Grupos trabalhistas e algumas empresas varejistas criaram fundo para ajudar as vítimas de dois desastres em fábricas de Bangladesh, incluindo um incêndio que matou 112 pessoas| Foto: khurshed rinku/associated press

Um ano após o incêndio na fábrica Tazreen, em Bangladesh, muitas empresas varejistas que vendiam roupas produzidas na fábrica ou no edifício Rana Plaza, que desabou em abril, recusam-se a participar de um esforço para indenizar as famílias dos mais de 1.200 trabalhadores que morreram nesses desastres.

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A Organização Internacional do Trabalho está cooperando com as autoridades bengalesas, sindicatos e várias empresas varejistas para criar fundos de compensação para dar assistência às famílias dos mortos e aos mais de 1.800 trabalhadores feridos.

Lideradas pela empresa anglo-irlandesa Primark e pela holandesa-alemã C&A, algumas poucas empresas varejistas participam da criação de fundos de compensação, um para as 1.129 vítimas do Rana Plaza e outro para as vítimas do incêndio na fábrica Tazreen, que deixou 112 operários mortos em 24 de novembro de 2012.

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Mas as companhias americanas que vendiam mercadorias produzidas na fábrica Tazreen e no Rana Plaza —Walmart, Sears, Children’s Place e outras— não concordaram em contribuir.

"Pagar indenização é importantíssimo porque muitas famílias estão sofrendo. Muitas delas perderam seu arrimo", disse Kalpona Akter, do Centro Bangladesh de Solidariedade a Trabalhadores.

A Primark, que afirma já ter gasto mais de US$ 3,2 milhões com assistência às vítimas, está trabalhando para desenvolver um fundo de compensação que possa auxiliar as vítimas durante anos. A empresa, cujas marcas incluem Atmosphere e Denim Company, era cliente importante da New Wave Bottoms, uma das cinco fábricas de vestuário que ocupavam o Rana Plaza. A Primark vem há seis meses pagando os salários de todos os 3.600 bengaleses que trabalhavam no prédio, dando o dinheiro aos trabalhadores sobreviventes ou às famílias dos que morreram.

A Primark também se comprometeu a pagar mais três meses de salário se nenhuma outra empresa se prontificar a ajudar, mas a Loblaw, varejista canadense que produz a grife Joe Fresh, concordou em fazer parte do esforço.

Defensores de causas trabalhistas criticam especialmente a Walmart —em parte porque documentos de produção recuperados após o incêndio na fábrica Tazreen indicam que, dois meses antes de esse incêndio começar, 55% da produção da fábrica era destinada a fornecedores da Walmart. "A Walmart é uma empresa que está dando mostras de espantosa falta de responsabilidade, considerando que uma parte tão expressiva de seu produto estava sendo manufaturada na fábrica Tazreen", comentou Samantha Maher, coordenadora da Campanha Roupas Limpas, grupo europeu que combate o trabalho em condições degradantes.

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Depois de o Fórum Internacional de Direitos Trabalhistas, grupo de defesa com sede em Washington, ter escrito à Walmart para exortar a empresa a participar dos esforços de indenização, Rajan Kamalanathan, um dos vice-presidentes da Walmart, disse em e-mail que a empresa não pretendia participar.

Ele escreveu que "não havia produção para a Walmart no Rana Plaza no momento da tragédia e que a produção relacionada à Walmart na fábrica Tazreen não tinha sido autorizada".

Indagado se a Sears vai dar ajuda monetária às vítimas da fábrica Tazreen, um porta-voz da empresa, Howard Riefs, respondeu que a Sears "permanece comprometida com a melhora das condições nas fábricas que utilizamos para a produção de nossas mercadorias".

A Walmart, a Sears e 24 outras empresas americanas e canadenses entraram para uma aliança que visa aprimorar a segurança das fábricas no Bangladesh.

Alguns analistas do setor dizem que as empresas varejistas norte-americanas relutam em participar dos esforços de indenização por temer que isso possa ser visto como reconhecimento de erro de sua parte, possivelmente levando-as a ser legalmente responsabilizadas pelo que aconteceu.

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