ‘Cara, isto é incrível!’”, relatou McPherson. “Ele disse: ‘Estou vendo cones amarelos. Eu nunca os tinha visto’.”

McPherson sentiu-se obrigado a descobrir por que as lentes tinham esse efeito e foi estudar o daltonismo e refinar a tecnologia das lentes. Então fundou uma empresa chamada EnChroma, que hoje vende óculos para pessoas daltônicas. Ele trabalhou com cientistas da visão e um matemático chamado Andrew Schmeder.

O daltonismo ocorre quando as células da retina, que permitem que o cérebro perceba a cor, são anormais. A definição mais comum afeta os cones vermelhos ou verdes, dificultando a distinção dessas cores; anomalias nos cones azuis também existem. O daltonismo total, em que uma pessoa só enxerga preto e branco, é raro.

McPherson e Schmeder se ligaram a Tony Dykes, diretor de desenvolvimento de empresas, e fundaram a EnChroma.

Em 2012, eles lançaram os óculos, vendendo-os on-line por US$ 700. “Não era um produto muito popular”, disse Dykes.

Os fundadores então contrataram um fabricante que conseguiu baratear o custo de produção e também foi capaz de modificar a aplicação dos filtros para que as lentes pudessem ser usadas em óculos de grau.

Em dezembro, eles lançaram os novos óculos por US$ 330 a US$ 430.

Recentemente, uma companhia de tintas quis financiar uma campanha publicitária com os óculos.

A ideia era apresentar a cor aos daltônicos. Com esse fim, foram feitos vídeos de pessoas usando os óculos EnChroma pela primeira vez, enquanto olhavam coisas como o pôr-do-sol, obras de arte coloridas e, é claro, amostras de tinta.

A campanha provocou uma tendência: os clientes da EnChroma começaram a compartilhar suas experiências on-line.

Bob Balcom, 60, professor aposentado, postou seu primeiro vídeo no YouTube em março. Filmado por sua mulher, ele mostra Balcom olhando para o céu em silêncio durante vários segundos. “O céu azul é mais profundo do que eu jamais vi”, diz ele. Lágrimas escorrem por seu rosto e pela barba grisalha.

Dykes dá crédito à campanha de vídeos por ajudar a superar “a resistência inerente que as pessoas tinham a algo que não podiam entender muito bem”.

No entanto, segundo Jay Neitz, cientista da visão e professor de oftalmologia na Universidade de Washington, esses óculos e os outros que os antecederam não se baseiam em ciência sólida.

“As pessoas que não conseguem enxergar vermelho e verde são facilmente vitimizadas, assim como muitos outros exemplos de condições incuráveis”, escreveu Neitz em um e-mail, acrescentando que os óculos “não podem ‘curar’ o daltonismo ou ajudar muito os daltônicos, exceto em algumas circunstâncias especiais”.

Dykes respondeu que os óculos não pretendem ser uma cura, do mesmo modo que óculos de leitura não curam a miopia. Ele disse que a empresa tem uma política de restituição em 30 dias. “Funciona em alguns casos, e em outros não”, disse ele. “Não é uma cura mágica ou uma trapaça.”

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