Enquanto Jabari Parker segurava uma camiseta dos Cleveland Cavaliers mostrando que foi o segundo atleta escolhido na convocação da NBA, a liga de basquete americana, no final de junho, dezenas de milhares de rapazes mórmons preparavam seus próprios uniformes a camisa branca e o crachá preto dos missionários e começavam a bater em portas hostis em diferentes países pelo mundo afora.
Foi por meio desse serviço missionário que mórmons chegaram à pequena ilha de Tonga um século atrás e converteram o bisavô de Parker. Hoje, Parker, de origem afro-americana, é fiel da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e frequentador de seus encontros. Sua mãe e seu irmão Christian já participaram de missões.
Parker, 19 anos, jogou basquete por uma temporada na Universidade Duke, na Carolina do Norte, e foi o primeiro mórmon afro-americano convocado pela NBA, tornando-se um expoente novo e notável de uma igreja que até 1978 discriminava os afro-americanos, proibindo-os de fazer parte do clero leigo e casar-se no templo.
Mas, enquanto líderes da igreja esperam que "cada rapaz digno e em boas condições de saúde" sirva numa missão, Jabari Parker, em vez disso, seguirá o caminho trilhado por outros atletas mórmons destacados, concentrando-se em seu esporte. É um caminho que lhe permite buscar seus sonhos esportivos e ganhar milhões de dólares. Líderes da igreja e atletas mórmons dizem que ele não deixará de ser um embaixador da igreja muito mais pessoas o verão na televisão do que as que o veriam se ele fizesse trabalho missionário.
"O talento excepcional evoca exceções à regra", comentou o historiador mórmon Gregory Prince. "Não é justo para os 60 mil jovens que atendem ao chamado para servir e ficar longe dos holofotes, enquanto os atletas evitam participar de missões formais e ganham reconhecimento. É uma questão de dois pesos, duas medidas, mas para a igreja faz todo sentido."
A decisão de Parker suscitou reações ambíguas, especialmente entre jovens que adiaram suas ambições esportivas por dois anos para cumprir o serviço missionário. Foi o caso de Xavier Sua-Filo, convocado em maio para jogar na Liga Nacional de Futebol, que interrompeu seus estudos na Universidade da Califórnia em Los Angeles. "Se alguém hesita em participar de uma missão apenas porque desse jeito não poderá jogar ou teme que não vai curtir o esporte quando voltar, acho que não é uma boa razão", disse o atleta.
Mas a maioria dos atletas mórmons destacados toma a mesma decisão que Jabari Parker. Entre os que não atuaram como missionários estão Steve Young, Danny Ainge e Johnny Miller.
Parker se negou a ser entrevistado para este artigo, mas seu bispo, Eddie Blount, disse que ele pensou seriamente em fazer a missão. "Ele acha que tem uma oportunidade para servir de exemplo a jovens na igreja e na sociedade", Blount explicou. "Acho que ele poderá impactar muitas vidas simplesmente por ser uma ótima pessoa e estar no centro das atenções."
Em abril, na "Sports Illustrated", Parker deixou claro que a decisão foi difícil. "Estou matutando sobre isso há dois anos", ele escreveu. "Depois de conversar com minha família, os líderes de minha igreja local e alguns amigos íntimos, estou em paz com minha decisão de abrir mão de participar de uma missão, por enquanto."
Muitos atletas que enfrentaram o mesmo dilema disseram que enxergaram sua carreira no esporte nacional como um trabalho missionário de tipo diferente.
Bruce Hurst, que foi lançador do Boston Red Sox de 1980 a 1988, recorda que um apóstolo, L. Tom Perry, foi à sua cidade antes do convocação de beisebol e discutiu com ele o poder do sucesso nos esportes. "Não seria maravilhoso ser convocado pelo Red Sox e ter 35 mil pessoas vendo você na televisão?", Perry teria dito. "E três vezes esse número de pessoas leriam o que você disse nos jornais do dia seguinte."