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dinheiro e negócios

Dívidas de mais, água de menos

Em algumas áreas da Tailândia, os cultivadores de arroz tiveram que cancelar seus planos de uma segunda semeadura anual por causa da falta de água | Adam Ferguson para The New York Times
Em algumas áreas da Tailândia, os cultivadores de arroz tiveram que cancelar seus planos de uma segunda semeadura anual por causa da falta de água (Foto: Adam Ferguson para The New York Times)

A junta militar que assumiu o poder na Tailândia, há quatro meses, vem usando a lei marcial e a repressão aos seus críticos para conter os ânimos em um país politicamente dividido.

Já para lidar com a frágil economia, as dificuldades são outras.

A dívida interna tailandesa já bate recordes, as exportações não crescem, o número de turistas está bem abaixo do volume do ano passado e os especialistas calculam, baseados nos baixos níveis nas represas de todo o país, uma seca sem precedentes. O banco central já previu um crescimento de 1,5 por cento para 2014.

Para os milhões de produtores de arroz, a dívida e a falta d’água são dois golpes fatais. Em setembro, as autoridades locais pediram a Ampai Chaito e outros agricultores aqui da província de Chiang Mai, no norte, que abandonassem os planos de fazer uma segunda semeadura este ano porque a água na represa próxima estava no nível mais baixo dos últimos dez anos. Ampai agora teme não poder pagar os US$6 mil que pediu ao banco no ano passado, nem pagar a faculdade do filho.

"Talvez ele nem consiga se formar. É muito inteligente, mas tem mãe pobre", lamenta ela.

Para piorar as previsões econômicas desfavoráveis, o crescimento da China, sua grande parceira comercial, está desacelerando e isso enfraquece a demanda pelos dois produtos que lideram as exportações da Tailândia: hard drives de computador e carros.

Em um país cujo setor agrícola é representado por sete milhões de famílias, a falta de água vai afetar o segmento mais pobre da população.

Kuakoon Manasumphunsakul, técnico do Departamento de Irrigação da província de Chiang Mai, diz que o fluxo de escoamento nos reservatórios está à metade da média histórica por causa do baixo número de chuvas fortes durante a estação das monções, que já está quase no fim.

Nipon Poapongsakorn, do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Tailândia, diz que o problema foi agravado pela decisão do governo anterior de liberar água em excesso dos reservatórios nos últimos dois anos, justamente para evitar as enchentes fatais de 2011.

Agora a perspectiva de estiagem já está levando ao que Kuakoon chama de "guerras de água" entre os hotéis e moradores das cidades, as fábricas das regiões industriais e os agricultores no interior.

"Se não liberarem, nós vamos protestar. Estão transferindo água demais para a cidade", Ampai reclama.

O banco central já diz que a dívida dos produtores rurais está entre os níveis mais altos.

O total da dívida interna dobrou nos últimos quatro anos e já chegou a 10 trilhões de baht, ou US$306 bilhões, no segundo trimestre deste ano, o equivalente a quase 80 por cento do PIB do país, um dos maiores da Ásia.

Amara Sriphayak, que recentemente se aposentou do cargo de diretor assistente do banco central, alertou que a dívida pode causar "um declínio drástico no poder de compra" e gerar riscos à estabilidade financeira do país.

Warisara Suramonthaweekit, que tem uma loja de penhores perto de Chiang Mai, diz: "O pessoal tinha muita vergonha de vir me ver, mas agora tenho clientes ‘de todos os tipos’".

Os períodos de intenso movimento nesse tipo de loja incluem o início do ano letivo – quando os pais precisam de dinheiro para o material escolar e a mensalidade – e a temporada de plantio, quando os agricultores compram sementes e outros materiais. Em outra loja de penhores, há pouco tempo, Yutthana Rodchaem, mecânico da Força Aérea, deixou um colar de ouro pelo equivalente a US$500 para ajudar a pagar a faculdade da filha.

"Sou servidor público e tenho quatro filhos. Está tudo muito caro hoje em dia", filosofa ele.

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