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Política de controle

Escócia consegue controlar armas e reduzir a violência

Memorial em escola primária de  Dunblane, alvo de um atirador em 1996, que assassinou 16 crianças e um professor antes de se matar. | /
Memorial em escola primária de Dunblane, alvo de um atirador em 1996, que assassinou 16 crianças e um professor antes de se matar. (Foto: /)

A placa para homenagear as 16 crianças que foram mortas a tiros em março de 1996 é simples e foi colocada sobre uma pequena coluna de pedra fora da escola primária que continua a educar os jovens da cidade. Construída sobre uma encosta entre árvores e arbustos altos, a escola fica quase escondida.

Mas o impacto da perda que o memorial reflete permanece, cerca de 20 anos depois que um homem de 43 anos invadiu o ginásio da escola portando quatro revólveres, iniciou um tiroteio que durou três minutos e espalhou a aversão à violência armada na psique nacional dos britânicos.

No ano seguinte, o clamor público a respeito dos assassinatos, apesar de distante das salas do poder, levou à ação política: o governo da Inglaterra baniu a posse privada de armas e pistolas automáticas no continente britânico.

Esse tipo de ação rápida não acontece nos Estados Unidos, mesmo depois de anos dos alvoroços causados na Escola Columbine, na Virginia Tech e na Escola Elementar Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, onde o trauma coletivo é talvez o mais parecido com o que esta cidade continua a sentir.

Ainda assim, depois de novos tiroteios em massa, as pessoas que exigem leis mais restritas sobre as armas nos Estados Unidos continuam a lutar para atingir um consenso, o que aconteceu rapidamente na Escócia e tornou a proibição muito bem vinda.

“Eu pensei: ‘Bom, é uma coisa boa’”, diz, referindo-se à resposta pública que se seguiu, Simon Foy, que comandava um esquadrão de homicídios em Londres para a Polícia Metropolitana, ou Scotland Yard, na época do tiroteio de Dunblane e que estudou o evento fatal.

As pessoas que moram e trabalham nas ruas de pedra desta cidade ao norte de Edimburgo concordam. Como diz Margaret Weir enquanto serve café em uma delicatessen na The High Street: “Este é o tipo de lugar onde todo mundo conhece alguém” que sofreu pessoalmente com a tragédia. Os professores que davam aulas na escola naquele dia ainda trabalham lá. Parentes dos mortos têm aulas naquelas salas.

O endurecimento das leis na Inglaterra, que deu às autoridades mais controle sobre os portes de armas, é vista como uma bênção para a segurança pública e um bálsamo para a dor coletiva da cidade.

“Você não pode simplesmente andar com elas por aí, mesmo que queira”, afirma a filha de 20 anos de Margaret, que também trabalha na deli e pediu para não ser identificada porque “é difícil ter uma opinião” sobre os tiroteios e suas consequências.

“Não resolve todos os crimes, mas reduz sua quantidade”, diz a jovem.

Massacre norte-americano

Do outro lado do oceano e 16 anos depois, os Estados Unidos viveriam seu próprio massacre de crianças de cinco e seis anos na escola de Newtown. A inação que emergiu de Washington, no entanto, foi o oposto da reação de Westminster depois do tiroteio de Dunblane. E, nos três anos depois da morte de 20 crianças a tiros na Escola Elementar Sandy Hook, nenhum consenso na reedição das leis nacionais sobre armas surgiu nos Estados Unidos.

Enquanto os assassinatos na Sandy Hook podem ter “atingido na cabeça” as pessoas predispostas a tomar uma atitude para combater a epidemia de violência por armas nos Estados

Unidos, “o resto da nação não se envolveu da mesma maneira”, afirma Samuel Walker, professor emérito da Escola de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade de Nebraska.

“Havia muita gente dizendo: ‘Bom, então temos que colocar mais armas nas escolas’”, nas mãos dos agentes da lei ou de oficiais de segurança, diz Walker.

Para ele, essa resposta reflete a adoração às armas que existe na cultura americana.

“É como um objeto religioso, uma extensão do seu corpo. Não conseguimos nem começar a fazer algum progresso em controlar as armas.”

Os Estados Unidos têm “altos níveis de violência interpessoal”, maiores do que em qualquer lugar da Europa Ocidental, e uma preferência cultural por armas incorporada em muitos nichos da sociedade, afirma Walker.

Para comandantes da polícia, armas ilegais são uma ameaça em uma era de redução global do crime. Em muitas cidades, membros de gangues armados são a causa da persistência da violência. Em Nova York, eles se envolvem em tiroteios de retaliação para defender territórios, por causa de drogas, relacionamentos e briguinhas, muitas vezes com a mesma pessoa desempenhando os dois papéis: atirador e vítima.

Na Escócia, um país com 5,3 milhões de habitantes, a arma dos criminosos, de longe, é a faca. As armas de fogo continuam a ser ferramentas de fazendeiros e caçadores.

“Você não vê pessoas com armas neste país”, afirma Sir Stephen House, que deixou em novembro o cargo de chefe da polícia escocesa. “Se vir, está em uma área rural e é um sujeito caçando coelhos.”

Dos cerca de 55 homicídios no país nos últimos 12 meses, “um ou dois” foram por tiro, diz House.

Apenas dois por cento dos policiais escoceses usam armas.

Em uma palestra dada recentemente em uma conferência de chefes de agentes da lei da Escócia e dos Estados Unidos na faculdade nacional de polícia de Edimburgo, House disse que já se passaram seis anos desde que qualquer um dos 17.234 policiais atiraram em um civil. E, quando isso aconteceu, o homem foi ferido.

A última vez que um policial foi morto em ação por causa de violência foi em junho de 1994. O oficial foi esfaqueado.

“Policiais são assassinados, mas normalmente é a facadas. Não temos agentes mortos em ação a não ser por acidentes de carro, normalmente, e tivemos três mortos em um acidente de helicóptero dois anos atrás”, conta House.

As armas de fogo não eram um problema nacional importante na Escócia antes do tiroteio em Dunblane. Mas as leis estabelecidas depois vêm, cada vez mais, ajudando a polícia a combater o crime.

Mesmo para aqueles que têm porte de armas, como era o caso do atirador de Dunblane, Thomas Hamilton, “Você precisa justificar que tipo de arma têm, se não, não consegue a licença”, afirma o vice-superintendente Gordon Crossan, que lidera as investigações criminais de Edimburgo. “É uma maneira sensata de fazer as coisas, enquanto que nos EUA, em muitos lugares, você pode entrar em uma loja e comprar o que quiser.”

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