Milhões de pacientes possuem stents —pequenos tubos metálicos— inseridos em suas artérias coronárias, e muitos acreditam que isso garante proteção contra ataques cardíacos. Afinal, o stent desbloqueia uma artéria parcialmente obstruída, fazendo desaparecer a dor sentida pelo músculo cardíaco quando o suprimento sanguíneo é insuficiente.
Embora seja inquestionável a importância do stent para salvar a vida de pacientes que estão sofrendo um infarto ou uma ameaça de infarto, ainda não há evidências convincentes de que ele reduza o risco de infarto nas pessoas que sofrem de angina estável.
Esses pacientes sentem constrição ou desconforto no peito quando sobem um morro, por exemplo, porque uma artéria coronária parcialmente bloqueada priva seu coração de sangue.
Agora, o Instituto Nacional de Coração, Pulmões e Sangue dos EUA planeja averiguar se os stents de fato previnem ataques cardíacos. A resposta pode mudar o protocolo de atendimento de milhares de pacientes.
O tratamento típico para a angina consiste em inserir um cateter de um vaso sanguíneo na virilha até o coração, injetar um pigmento que permita ao cardiologista enxergar obstruções nas artérias em radiografias e então inserir um stent nas áreas bloqueadas.
Os stents são seguros, mas seu custo é alto, passando de US$ 10 mil nos EUA. Além disso, eles nem sempre constituem uma solução permanente para a dor de peito.
Os stents foram introduzidos na década de 1990. Pelo fato de aliviarem a dor e serem muito menos invasivos que a cirurgia de “bypass” coronário, eles passarem a ser recomendados pelos médicos e usados como forma de prevenir ataques cardíacos em pacientes estáveis.
“Pensava-se que era melhor entrar com um stent que abrir o peito do paciente”, explicou o cardiologista Harmony R. Reynolds, do Centro Médico NYU Langone. “Hoje, porém, as opções medicamentosas são tão boas que não está claro se a cirurgia acrescenta algo de positivo para pacientes estáveis.”
Um estudo feito em 2007 mostrou que os stents não impedem infartos e mortes de pacientes estáveis. No entanto, muitos cardiologistas duvidaram do resultado.
Alguns disseram que a maioria dos pacientes envolvidos nessa pesquisa apresentava risco tão baixo de infarto que não fazia diferença qual tratamento recebessem.
O novo estudo busca evitar a falha metodológica presente no estudo de 2007. Os pacientes não fazem angiogramas —o exame em que o pigmento é injetado nas artérias coronárias—antes de ser encaminhados a um tratamento.
Em vez disso, eles são aceitos com base em exames não invasivos que indicam a presença de artérias bloqueadas e risco alto de infarto. Seus médicos sabem apenas que há uma artéria bloqueada —não sabem qual artéria nem o grau de obstrução—, de modo que não podem identificar os pacientes que acreditam que necessitam de stents e impedi-los de participar do estudo.
Por trás da discussão sobre a utilidade dos stents está a incerteza em relação a como e porque os ataques cardíacos ocorrem.
Durante anos, a ideia comum era que os infartos seriam causados pelo entupimento de uma artéria. Segundo essa visão, placas —massas semelhantes a espinhas— bloqueavam uma artéria coronária e aumentavam de tamanho até impedir a passagem do sangue. O stent seria necessário para abrir a artéria, antes que ela se fechasse por completo.
Porém, outra hipótese, que defende ser impossível prever onde um infarto pode se originar, vem ganhando força. Para essa teoria, o infarto pode começar em qualquer lugar onde existam placas, mesmo que elas não estejam obstruindo o fluxo de sangue na artéria. Um pedaço de placa pode se abrir, numa ocorrência imprevisível. O sangue começa a coagular na região lesionada. Em pouco tempo, o coágulo entope a artéria. O resultado é um ataque cardíaco.
Um estudo publicado em 2011 constatou que apenas um terço dos infartos se originam em placas que estavam bloqueando pelo menos metade de uma artéria, como se vê em um angiograma. Os outros começaram com a ruptura de placas que não aparentavam representar problema.
De acordo com essa hipótese, a área parcialmente bloqueada visível em um angiograma não tem mais chances de ser palco de um ataque cardíaco que qualquer outra área com placa.
Medicamentos como estatinas ajudariam a evitar um ataque cardíaco, assim, ao modificar a natureza das placas, reduzindo sua tendência à ruptura.
Assim como os stents, o tratamento medicamentoso também pode reduzir a dor no peito, ainda que para isso possa levar meses.
A questão tem o potencial de afetar muitos pacientes cardíacos. “Metade das pessoas com mais de 65 anos tem obstruções”, disse o médico Gregg W. Stone, da Universidade Columbia, em Nova York.
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