No ano passado, após mais de uma década no Vale do Silício, Stacia Carr ajudou a vender a empresa que administrava e saiu em busca de uma mudança.
"A área da baía de San Francisco está muito saturada. É muito cara, hipercompetitiva", ela disse. Depois que um amigo a colocou em contato com Iñigo Amoribieta, ex-diretor executivo do Groupon Espanha, os dois começaram a falar sobre criar juntos um negócio de vídeo on-line baseado em Madrid, cidade onde ele vive.
Carr, de 42 anos, achava que seria "quase impossível" obter uma autorização de trabalho quando tantas economias europeias lutavam para se recuperar da crise financeira. Então, ficou sabendo de uma lei, aprovada pelo governo espanhol em setembro de 2013, para ajudar as empresas nacionais a atrair investimentos e talentos de fora. Ela incluía uma categoria de visto para empresários estrangeiros, exigindo deles apenas um plano de negócios, seguro-saúde e dinheiro suficiente para se manter na Espanha.
Quando Carr contatou consulados espanhóis nos Estados Unidos, não encontrou ninguém que soubesse da existência do visto de empreendedor. Ela se mudou para Madrid em novembro de 2013, e, no início deste ano, junto com Amoribieta, de 37 anos, abriram a Vidnex, enquanto trabalhavam com uma incubadora de empresas na cidade. A Vidnex permite que os instrutores de fitness deem suas aulas remotamente, com streaming de vídeo ao vivo, onde o aluno e o instrutor podem se ver e conversar em tempo real.
Uma das primeiras candidatas a tentar utilizar o novo visto de empresário previsto pela lei, Carr descobriu que os funcionários públicos não estão preparados para tirar suas dúvidas, mas conseguiu seu visto de residência de empresária de dois anos, renovável, em março, cerca de um mês depois da solicitação. Ela reconheceu que a Espanha, país onde o desemprego atingiu um recorde de cerca de 27 por cento no ano passado, pode parecer um lugar improvável para se iniciar um negócio. Mas quando comparadas aos ímãs de startups europeias como Londres e Berlim, as cidades espanholas têm custos mais baixos e menos concorrência e ainda têm profissionais de talento em número suficiente para começar, ela disse.
A nova lei, conhecida como a Ley de Emprendedores, é o mais recente esforço da Espanha para ajudar as empresas domésticas e tornar o país mais atraente para pessoas ricas e talentosas fora da União Europeia. Aprovada pelo governo como uma reforma que ajudaria a gerar empregos, a legislação criou cinco categorias de vistos, abrangendo investidores que comprem pelo menos 500 mil euros em imóveis, empreendedores interessados em abrir empresas, profissionais altamente qualificados, pesquisadores, cientistas e professores, além de funcionários e estagiários.
A política vai mais longe do que leis em outros países no sentido de oferecer residência agilizada a tipos diferentes de imigrantes, não apenas aos ricos, afirmou Josep Herrero e José Manuel Novo, advogados de uma firma em Barcelona que orienta os interessados no processo.
"A lei espanhola é muito mais convidativa e muito mais simples do que a da Inglaterra, do Canadá e da França", disse Novo.
De acordo com Herrero e Novo, a Espanha empresta boas ideias de outros países com políticas de imigração que visam atrair talentos e investimentos tais como Canadá, Grã-Bretanha e Chile.
Essas mudanças mostram ao mundo que "a Espanha está liberalizando e internacionalizando sua economia", disse Miguel Ángel Vidal, do Foro Español de Expatriación, grupo lobista de grandes empresas espanholas, incluindo o Banco Santander e a Telefónica.
Até agora, menos de 100 empresários estrangeiros conseguiram autorização de residência, mas mais de 280 milhões de euros foram investidos e outros 265 milhões estão comprometidos com projetos, de acordo com o Ministério da Economia.
Juan Martínez-Barea, empresário espanhol que também promove a Singularity University, instituição de tecnologia com foco no Vale do Silício e em círculos de tecnologia na Espanha, disse que poucos de seus conhecidos estavam familiarizados com o visto. "A lei está no caminho certo, mas precisa de medidas que a tornem mais revolucionária", disse Martínez-Barea, observando também que o popular programa do governo chileno, o Startup Chile, concede US$34.000, além de um ano residência, a quem quiser abrir uma empresa no país.
A medida chilena, que começou como um programa piloto em 2010, atraiu quase 2.000 empresários, cujas empresas levantaram mais de US$ 100 milhões em financiamento. Um incentivo que o governo espanhol deve destacar, disse Martínez-Barea, é seu programa de empréstimos sem garantias, que tem cerca de 100 milhões de euros para emprestar. No ano passado, a Enisa, empresa de financiamento público que faz esses empréstimos, conferiu mais de 600 deles a empresários, com valores médios de cerca de 130 mil euros. Carr e Amoribieta receberam aprovação de até 75.000 euros.
Martínez-Barea diz que se mais empresários estrangeiros soubessem dos empréstimos, achariam a Espanha mais atraente: "Meus amigos da Singularity University dizem, Uau, eu também quero."