Alguns invernos atrás, Guus van Leeuwen, na época estudante de design industrial, estava na Suécia com sua namorada, andando num trenó puxado por cavalos. Envoltos em peles de rena, os dois observavam o vapor emanando dos corpos dos animais à sua frente, que transpiravam.
Quando retornou à Holanda, Van Leeuwen dobrou varas metálicas para formar esculturas de animais em tamanho natural. Cobriu as estruturas com peles e as apresentou como seu trabalho de graduação na Academia Eindhoven de Design. Faziam parte do grupo um cervo, um carneiro e uma raposa ártica, e cada um dos animais era um aquecedor.
Van Leeuwen enxerga poesia em aquecedores domésticos. Seus radiadores da linha Animais Domésticos, que ele vende em versão elétrica por entre US$ 7.700 e US$ 11.600 (o valor não inclui o frete), lembram os tempos em que a lareira era o lugar central da casa e os animais domésticos eram bem-vindos no meio da família.
Mas Van Leeuwen não é o único designer europeu a recriar radiadores como esculturas. Seus pares europeus já criaram dezenas de trabalhos que provocam comentários. A empresa italiana de radiadores Hotech tem uma coleção com nomes como Chagall e Fabergé. Seu modelo David é um torso masculino musculoso.
Nos Estados Unidos, os aparelhos de aquecimento não são tão imaginativos. O radiador americano típico tem o formato de uma faixa discreta que acompanha o rodapé ou de um retângulo ondulado preso à parede.
Por que os aquecedores americanos são tão convencionais?
Uma razão é que os Estados Unidos não é tão afeito a radiadores quanto são outros países. O americano Richard Trethewey, especialista em aquecimento e encanação, disse que, enquanto 99% das casas europeias são aquecidas com água quente, o mesmo se dá com apenas 6% a 11% dos lares americanos. Em vez de água quente, a maioria dos americanos aquece suas casas com ar quente que é circulado por dutos e expelido por registros situados nas paredes.
Mesmo que um radiador seja uma grade elegante de aço (como é o caso do modelo Trame, criado por Stefano Giovannoni para a empresa italiana Tubes), a maioria dos americanos não quer abrir espaço em suas paredes para ele.
O designer industrial nova-iorquino Karim Rashid acha que os radiadores ocupam uma zona de objetos utilitários relegados ao descaso, "primos" das tomadas e dos interruptores de luz.
Pelo fato de o público americano ter expectativas tão baixas, Rashid pôde criar uma sensação com "Totally Rad", exposição de radiadores de vanguarda promovida pelo Museu de Artes e Design, em Manhattan, em 2009, da qual ele foi o curador.
Houve radiadores que faziam as vezes de espelhos ou que pareciam gramíneas prateadas movendo-se no vento.
Mas o estilo e a beleza custam caro, por exigir a fabricação manual, e o público para isso é reduzido, mesmo na Europa. O designer David Carter, de Londres, aprecia o radiador Heatwave, um belo floreio barroco lançado em 2003 por Joris Laarman, da Holanda. Mas o radiador custa entre US$ 5.000 e US$ 14 mil.
"Eu gostaria de ter alguns desses flutuando pela sala, como nuvens", comentou.
Em sua casa?
"De jeito nenhum", ele respondeu. "Não tenho cacife para isso."