A mais recente ameaça ambiental aos Grandes Lagos é muito, muito pequena.
Minúsculas contas de plástico usadas em centenas de artigos de higiene pessoal, como esfoliantes faciais e pastas de dente, estão passando pelas usinas de tratamento de água e se acumulando às dezenas de milhões nos Grandes Lagos. Neles, os fragmentos são ingeridos pela fauna aquática em conjunto com os poluentes que carregam; os cientistas temem que estes possam voltar pela cadeia alimentar para os humanos.
Os plásticos se degradam lentamente e ficam revestidos com venenos na água como os compostos químicos cancerígenos conhecidos como bifenil policlorado. "Infelizmente, eles parecem comida de peixe", afirmou Marcus Eriksen, diretor executivo da organização 5 Gyres, a respeito das contas encontradas nos oceanos, e agora nos lagos.
Estudos publicados nos últimos meses chamaram a atenção para os Grandes Lagos, onde pode haver concentrações ainda maiores de partículas plásticas do que as encontradas nos oceanos. A Agência Nacional Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos também vem examinando o impacto dos microplásticos na fauna marinha.
Grandes empresas de cosméticos, incluindo Johnson & Johnson, Unilever e Procter & Gamble, prometeram nos últimos meses excluir o uso das esferas em troca de alternativas naturais, embora argumentem que a troca possa levar pelo menos dois anos. A Johnson & Johnson e outras companhias questionaram se as esferas estão realmente passando pelas usinas de tratamento de esgoto.
Assim, a dra. Sherri A. Mason, química ambiental da Universidade Estadual de Nova York, campus de Fredonia, passou os dois últimos verões pescando com uma rede de malha fina nos Grandes Lagos. Ela coletou mais de cem amostras, que seus alunos examinam detalhadamente em buscas das contas. Eles compararam as esferas com as dos produtos comerciais e as consideraram similares em formato, tamanho e composição.
Num documento recente, Mason e colegas pegaram amostras sugerindo concentrações de até 424.710 partes de microplásticos por quilômetro quadrado em alguns trechos das superfícies dos lagos, com as contas somando mais de 60 por cento das amostras. Ela encontrou contas nos cinco lagos, com concentrações maiores no Erie e no Ontário.
Está ficando cada vez mais claro que as contas passam pelo processo de beneficiamento, afirmou a dra. Mason, numa usina de tratamento de esgoto em North East, cidade nos arredores do Lago Erie, região noroeste da Pensilvânia.
Ela visitou a usina para ver se conseguia encontrar contas na água limpa do fim do processo de purificação. A cientista instalou uma bomba para enviar a água através de telas finas e, menos de um minuto depois, raspou uma esfera perolizada da rede.
"Não se trata de um problema de projeto do sistema. É um problema de projeto do produto", garantiu.
Os cientistas ainda estão trabalhando para desvendar os elos da cadeia que sobem na direção dos humanos; perto de 30 milhões de quilos de peixe são capturados nos Grandes Lagos por ano. Em âmbito mundial, as contas têm sido encontras em alguns organismos marinhos e não em outros, e a transferência dos venenos das contas para os corpos das criaturas que as comem ainda está sendo definida. Já se comprovou que isso acontece com o verme da areia, encontrado no norte do Atlântico.
De acordo com a Dra. Mason, "se acontece com esses vermes, existe uma boa chance de que ocorra com outras espécies".