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Escritor vê seu romance virar realidade

Joshua Cohen leu 180 livros sobre tecnologia antes de escrever “Book of Numbers” | Ghitis,Danny/for The New York Times
Joshua Cohen leu 180 livros sobre tecnologia antes de escrever “Book of Numbers” (Foto: Ghitis,Danny/for The New York Times)

Uma coisa estranha aconteceu quando Joshua Cohen estava escrevendo “Book of Numbers”: a história começou a virar realidade.

A maior parte do livro já estava concluída. Era sobre um romancista principiante chamado Joshua Cohen que escrevia, como ghost-writer, a autobiografia do bilionário fundador da empresa de tecnologia Tetration, cuja missão era “igualar-nos aos dados e igualar os dados a nós”. Então, o protagonista descobre que a Tetration compartilha o histórico das buscas dos internautas com agências governamentais de espionagem.

Vários anos atrás, o Joshua Cohen da vida real mostrou o rascunho do livro a um amigo, especialista em cibersegurança. Porém, ele lhe disse que uma trama baseada naquela revelação parecia exagerado.

Até que, em 2013, o ex-técnico de inteligência Edward J. Snowden revelou a extensão da vigilância feita pelo governo norte-americano a seus cidadãos, assim como o papel exercido pelas empresas de comunicações e tecnologia na entrega desses dados. “O mundo fez o livro virar realidade enquanto eu estava escrevendo. Essa é a maior fantasia do paranoico”, disse Cohen. “A pergunta agora não é se tudo isso é verdade, mas ‘como podemos conviver com isso?’.”

Cohen, 34, disse que a faísca que deu origem ao livro foi uma pergunta simples e persistente: “Quais são os princípios por trás dos aparelhos que passaram a dominar cada aspecto de minha vida?”

Ele leu mais de 180 livros sobre espionagem e cibersegurança, sobre a história da internet e sobre pessoas como Bill Gates, Steve Jobs, Alan Turing e o alemão Konzad Zuse, pioneiro da computação. Visitou o museu de criptologia da Agência Nacional de Segurança (NSA). Estudou patentes. Aprendeu a escrever código.

Cohen buscou o feedback de seu amigo Ben Wizner, advogado junto à União Americana pelas Liberdades Civis. Wizner, que acabaria representando Edward Snowden, considerou precisa a descrição da “economia da vigilância” feita em “Book of Numbers. “Advogados e defensores se frustram ao ver como algumas questões podem parecer abstratas aos olhos do público”, disse. “Para algumas pessoas, o olhar do romancista é capaz de mostrar o poder e o perigo desses sistemas de maneiras que nós não conseguimos.”

Joshua Cohen cresceu em Nova Jersey e estudou na Manhattan School of Music. Aos 20 anos, foi viver em Berlim com o dinheiro recebido de um prêmio de composição musical. “Passei uma década completamente quebrado, publicado por editoras pequenas e lido por ninguém”, comentou.

No início deste mês a Random House lançou “House of Numbers”, que vem sendo comparado por alguns a obras de David Foster Wallace e Thomas Pynchon.

O livro também compartilha algum DNA literário com histórias clássicas de Poe, Nabokov e Dostoievski sobre “doppelgängers” e sósias, tema que Cohen achou próprio para ser retrabalhado na era da internet. No romance, o escritor Joshua Cohen é escolhido a dedo para ser o ghostwriter da autobiografia do fundador da Tetration em parte porque eles têm o mesmo nome.

Uma das irritações do protagonista é que seu homônimo famoso ocupa as 324 primeiras posições no ranking de buscas da Tetration, tornando seus escritos virtualmente invisíveis.

O Joshua Cohen da vida real também anda assombrado por outro Joshua Cohen, um filósofo político. Uma vez, quando o romancista estava fazendo uma leitura em Berlim, um homem o procurou com obras do outro Joshua Cohen, pedindo um autógrafo. Cohen não conseguiu explicar a confusão, e acabou por autografar os livros.

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