A junta militar que assumiu o poder na Tailândia, há quatro meses, vem usando a lei marcial e a repressão aos seus críticos para conter os ânimos em um país politicamente dividido.
Já para lidar com a frágil economia, as dificuldades são outras.
A dívida interna tailandesa já bate recordes, as exportações não crescem, o número de turistas está bem abaixo do volume do ano passado e os especialistas calculam, baseados nos baixos níveis nas represas de todo o país, uma seca sem precedentes. O banco central já previu um crescimento de 1,5 por cento para 2014.
Para os milhões de produtores de arroz, a dívida e a falta dágua são dois golpes fatais. Em setembro, as autoridades locais pediram a Ampai Chaito e outros agricultores aqui da província de Chiang Mai, no norte, que abandonassem os planos de fazer uma segunda semeadura este ano porque a água na represa próxima estava no nível mais baixo dos últimos dez anos. Ampai agora teme não poder pagar os US$6 mil que pediu ao banco no ano passado, nem pagar a faculdade do filho.
"Talvez ele nem consiga se formar. É muito inteligente, mas tem mãe pobre", lamenta ela.
Para piorar as previsões econômicas desfavoráveis, o crescimento da China, sua grande parceira comercial, está desacelerando e isso enfraquece a demanda pelos dois produtos que lideram as exportações da Tailândia: hard drives de computador e carros.
Em um país cujo setor agrícola é representado por sete milhões de famílias, a falta de água vai afetar o segmento mais pobre da população.
Kuakoon Manasumphunsakul, técnico do Departamento de Irrigação da província de Chiang Mai, diz que o fluxo de escoamento nos reservatórios está à metade da média histórica por causa do baixo número de chuvas fortes durante a estação das monções, que já está quase no fim.
Nipon Poapongsakorn, do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Tailândia, diz que o problema foi agravado pela decisão do governo anterior de liberar água em excesso dos reservatórios nos últimos dois anos, justamente para evitar as enchentes fatais de 2011.
Agora a perspectiva de estiagem já está levando ao que Kuakoon chama de "guerras de água" entre os hotéis e moradores das cidades, as fábricas das regiões industriais e os agricultores no interior.
"Se não liberarem, nós vamos protestar. Estão transferindo água demais para a cidade", Ampai reclama.
O banco central já diz que a dívida dos produtores rurais está entre os níveis mais altos.
O total da dívida interna dobrou nos últimos quatro anos e já chegou a 10 trilhões de baht, ou US$306 bilhões, no segundo trimestre deste ano, o equivalente a quase 80 por cento do PIB do país, um dos maiores da Ásia.
Amara Sriphayak, que recentemente se aposentou do cargo de diretor assistente do banco central, alertou que a dívida pode causar "um declínio drástico no poder de compra" e gerar riscos à estabilidade financeira do país.
Warisara Suramonthaweekit, que tem uma loja de penhores perto de Chiang Mai, diz: "O pessoal tinha muita vergonha de vir me ver, mas agora tenho clientes de todos os tipos".
Os períodos de intenso movimento nesse tipo de loja incluem o início do ano letivo quando os pais precisam de dinheiro para o material escolar e a mensalidade e a temporada de plantio, quando os agricultores compram sementes e outros materiais. Em outra loja de penhores, há pouco tempo, Yutthana Rodchaem, mecânico da Força Aérea, deixou um colar de ouro pelo equivalente a US$500 para ajudar a pagar a faculdade da filha.
"Sou servidor público e tenho quatro filhos. Está tudo muito caro hoje em dia", filosofa ele.