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análise

Empresas prometem cura do vício em celular

Em pesquisa, um terço dos entrevistados disse verificar “constantemente” o celular | KARSTEN MORAN/The New York Times
Em pesquisa, um terço dos entrevistados disse verificar “constantemente” o celular (Foto: KARSTEN MORAN/The New York Times)

Como quase todo mundo, Susan Butler olha demais para seu smartphone. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, ela tomou uma atitude: comprou por US$ 195 o serviço de uma empresa chamada Ringly, que promete “que você deixe seu telefone à distância e fique tranquilo”.

A Ringly faz isso conectando seus toques a um filtro, de modo que o usuário possa silenciar as notificações do Facebook ou do Gmail enquanto preserva os alertas importantes, que fazem o aparelho se iluminar ou vibrar. “Espero que ele mantenha a distância entre meu telefone e minha mão”, disse Butler, consultora de tecnologia que vive em Austin, Texas.

Diante da rapidez com que os celulares dominaram as pessoas, é fácil esquecer que eles são uma tecnologia relativamente nova. O primeiro iPhone saiu há oito anos. Ainda assim, algumas pessoas já passam de três a quatro horas por dia olhando para uma tela de celular —sem contar o tempo gasto realmente falando ao telefone.

Em uma pesquisa sobre o uso de smartphones feita pelo Bank of America, cerca de um terço dos entrevistados disse que verifica “constantemente” o smartphone e pouco mais de dois terços disseram que vão para a cama com o celular ao lado.

“A tecnologia evoluiu tão rapidamente que caímos numa espiral descontrolada. Ninguém parou para pensar em como isso vai impactar nossa vida”, disse Kate Unsworth, fundadora da empresa britânica Kovert, que também faz joias high-tech.

Algumas empresas veem oportunidades de negócios em ajudar as pessoas a se livrar do vício.

Smartwatches como o Apple Watch são desenhados para incentivar mais olhares e menos verificações no telefone.

Em junho, a Google e a Levi’s anunciaram planos de uma linha de roupas high-tech que permitirá que as pessoas façam coisas como desligar um telefone que toca esfregando o punho do paletó.

O Offtime limita o acesso dos clientes a apps muito utilizados e produz gráficos sobre quanto tempo eles passam ao telefone.

A Moment incentiva as pessoas a compartilharem o uso do telefone com amigos para competir em um jogo de quem olha menos para o celular.

O Light Phone, do tamanho de um cartão de crédito, não faz nada além de ligações telefônicas.

Já o NoPhone é um pedaço de plástico de US$ 12 que parece um smartphone, mas na verdade não faz nada —3.200 unidades do produto já foram vendidas, apesar disso.

Adam Gazzaley, neurologista e professor de neurociência na Universidade da Califórnia, disse: “Você tem uma população que começa a dizer: ‘Espere, nós amamos toda essa tecnologia, mas parece que há um preço... seja meu relacionamento, meu trabalho ou minha segurança, porque estou dirigindo e usando o celular’”.

Alguns produtos tentam encontrar um equilíbrio.

O Google Now usa dados para incomodá-lo só quando você precisa. “Se estou quase esquecendo o aniversário do meu filho, quero que o telefone grite comigo até que eu faça algo a respeito”, disse Sundar Pichai, vice-presidente de produtos do Google.

Os smartphones são um poderoso mecanismo de liberação de dois impulsos humanos fundamentais, segundo Paul Atchley, professor de psicologia na Universidade do Kansas: a busca por novas e interessantes distrações e o desejo de sentir que concluímos uma tarefa.

“O cérebro fica literalmente programado para se ligar —para constantemente buscar novidades, o que torna difícil desligar o telefone”, disse ele.

Vício ou não, Butler ainda procurou a ajuda do Ringly.

Atchley é cético. O tratamento bem-sucedido, disse ele, tem a ver com controlar seus demônios —não terceirizá-los.

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