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Crônicas dos EUA

Do trabalho no campo para a vida de administrador de fazenda

Arturo Flores, de 50 anos, à direita, começou de baixo, cortando flores aos 15 anos. Agora ele dirige uma empresa de distribuição de flores | Jim Wilson/The New York Times
Arturo Flores, de 50 anos, à direita, começou de baixo, cortando flores aos 15 anos. Agora ele dirige uma empresa de distribuição de flores (Foto: Jim Wilson/The New York Times)

Quando tinha 15 anos, a vida de Arturo Flores mudou completamente graças a um afluxo de imigração em uma fazenda de flores japonesa.

Os proprietários precisavam de um novo grupo de trabalhadores para substituir os que foram levados por funcionários da imigração, e Flores conseguiu um emprego no corte de flores. Aos poucos, foi sendo promovido para o setor de embalagem e de entrega. Em meados da década de 80, foi contatado por dois empresários que queriam começar seu próprio cultivo de flores. Pediram-lhe que gerenciasse as entregas e a distribuição. Hoje, Flores, com 50 anos, é presidente da Central California Flower Growers (Cultivadores de Flores do Centro da Califórnia) em Watsonville, distribuidor no condado de Santa Cruz que vende mais de 100 variedades de plantas.

Enquanto o número total de fazendas nos Estados Unidos diminuiu quatro por cento entre 2007 e 2012, o número de propriedades geridas por hispânicos aumentou 21 por cento, de 55.570 para 67.000. Os números mostram um pequeno, mas consistente padrão de crescimento no agronegócio entre os latinos, muitos dos quais trocaram o trabalho no campo pelo do escritório.

Muitos deles, como Flores, emigraram do México nas décadas de 70 e 80. Todos têm histórias clássicas de garra, determinação e um pouco de sorte. Alguns são proprietários das terras que cultivam, outros são arrendatários. Muitos empregam mexicanos cuja linguagem e funções compreendem intimamente.

Salvador Vasquez, de 56 anos, dono da Vas Vision Berry Farms, veio do México quando tinha 11. Ele disse que sua capacidade de se comunicar em inglês e espanhol com os trabalhadores e os supervisores das fazendas em Watsonville ajudou-o a ser promovido de selecionador de frutas para supervisor.

Mas não foi fácil. Em 1989, Vasquez trabalhava como supervisor durante o dia e nos campos à noite. "Se dormia nove horas em cinco dias era muito", recorda-se ele.

Nos anos 90, supervisionou mais de 2.500 empregados e, em 2000, já era sócio do negócio. "É preciso trabalhar duro pelo sonho americano, mas é possível", ele disse.

Sergio Silva, de 53 anos, é CEO do Rancho Espinoza em Salinas, na Califórnia, empresa que planta e distribui bulbos de copo-de-leite. Silva, cujos pais obtiveram o green card após terem trabalhado um período na agricultura do Estado, vieram do México quando ele tinha 13 anos. Ele largou os estudos e foi trabalhar no Vale de Salinas, "fazendo qualquer tipo de trabalho", contou.

Aos 22 anos, Silva conseguiu um emprego em uma empresa agrícola onde verduras eram primeiramente plantadas no coberto e depois transplantadas para os campos. Foi progredindo de semeador para operador de máquinas e para supervisor. Em 1994, investiu US$ 15.000 de sua poupança para comprar ações da empresa, e hoje é seu presidente.

Agora, ele e seu sócio, Adrian Espinoza, de 36 anos, que é de uma primeira geração de mexicanos-americanos, investiram US$ 1.4 milhão de seu próprio bolso na empresa de flores.

Alguns hispânicos de segunda e terceira geração que entram para a indústria possuem formação universitária em administração ou agronomia. Espinoza se formou em botânica pela Universidade Estadual da Califórnia, em Fresno.

Talvez por causa de suas próprias origens, muitos agricultores orgulham-se de tratar bem seus trabalhadores. Flores disse estar procurando planos de aposentadoria para seus funcionários. Ele mostrou uma cantina que possui um altar com símbolos da Igreja Católica como a Virgem Maria, além de cafeteiras e uma grelha ainda com a gordura da carne que havia sido preparada naquele dia.

Grande parte do crescimento das fazendas tocadas por hispânicos são de pequeno ou médio porte. Algumas apostam na popularidade dos produtos orgânicos.

Francisco Serrano, de 52 anos, está arrendando quatro hectares de uma organização sem fins lucrativos chamada Agriculture and Land-Based Training Association (Associação de Treinamento em Agricultura e Cuidados com a Terra), que ensina agricultura orgânica principalmente a hispânicos.

Serrano arrenda a terra porque é mais barato. Um hectare aqui pode custar US$100.000. Ele disse que a recessão complicou os planos dos agricultores latino-americanos que conhecia, alguns chegando até a perder suas casas e a terra. Por outro lado, agricultores como Silva acreditam que investir na terra compensa.

Agora, Silva obteve uma linha de crédito para comprar mais 4.15 hectares e estufas no valor de $ 1.3 milhão. Em uma tarde recente, havia um buquê de copo-de-leite em sua mesa. Ele disse: "Rezo fervorosamente para que isso dê certo".

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