Recentemente, embora a colheita oficial tivesse terminado há algumas semanas, ainda havia azeitonas sob as árvores desta pequena cidade a sudoeste de Madrid e Luis Cardenas Travado, de 52 anos, trabalhava duro recolhendo o que pudesse para ganhar um dinheiro extra.

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Talvez apenas 20 ou 30 euros, mas, com seus quatro filhos adultos desempregados e vivendo em sua casa, até isso ajudaria.

“Dá para comprar um pouco de combustível. Não dá para o aquecimento. Não podemos pagar o aquecimento, mas dá para cozinhar”, disse Cardenas, que já trabalhou na construção civil.

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Recolher as sobras depois das colheitas — uvas, azeitonas ou alho — é uma maneira de obter renda extra por estas bandas há muito tempo, mas os agricultores se queixam de que os tempos difíceis trouxeram catadores demais para os campos.

Eles contam que inúmeras pessoas de outras cidades, muitas vezes romenos, vêm para cá fazer isso e transformaram a atividade em profissão. E enquanto trabalham, danificam galhos, levam seus caminhões para os campos e podem até mesmo afetar a qualidade e o preço dos produtos regionais, como o vinho e o azeite, porque azeitonas e uvas mais velhas e inferiores acabam entrando na produção. O assunto tem gerado tensão em muitas aldeias da Espanha, onde centenas de famílias dependem da renda da colheita das sobras. O governo regional está tentando criar um conselho para regular essas vendas.

Agricultores, às vezes, dão permissão para esse tipo de colheita, mas nem sempre são consultados.

Ventura Arroyo, presidente da cooperativa agrícola em Villafranca de los Barros, disse que seu grupo não quer que a prática de colheita das sobras seja proibida, mas acrescentou que seus membros querem maior supervisão.

“Tradicionalmente, quem fazia isso era gente da cidade que usava boas práticas — e até sabiam o que estavam fazendo. Mas muitas pessoas hoje vêm de diferentes países. Não é a mesma coisa.”

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Grande parte das sobras coletadas é vendida para Juan Luis Diaz. Ele abriu seu armazém em 2012, acreditando que esse poderia ser um nicho de negócio. “Há dez anos, catadores de sobras recolhiam um terço do que coletam hoje”, ele disse.

Havia muito desperdício na colheita oficial, acrescentou ele, e sempre sobravam bons frutos. E, porque os frutos não amadurecem uniformemente, sempre há o que colher algumas semanas depois. Uma colheita dupla pode não ser lucrativa para o produtor, mas pode ser rentável para os coletores que trabalham sozinhos.

Embora as sobras tenham frequentemente uma qualidade inferior, continuou Diaz, elas ainda servem para alguma coisa. Por exemplo, ele disse, as uvas mais velhas são boas para fazer vinagre ou vinho de cozinha.

Ele disse que em muitos casos, os catadores estrangeiros trazidos para a Espanha para trabalhar nas colheitas oficiais poderiam não sobreviver sem as sobras. “É certamente melhor do que se dependessem do auxilio do governo”, afirmou.

Um dos catadores que vendiam as sobras para Diaz recentemente era Viorel Constantin, de 52 anos, que veio da Romênia há nove anos para trabalhar nos campos. Ele e sua família estão sempre se mudando em busca de trabalho, colhendo batatas um mês e uvas no seguinte.

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Porém, tudo seria mais difícil sem o dinheiro da colheita das sobras. “Existem bons e maus fazendeiros aqui. Alguns dizem: ‘Deixe tudo no chão. É tudo meu’”, disse Constantin.