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Petropavlovsk-Kamchatsky fica a nove horas de avião de Moscou. A população busca inspiração no Alasca, que é mais próximo | Sergey Ponomarev /The New York Times
Petropavlovsk-Kamchatsky fica a nove horas de avião de Moscou. A população busca inspiração no Alasca, que é mais próximo| Foto: Sergey Ponomarev /The New York Times

Quando o sacerdote ortodoxo Vladislav Revenok participou pela primeira vez da versão russa da disputa de trenós Iditarod do Alasca, a Beringia, foi cercado por moradores pedindo para serem batizados. Disseram que ele era o primeiro sacerdote a visitar o interior da remota Península de Kamchatka em 50 anos.

“Só algumas pequenas aldeias nos veem”, disse Revenok, um veterano musher (condutor de trenós puxados por cães), depois de terminar a corrida de 17 dias no final de março.

O isolamento de Kamchatka já foi um meio de proteção de sua beleza surpreendente: seus 300 vulcões, um vale de gêiseres, rios cheios de salmão, mares habitados por enormes caranguejos. Mas agora, Kamchatka encontra-se entre planos para desenvolver seus recursos e esforços para preservar seu esplendor natural.

A exploração de petróleo já começou no mar de Okhotsk, que separa a Península do resto da Rússia, e os primeiros poços de gás natural agora operam em terra. Duas minas de ouro já estão em funcionamento, e 10 mais estão em fase de planejamento. As autoridades locais querem que Petropavlovsk se torne o porto principal de trânsito para navios que cruzam a rota do Ártico entre a China e a Europa. Além disso, o governo está tentando aumentar o número de turistas de 40 mil para 300 mil por ano.

“Os interesses dessas indústrias são conflitantes. Se você quer andar de trenó ou ver vulcões, viria para cá se houvesse uma unidade de transformação de ferro enorme com duas chaminés na costa do Pacífico?”, disse Sergey Rafanov, diretor da filial local do World Wildlife Fund. O problema, segundo ele, é a falta de um melhor planejamento. Como o governo local depende dos fundos federais, é difícil ter certeza de quais projetos podem ser financiados e por isso planeja cada um isoladamente.

“Um equilíbrio sensato que proteja os recursos naturais e permita a exploração de vários depósitos pode ser alcançado”, disse Vladimir M. Galitsin, vice-governador de Kamchatka.

Os ambientalistas têm dúvidas. Populações de ursos e carneiros selvagens já foram dizimadas, disseram, porque caçadores de troféus dos Estados Unidos e da Europa foram liberados sem regulamentação. O mercado negro de falcões de Kamchatka consegue US$50 mil por cada ave nas nações do Golfo Pérsico, disse Rafanov.

Na época soviética, Kamchatka era uma base naval. Após o colapso da União Soviética a 1991, a população diminuiu cerca de um terço, indo para 300 mil. Para conter essa tendência, a península precisa de empregos e infraestrutura.

Peixe, ovas de salmão e caranguejos são seus maiores produtos de exportação. As relações tensas com o Ocidente e o Japão causaram uma queda de mais de 30 por cento nas vendas externas, disse Galitsin. Os habitantes esperam que a retaliação econômica do Kremlin, que proibiu a compra de salmão e outros peixes de lugares como a Noruega, possa aumentar a demanda por seus produtos na Rússia ocidental. Mas os obstáculos burocráticos e logísticos tornam quase impossível o transporte regular do peixe fresco para o outro lado do país.

O voo de nove horas para Moscou é quase três vezes mais longo do que voos os para Anchorage, no Alasca. (Os primeiros operam apenas no verão.) Não é de admirar, então, que a população procure inspiração no Alasca. “A terra, a natureza, as tradições, os cães, é tudo tão mais próximo”, disse Alexei Sitnikov, proprietário do Canil Siberian Fang e de uma empresa de ecoturismo.

A Beringia, a corrida anual de trenós puxados por cães, foi concebida há mais de 25 anos como a resposta russa ao Iditarod, mas nunca atraiu o mesmo interesse internacional. Os problemas que envolvem o transporte de cães de trenó de Moscou até Kamchatka são proibitivos, disseram os organizadores.

O esforço do Kamchatka para atrair mais estrangeiros inclui um novo guia em inglês repleto de informações úteis do tipo como sobreviver a um encontro surpresa com um urso.

Kamchatka também conta com um clima selvagem e imprevisível. Quando perguntado sobre a previsão do tempo, Sitnikov brincou: “Prefiro não falar e nem mesmo pensar sobre o clima.”

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