Nas últimas duas décadas, cientistas na China divulgaram descobertas surpreendentes de dinossauros uma após a outra, o suficiente para reescrever livros e até mesmo impressionar crianças fanáticas por essas espécies. Algumas das menores criaturas recém-descobertas apresentavam penas, o que fez os especialistas mudarem sua opinião sobre a origem das aves.
Agora, a descoberta de fósseis de 160 milhões anos no nordeste da China, descrita no periódico Nature no mês passado, chama a atenção para uma espécie de dinossauro que pode ter tentado voar com asas sem penas.
Os fósseis pertenciam a uma espécie até então desconhecida de um obscuro grupo de pequenos dinossauros, relacionado às aves primitivas, tais como o famoso Archaeopteryx. Ele possuía penas, mas elas não pareciam fundamentais para o voo. Em seguida, os cientistas disseram ter descoberto um osso raro e longo, em forma de bastão, saindo de cada um dos dois punhos: estruturas curvas possivelmente apoiavam uma membrana aerodinâmica.
Pedaços do tecido da membrana foram detectados ao longo do suporte do osso. Os cientistas concluíram que seu espécime deve ter tido asas semelhantes às dos morcegos ou esquilos voadores.
A equipe de pesquisa, liderada por Xu Xing do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia de Pequim e Zheng Xianoting da Universidade Linyi, na província de Shandong, batizaram o espécime de Yi qi (pronuncia-se “ee chee”), que significa “asa estranha” em mandarim.
“Nenhum outro pássaro ou dinossauro tem uma asa assim. Não sabemos se o Yi qi batia as asas ou planava, ou ambos, mas definitivamente desenvolveu uma asa que é única no contexto da transição de dinossauros para pássaros”, disse Xu em um comunicado.
O Yi qi pertence a um grupo de dinossauros carnívoros encontrados até agora apenas na China, e as poucas espécies relacionadas não tinham uma capacidade de voo aparente.
Em um comentário em Nature, Kevin Padian, paleontólogo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que o exame dos fósseis, encontrados por um agricultor na província de Hebei, havia sido meticuloso “para ter certeza que nenhum dos elementos foi falsificado ou restaurado.”
Ele disse que não há evidência provando que o Yi qi pudesse voar. A preservação da membrana da asa estava incompleta, e não é possível ter certeza da configuração do equipamento de suporte da asa.
Além disso, a maior parte do corpo do dinossauro, abaixo da caixa torácica, está faltando. Isso deixa sem resposta a questão importante sobre se a cauda do animal oferecia impulso ou se era arrastada em uma espécie de voo. Outras descobertas terão que ser feitas.
“Temos um dilema,” concluiu Padian. Esse dinossauro tem uma estrutura de asa estranha, ele disse, “que parece ter sido usada para voar, presente em um animal que aparentemente não possuía tais tendências”. E, até agora, ele continuou, “não há nenhuma outra explicação possível para a função desta estrutura”.
Zheng, autor do artigo no periódico, notou que o Yi qi viveu no período Jurássico, em meados da Era dos dinossauros, e foi dos primeiros na evolução do voo das aves. “Isso nos mostra que o início da história do voo foi cheio de inovações, e nem todas sobreviveram.”
