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EUA rastreiam dinheiro a Andorra

Apesar de questões não resolvidas, as autoridades locais só começaram a efetuar prisões depois que os EUA se envolveram na investigação | Sergio Perez/Reuters
Apesar de questões não resolvidas, as autoridades locais só começaram a efetuar prisões depois que os EUA se envolveram na investigação (Foto: Sergio Perez/Reuters)

No exclusivo mundo das transações financeiras desse minúsculo principado nos Pirineus, onde o dinheiro entra e sai sob a supervisão parcial das agências reguladoras europeias, há muito que se questiona, aos sussurros, se não há algo suspeito com um de seus cinco bancos privados, o Banca Privada d’Andorra.

O Judiciário local também levantou a lebre — e seja por falta de competência ou energia, a verdade é que sua investigação não chegou a lugar nenhum.

Foi preciso que o braço longo da lei norte-americana finalmente tomasse uma atitude.

No mês passado, investigadores criminais do Departamento de Tesouro publicaram um relatório acusando o BPA, como o banco é conhecido, de lavar centenas de milhões de dólares em nome de algumas das gangues criminosas mais poderosas do mundo.

As autoridades andorranas agora estão agindo contra a instituição, inclusive pedindo a prisão de seu CEO, Joan Pau Miquel Prats.

Os correntistas locais, cujas contas estão temporariamente semi-congeladas, se exasperam com a aparente liberdade dada à gerência e aos diretores, os irmãos Higini e Ramon Cierco, que são da família que controla a instituição.

“Esse escândalo é mais uma prova de que, no governo Obama, os EUA realmente assumiram a missão de investigar crimes do colarinho branco, mesmo que todos os envolvidos estejam no exterior”, afirma Patrick O’Donnell, sócio do escritório de advocacia Harris, Wiltshire & Grannis, de Washington.

Se os executivos do BPA vão para a cadeia ou não, o fato é que as queixas dos EUA forçaram o governo de Andorra a agir.

Depois de instituir uma linha de crédito emergencial de cem milhões euros – ou aproximadamente US$108 milhões – para os clientes corporativos do banco, o governo andorrano agora espera poder vender seus bens legítimos, depois de separados de qualquer dinheiro ilícito de que é acusado de aceitar de políticos corruptos venezuelanos, redes criminosas russas e chinesas e o cartel Sinaloa do narcotráfico mexicano.

Além do banco, a família Cierco também controla postos de gasolina, hotéis e imóveis dentro e fora de Andorra.

Ramon, por exemplo, é diretor do FC Barcelona, o time de futebol.

Os irmãos foram exonerados, bem como os outros membros da diretoria, pelas autoridades – mas não foram ainda indiciados. Aliás, as investigações norte-americanas não acusam nenhum dos executivos do BPA de qualquer operação ilegal.

Há pouco tempo as autoridades de Andorra contrataram consultores da PricewaterhouseCoopers para analisar os balancetes do banco. A verdade é que o Departamento de Justiça norte-americano pode impedir o país de vender a “parte boa” do BPA — e ainda lhe aplicar uma multa, principalmente porque está sendo acusado de processar milhões de dólares através de quatro bancos correspondentes nos EUA.

O’Donnell, o advogado de Washington confirma: “Eu ficaria muito surpreso se o Departamento de Justiça se afastasse do caso”.

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