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Embora os jovens cubanos se mostrem receptivos às mudanças, sabem que elas serão lentas; jogo de basquete informal | Meridith Kohut/The New York Times
Embora os jovens cubanos se mostrem receptivos às mudanças, sabem que elas serão lentas; jogo de basquete informal| Foto: Meridith Kohut/The New York Times

Espremida entre um canteiro de obras e o que restou de uma série de casas coloniais grandiosas, acontece uma partida de basquete, e muitos moradores do bairro saíram para as ruas acumuladas de sujeira, atraídos pelo entretenimento.

Ali não há muita coisa: só o chão de concreto, esburacado, uma tabela descascada e um pedaço de metal retorcido fazendo as vezes de aro, mas, em termos de diversão, o preço era compatível: ninguém pagou um centavo para acompanhar o jogo.

E esse, para muitos “membros do público”, é exatamente o problema.

Enquanto a imprensa alardeia a nova embaixada norte-americana, reaberta depois de mais de 50 anos, os jovens cubanos praticamente não comentam as muitas mudanças em andamento no país.

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“Mudança? Minha vida não vai mudar. Olha só onde a gente mora, onde tem que jogar”, dispara Yunior Rodriguez Soto, 17 anos, apontando para as traves do gol do campinho de futebol, tortas e amassadas.

Para ele, a mudança virá apesar do governo, e não por causa dele.

“Não vão permitir que elas aconteçam. É assim que são”, diz, referindo-se às autoridades.

Muito vem se falando das transformações históricas que ocorrem em Cuba, onde o governo está se esforçando para abrir a economia fragilizada para os mercados mundiais e restabelecer relações com os EUA. Para muitos é um sinal de esperança e de nova prosperidade.

Entretanto, o clima é de cinismo entre os mais jovens, que consideram os ideais da revolução de Fidel Castro tão ultrapassados quanto os carros que transitam nas ruas de Havana. Intrínsecos à vida na ilha, hoje eles não passam de relíquias de uma era ultrapassada, inexistentes nas necessidades econômicas que os forçam a uma fuga em massa.

Esse êxodo agrava o problema demográfico que dificulta a recuperação econômica: ao contrário de muitas nações em desenvolvimento, com grandes populações jovens, Cuba se parece mais com as comunidades envelhecidas do norte da Europa e Japão, sociedades que enfrentam problemas para custear seus idosos pela falta de jovens para gerar renda. Quase vinte por cento da população cubana têm mais de 60 anos, a mais velha da América Latina.

E embora os jovens que permaneçam no país recebam bem a abertura política e a reforma econômica, sabem que suas consequências não devem afetar sua vida tão cedo: as transformações serão lentas, equilibradas entre o desejo de prosperidade e a determinação da liderança em manter o controle.

Mesmo com sinais de mudança em Cuba, como novas casas noturnas e restaurantes, a vida de muita gente praticamente não melhorou.

Segundo os analistas, o foco da mudança econômica é parte da estratégia para convencer os jovens a ficar, substituindo um setor público inchado por cargos privados. O governo, aliás, tenta há anos encorajar o setor: restaurantes, salões de beleza e cerca de outros 200 tipos de negócios empregam hoje quase 400 mil pessoas. A reforma imobiliária já começou e o turismo está a toda, mas aí o governo quase sempre se contradiz, pois submete os donos de pequenos negócios a um controle extremamente rígido.

E essa realidade incomoda principalmente a nova geração de cubanos.

Após 50 anos de marasmo, o desejo da população é ver os frutos da nova era imediatamente. Durante o verão, os jovens geralmente vão para as praias próximas a Havana, como a Playa Santa Maria, perto de Guanabo, a 25 minutos de carro da capital. O transporte público até lá custa menos de US$0,05, o que torna o programa acessível até para aqueles que têm uma renda mínima.

Há pouco tempo estive por lá, em pleno dia de semana, e vi milhares de cubanos deitados na estreita faixa de frente para o mar azul. Jogados na areia, Yusbel Hernandez Campanioni e Yohendy Rodriguez Curreta bebericavam rum de uma lata de cerveja cortada.

O casal passa praticamente o verão todo assim, embora tenha dado sorte porque o primo de Yohendy, que mora no México, está de visita e lhes trouxe uma garrafa da bebida. “Do contrário, a gente estaria só deitado aqui”, conta o rapaz de 21 anos que é zelador de um centro cultural e ganha cerca de US$10/mês.

“Todo mundo fala de revolução, mas temos que viver o dia a dia. Hoje pensamos no que vamos fazer hoje e amanhã vai ser a mesma coisa”, conta Yusbel.

Apesar disso, os adolescentes mais abastados já têm várias opções de diversão, incluindo La Fábrica de Arte Cubano, uma antiga fábrica de óleo de amendoim que exala a nova sofisticação caribenha, com tijolos aparentes e decoração industrial, resultado de um acordo entre um músico cubano famoso e o Estado.

À noite, centenas de jovens esperam na fila para entrar. “Ninguém aqui pensa em política, não; a gente só quer mesmo é se divertir”, confessa Amalia Sanchez, 17 anos, ao lado de um grupo de amigos.

Colaborou Hannah Berkeley

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