Pescadores espanhois que faziam a almadrava passaram a levar atuns capturados a lagoas para engordá-los por 4 meses. Trap-pesca para rabilho| Foto: Laura Leon/The New York Times

No estreito que conecta o Atlântico ao Mediterrâneo, barcos pesqueiros manobravam em volta das redes, preparando a armação. Os pescadores levantaram da água uma seção de redes, repleta de peixes. Dezenas de atuns-azuis foram à superfície, debatendo-se desesperadamente até se renderem, exaustos e asfixiados. Então, os pescadores os içaram a bordo pelas caudas.

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Conhecido como almadrava, esse método de pesca com armações é considerado o mais antigo do mundo, tendo suas origens nos fenícios, 3.000 anos atrás. Embora a matança dos atuns possa parecer violenta, a almadrava é vista como uma técnica de pesca sustentável. Os barcos e as redes foram modernizados, mas o método, propriamente dito, permanece praticamente igual há milênios.

Em resposta às cotas de pesca e à demanda dos consumidores do Japão, o maior mercado mundial de atum, as empresas que comandam a almadrava passaram a recorrer à aquicultura para ajudar a engordar os peixes, em lugar de puxar e matar suas presas. Carlos Montero, gerente de pesca responsável pela Espanha e por Portugal na organização Marine Stewardship Council, diz que a mudança “está pondo em risco um método de pesca muito tradicional, porque engordar peixes é completamente diferente do objetivo original”.

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Uma das quatro empresas de almadrava que operam no litoral sul da Espanha praticamente já parou de fazer o “levantá” —o levantamento da armação. A firma utiliza um labirinto de redes para prender os peixes, mas canaliza os atuns para uma lagoa aberta adjacente, onde eles são engordados por quatro meses antes de serem mortos, congelados e transportados ao Japão. “O atum criado em cativeiro é mais gordo que o atum ‘natural’, e os japoneses gostam disso”, explicou Tetsuya Inagaki, gerente da Maruha Nichiro, uma das maiores distribuidoras de pescado do Japão.

Na década de 1990, os estoques de atum foram quase esgotados pela pesca excessiva, incluindo aquela praticada com barcos que arrastam grandes muralhas de redes na água.

Em 2006, os países que praticam a pesca do atum concordaram em obedecer a rígidas cotas de pescado, conforme o previsto por um plano de recuperação de 15 anos que já vem tendo algum efeito.

Os pescadores que trabalham com a almadrava dizem que seu método foi injustamente punido pelos excessos pesqueiros passados de outros, entre outras razões porque, com a almadrava, apenas atuns adultos (com peso médio de 200 quilos) são presos e içados em suas redes de malha larga.

“Nenhum outro equipamento de pesca na história da humanidade se mostrou tão seguro, eficiente, seletivo, sustentável e favorável ao meio ambiente”, concluiu um estudo sobre a almadrava publicado em abril pelo Comitê de Pescaria do Parlamento Europeu.

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Rafael Márquez, o segundo em comando da almadrava da Cabo Plata, disse que faz parte da quarta geração de sua família a integrar uma equipe de almadrava. “Convivemos com esta espécie há 3.000 anos e há muitas gerações.”

Os pescadores da almadrava trabalham com contratos sazonais. Durante o resto do ano, procuram outros trabalhos ou, mais provavelmente, recebem salário-desemprego. O índice de desemprego na Andaluzia, no sul da Espanha, chega a 34%.

A temporada da almadrava começa em fevereiro e dura seis meses. A maior parte desse tempo é passada montando e então desmontando a complexa armação de redes e âncoras.

A pescaria, propriamente dita, acontece apenas em maio, quando os atuns passam pelo estreito de Gibraltar rumo às águas mais mornas do Mediterrâneo para se reproduzirem, depois de terem acumulado banha durante o inverno no Atlântico, mais frio.

Diego Crespo Sevilla, diretor da Cabo Plata, empresa familiar, disse que recentemente os japoneses vêm pagando mais por atum criado em cativeiro que pelo atum “natural”. “Para mim, o atum natural tem mais sabor, mas entendo que os gostos não são iguais”, comentou. “Aquilo que funciona melhor no mercado espanhol não vai necessariamente ser o melhor em Sapporo ou Tóquio.”

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“As tradições são muito importantes, mas é o preço que move o mercado”, disse Alfonso Vidal, inspetor de pesca espanhol.

“Um peixe migratório não acumula banha como faria se vivesse numa lagoa. Mas eu estaria mentindo se dissesse que consigo distinguir facilmente o sabor do atum natural daquele do peixe criado em cativeiro.”