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Em declínio, Roma perde a fé no prefeito

Muitos romanos acham que o prefeito Ignazio Marino, acima, é honesto, mas não consegue governar a cidade | Nadia Shira Cohen/The New York Times
Muitos romanos acham que o prefeito Ignazio Marino, acima, é honesto, mas não consegue governar a cidade (Foto: Nadia Shira Cohen/The New York Times)

A grama de algumas praças públicas está quase na altura do joelho; os funcionários do metrô, insatisfeitos, trabalham lentos, em uma verdadeira “operação tartaruga”; um incêndio deixou o maior aeroporto da cidade abarrotado e caótico. Crescem as prisões de funcionários públicos, revelando a infiltração da máfia no governo municipal.

Todos esses são detalhes que agravam o que os romanos chamam de “degrado”: a degradação dos serviços, prédios e padrão de vida e a sensação de que, mais do que nunca, a cidade está aos pedaços.

Não que todos os problemas sejam necessariamente culpa do prefeito Ignazio Marino, ex-cirurgião cuja integridade se mantém ilibada – mas para a cidade, sua retidão tampouco é vista como parte da solução.

Nascido em Gênova e educado nos EUA, Marino assumiu a prefeitura em 2013 como líder atípico de uma cidade famosa por suas intrigas políticas. A princípio, seu currículo fora dos padrões atraiu os romanos, que torciam para que um cidadão honesto a limpasse de vez.

Hoje, ele se vê vítima de um cerco político. “Sua virtude é também seu principal problema: como não está ligado ao lado podre da administração de Roma, conhece muito pouco do mundo em que vive”, afirma Carlo Bonini, jornalista investigativo do jornal La Repubblica.

Os problemas se acumulam e a população, frustrada, não para de reclamar da má qualidade dos serviços prestados a aproximadamente 2,8 milhões de habitantes. De uns meses para cá, o primeiro-ministro Matteo Renzi também vem se mostrando preocupado, reforçando as especulações de que o prefeito seja forçado a renunciar.

Talvez o mais prejudicial a Marino tenha sido a investigação “Mafia Capitale”, que expôs licitações irregulares para as contratações municipais. E embora a corrupção já grassasse antes de sua chegada ao cargo, ele foi criticado por reagir de forma lenta e pouco incisiva.

A investigação dos contratos ilícitos das empresas de manutenção dos parques fez com que o prefeito suspendesse seu trabalho, deixando os espaços públicos sem tratamento; sua ordem para impedir que os camelôs trabalhem perto de locais históricos gerou protestos dos vendedores informais. A imprensa local o critica por estar mais interessado na audiência estrangeira do que nos problemas municipais. E quando o escândalo do crime estourou, sua popularidade já tinha naufragado.

Uma pesquisa recente publicada pelo La Republica mostra que a maioria dos romanos o considera muito fraco.

Marino alega que foi prejudicado pelas intrigas arraigadas na prefeitura.

“Marino é um vaso de cerâmica em meio a potes de ferro, mas já provou ser persistente e honesto”, diz Alfonso Sabella, juiz anti-máfia convocado pelo prefeito para integrar a administração depois que o escândalo estourou.

E acrescenta: “Gostaria de saber onde estavam todos os que o criticam quando esses crimes forma cometidos”.

Mesmo assim, os moradores se frustram com a falta de iniciativa de Marino.

“Marino parece um marciano em Roma; a princípio é fascinante, mas uma hora cansa. A cidade está em ruínas. Se começar a agir agora, tanto ele quanto a prefeitura podem sair fortalecidos”, prevê o comentarista político Marco Damilano.

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