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Carmen Gómez Álvarez-Varcácel, 90, espera recuperar joias de família | Gianfranco Tripodo/The New York Times
Carmen Gómez Álvarez-Varcácel, 90, espera recuperar joias de família| Foto: Gianfranco Tripodo/The New York Times

Apesar de já terem se passado mais de 50 anos, Carmen Gómez Álvarez-Varcácel, 90, lembra-se vividamente de sua última hora em solo cubano.

Ela se preparava para embarcar em um transatlântico com destino à Espanha, esperando escapar do governo comunista de Fidel Castro, quando foi detida por militares que queriam apreender seus objetos de valor. Ela tentou entregar só uma caixa de joias, mas eles ordenaram que também tirasse as peças que estava usando: um colar, anéis, um relógio de ouro e brincos de safira e diamantes que foram de sua mãe.

Sua família havia prosperado em Cuba, possuindo sete casas no bairro de El Cerro, em Havana, e uma loja que vendia “de tudo, de uísque a tecido”, disse ela.

No entanto, depois da revolução, eles se sentiram duplamente indesejados, como espanhóis e como burgueses. Por isso, fugiram, deixando para trás o que não podiam carregar —e, para tristeza dela, algumas coisas que podiam.

“Os homens de Fidel roubaram o que herdei de minha mãe —e tudo isso enquanto gritavam insultos e me chamavam de verme que estava fugindo para a Espanha”, lembrou ela recentemente em uma entrevista.

Enquanto Cuba ainda era firmemente comunista e isolada pelo Ocidente, houve poucas oportunidades de ela recuperar sua propriedade perdida, ou mesmo descobrir o que havia sido feito dela.

No entanto, agora Cuba está abrindo alguns setores de sua economia e, mais importante, restabelecendo relações com os Estados Unidos. Por isso, espanhóis como Álvarez-Varcácel veem a oportunidade de fazer suas reivindicações em Havana e eventualmente obter compensação, ou mesmo restituição, de bens perdidos.

Alguns obstáculos diplomáticos estão caindo, mas resta uma grande barreira: Espanha e Cuba assinaram um acordo em 1986 pelo qual Cuba aceitou pagar cerca de US$ 40 milhões em indenização por bens confiscados, em um período de 15 anos, parte em dinheiro e parte em produtos como tabaco.

Não está claro se esse acordo é definitivo sobre todas as reivindicações espanholas. Os reclamantes esperam que não. Eles veem a distensão entre Washington e Havana como “uma notícia muito boa, porque mostra que está havendo mudanças em Cuba”, disse Jordi Cabarrocas, diretor da 1898 Company, fundo de investimentos que representa alguns espanhóis cujas propriedades foram confiscadas. “Haverá mais meandros, mas o importante é que os espanhóis não deixem de notar as mudanças em Cuba.”

Entretanto, ultimamente o governo cubano não deu sinais de inclinação a discutir casos de desapropriação. A embaixada cubana em Madri disse que não tinha comentários a fazer sobre o assunto.

Cabarrocas disse que as fazendas, as fábricas, os armazéns e outros bens confiscados dos clientes de sua empresa, que incluem famílias e algumas ordens religiosas, valeriam cerca de US$ 1,8 bilhão hoje e que as reivindicações totais de espanhóis chegariam a US$ 20 bilhões. A 1898 Company ficará com 30% do que conseguir recuperar para seus clientes.

Gabriel González de Gregorio, espanhol descendente da família Herrera de Cuba, disse que o acordo de 1986 exclui qualquer indenização para as famílias espanholas que eram mais poderosas na Cuba pré-revolucionária. Sua família foi dona da empresa que fazia a cerveja La Tropical.

O acordo foi “claramente incompleto, mas pelo menos foi um reconhecimento de Cuba e da Espanha de que houve violação de direitos em Cuba e que há uma obrigação de compensação”, disse. González diz que não quer a cervejaria de volta, mas quer ser pago pelo que lhe foi tirado.

Já Álvarez-Varcácel preferiria recuperar as joias da família e os bens que foram apreendidos no cais. “Se os americanos ou outros receberem algo de volta em Cuba, eu também quero minhas coisas”, disse ela. “Provavelmente estou velha demais para viajar e desfrutar Cuba de novo, mas a idade não é problema para meus filhos e outros parentes.”

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