Uma das maiores reclamações da sociedade moderna é o excesso de compromissos e a sobrecarga de tarefas. Pergunte às pessoas como elas estão, e a resposta padrão é "super ocupado", "incrivelmente ocupado" ou "absurdamente ocupado".
Quando as pessoas não estão super ocupadas no trabalho, elas estão loucamente ocupadas se exercitando, se entretendo ou levando seus filhos para as aulas de chinês. E quando aparece um momento tranquilo para reflexões digamos, enquanto se espera na fila do mercado ou num congestionamento , lá vem o celular. Assim, vale a pena citar um estudo publicado em junho na revista "Science", que mostra até onde as pessoas vão para evitar a introspecção.
"Nós havíamos notado como todos parecem casados com seus dispositivos, e que as pessoas parecem buscar qualquer desculpa possível para se manter ocupadas", afirmou Timothy Wilson, professor de psicologia da Universidade da Virginia e principal autor do estudo. "Ninguém havia conduzido um estudo básico permitindo que as pessoas simplesmente ficassem sozinhas e pensassem". Os resultados criaram polêmica nas comunidades da psicologia e neurociência. Em 11 experimentos envolvendo mais de 700 pessoas, a maioria dos participantes relatou ter achado desagradável ficar sozinho numa sala com seus pensamentos, por períodos entre seis e 15 minutos.
Além disso, em um dos experimentos, 64 por cento dos homens e 15 por cento das mulheres começaram a se auto-administrar choques elétricos quando deixados sozinhos para pensar. Essas mesmas pessoas, haviam dito que pagariam para evitar receber o choque. Poderia ser porque o ser humano, quando deixado sozinho, costuma analisar o que está errado em sua vida. O que espreita nossas mentes, quando não estamos atualizando nosso Facebook ou fazendo uma aula de spinning, são as coisas que não descobrimos relacionamentos difíceis, fracassos pessoais e profissionais, problemas financeiros, questões de saúde.
"Uma explicação para as pessoas se manterem tão ocupadas e preferirem tomar choques é que elas estão tentando evitar esse tipo de negatividade", explicou Ethan Kross, da Universidade de Michigan. "Não é uma sensação boa se você não é intrinsecamente bom em refletir". Mas é impossível resolver os problemas se você não se permite o tempo para pensar sobre eles. "É como se estivéssemos todos numa família viciada, onde a correria parece normal, mas na verdade é prejudicial", argumentou Stephanie Brown, psicóloga no Vale do Silício. "Existe uma crença generalizada de que pensar e sentir são ações que só vão atrapalhar e ficar no seu caminho, mas a realidade é o oposto".
O constante esforço cognitivo de evitar emoções indica uma série de problemas psicológicos, como transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade, depressão e ataques de pânico sem falar numa gama de vícios. Estudos ainda sugerem que não dedicar tempo à reflexão prejudica a capacidade de sentir empatia. "Quanto mais estamos em contato com nossos próprios sentimentos e experiências, mais ricos e precisos são os palpites sobre o que passa pela mente de outra pessoa", disse o dr. Giancarlo Dimaggio, psiquiatra em Roma que estuda a interação entre auto-reflexão e empatia. "Sentir o que se sente é uma capacidade que atrofia por falta de uso". Pesquisadores também descobriram que a mente ociosa é um caldeirão de criatividade.
"O processamento mental ocioso estimula a criatividade e as soluções, pois imaginar seu problema quando se está dentro dele não é o mesmo que a realidade", afirmou Jonathan Smallwood, neurocientista cognitivo da Universidade de York, na Inglaterra. "Usar a imaginação significa que você está repensando o problema de forma inovadora". Talvez seja por isso que o Google ofereça aos funcionários cursos chamados Busque seu Interior e Auto-Hackeamento Neural, que incluem instruções sobre meditação de consciência plena onde a meta é reconhecer e aceitar os pensamentos e sentimentos, em vez de ignorá-los ou reprimi-los. Isso é do interesse da empresa, pois liberta espaço cerebral dos funcionários para que possam intuir os desejos dos usuários e criar produtos para satisfazê-los.
Por mais difíceis que possam ser, sentimentos negativos fazem parte da vida, principalmente se você for absurdamente ocupado. Mas são esses mesmos sentimentos profundos e perturbadores, e como você lida com eles, que formam o seu caráter. Embora essa correria possa estancar a tristeza que transborda, ela também pode limitar sua capacidade de ser transbordado de alegria.
Governadores e oposição articulam derrubada do decreto de Lula sobre uso da força policial
Tensão aumenta com pressão da esquerda, mas Exército diz que não vai acabar com kids pretos
O começo da luta contra a resolução do Conanda
Governo não vai recorrer contra decisão de Dino que barrou R$ 4,2 bilhões em emendas