A pequena Opelika estava prestes a conhecer o prefeito. Ela esperou. Remexeu-se. E então latiu.
Depois, foi levada para a cadeia.
Opelika é parte do Programa Científico do Desempenho Canino, da Universidade Auburn, que cria e treina cães para que eles usem seu poderoso olfato a fim de proteger pessoas. Após um ano de preparação, Opelika provavelmente será entregue a algum órgão público ou empresa privada de segurança para farejar bombas, narcóticos ou outras ameaças.
Os cães, principalmente os labradores —raça escolhida por sua sociabilidade e resistência física—, saem das prisões “mentalmente mais maduros”, disse Jeanne Brock, instrutora na Auburn.
Durante muitos anos, os cães de Auburn foram treinados para encontrar bombas caseiras. Esse foco mudou há cerca de oito anos, quando os cientistas receberam um novo desafio: como detectar uma bomba ambulante, levada por um possível homem-bomba.
Qual seria a forma mais eficaz de cães patrulharem áreas movimentadas? Diante dessa pergunta, Paul Waggoner e seus colegas encontraram a resposta na obra de Gary Settles, da Universidade Estadual da Pensilvânia, autor de uma pesquisa que demonstrou a existência de uma “nuvem” térmica que emana do organismo humano, contendo partículas gasosas.
A maioria dessas partículas, incluindo os vestígios de suor e perfume, é benigna, mas a nuvem também pode revelar o contato com materiais perigosos, como os que são usados em bombas. Assim, em vez de inspecionarem cada indivíduo, os cães podem rastrear a “turbulência aerodinâmica humana” que acompanha as pessoas, alertando o seu cuidador.Waggoner já começou a fazer experimentos com alvos ainda mais discretos, como agentes patogênicos.
Ninguém sabe exatamente por que os cães têm faro tão afiado. Porém, Waggoner e outros dizem que o olfato pode ser “o sentido mais ‘preservado’ —e provavelmente o mais antigo”. Os olhos e ouvidos dos cães permanecem fechados durante cerca de duas semanas após o nascimento, segundo Waggoner, mas “os filhotes já saem farejando, que é como eles interagem e se deslocam pelo mundo”. De acordo com a maioria das estimativas, os cães têm 40 vezes mais receptores olfativos que as pessoas.
O mais surpreendente, contudo, talvez não seja o fato de os cães serem capazes de detectar odores com concentração da ordem de partes por trilhão, e sim que possam diferenciar tantos aromas.
Os adestradores de Auburn sabem que os cães precisam ser continuamente recompensados quando alertam sobre a detecção de um odor procurado. Mas, até recentemente, os cientistas podiam apenas especular sobre a atividade cerebral canina que levava a esse impulso tão intenso.
Esse quadro está se tornando mais claro graças a um projeto de neurociência. Nesse estudo, Gopikrishna Deshpande, Waggoner e os outros estão usando exames de ressonância magnética funcional para entender melhor o que acontece no cérebro de um cão quando o animal é apresentado a odores e a fotos e vídeos de rostos humanos.
Segundo Deshpande, os dados iniciais revelaram que cães confrontados com um odor conhecido apresentavam maior atividade em duas áreas cerebrais: o hipocampo, onde as memórias são armazenadas, e o núcleo caudado, que está associado aos sentimentos.
Eles também estão examinando o funcionamento da chamada rede em modo padrão. Quanto mais integrada está a rede com o resto do cérebro, maior é a probabilidade do “pensamento referencial”, um fundamento necessário para estados emocionais sofisticados.
É amplamente aceito que o primeiro ano de vida de um animal é vital para o processo de cunhagem. No caso dos cães de Auburn, é a época em que eles devem compreender a relação rigorosa, mas de confiança, que terão de estabelecer com seus futuros tratadores.
Originalmente, a equipe de Auburn confiou os filhotes aos cuidados de famílias locais, relatou James Floyd, ex-diretor do programa. Apesar das orientações precisas aos voluntários para não mimarem os cães, “você ia visitá-los para ver como estavam e os encontrava refestelados no sofá, vendo TV e comendo batata frita”.Cerca de 80% deles não atingiam os rigorosos padrões exigidos.
Sabendo que animais de serviço já haviam sido adestrados com sucesso em prisões, os coordenadores do programa decidiram em 2004 levar alguns cães para a Instalação Correcional do Condado de Bay, na Flórida. O índice de reprovação caiu rapidamente.
Atualmente a Universidade Auburn trabalha com cinco penitenciárias da Flórida e Geórgia.
Grady Perry, ex-diretor de uma penitenciária na Geórgia, disse que a experiência pode influenciar positivamente os presos escolhidos para acompanharem os cães. “Para eles, trata-se de uma oportunidade de serem não apenas adultos responsáveis, mas cidadãos responsáveis”, afirmou.
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