Impostos sobre as vendas desestimularam os consumidores e são apontados como uma das causas da recessão no Japão| Foto: Yuya Shino/Reuters

O Japão parecia um grande exemplo de renascimento econômico. O crescimento havia voltado aos trilhos. O mercado de ações estava em alta. Até a inflação, que se esquivou do país durante décadas, ressurgia.

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A estratégia visava servir de guia para outras economias em turbulência, sobretudo as europeias. Esperava-se que a restrição fiscal e os aumentos de impostos, assim como o Banco Central injetando dinheiro na economia, superassem a tensa atmosfera.

No entanto, o plano econômico japonês, uma mescla de disciplina fiscal com estímulo monetário, está ruindo. A fórmula não gerou uma recuperação significativa no Japão e até piorou seus infortúnios. Em meados de novembro, o país anunciou estar em recessão.

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Agora, a Europa precisa decidir se segue o exemplo japonês de injetar mais dinheiro na economia —hoje, o BC europeu cogita lançar uma campanha de compra de títulos agressiva, conhecida como facilitação quantitativa.

A China também está sob pressão. O crescimento do país —que caiu para 7,3%— está se desacelerando, provocando questionamentos sobre sua saúde econômica.

"Hoje os Estados Unidos são praticamente o único farol de crescimento na economia global, e essa não é uma posição muito cômoda", disse Jacob Funk Kirkegaard, economista no Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.

"A retomada do crescimento americano é positiva, mas o resto do mundo pode enxergar o país como um consumidor ao qual recorrer como último recurso."

O premiê japonês, Shinzo Abe, chegou ao poder há dois anos com a promessa de revigorar a economia após quase duas décadas de quedas corrosivas nos salários e preços. A reação inicial dos consumidores japoneses e dos investidores globais foi efusiva: a economia deu um salto positivo nos primeiros meses de sua administração, no início de 2013.

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Conhecido como "Abenomics", o programa de Abe inicialmente se apoiava em uma combinação de gastos governamentais e apoio financeiro do Banco do Japão, o Banco Central do país. Este aumentou drasticamente seu programa de compra de títulos do governo e outros ativos.

Entretanto, boa parte do entusiasmo pelo plano de Abe evaporou. Alguns economistas criticam a inação do premiê em áreas além do estímulo econômico básico, como desregulamentação e comércio.

A política fiscal mais rigorosa levou a culpa pela entrada do país em recessão no terceiro trimestre. A economia ficou emperrada por impostos sobre vendas cada vez mais altos que desestimularam os gastos dos consumidores. Espera-se que Abe abra mão de um segundo aumento nos impostos, para que a confiança dos consumidores não diminua ainda mais.

"O Japão mostra que, se você tem uma estagnação econômica duradoura, ter uma política monetária agressiva e até uma reforma fiscal considerável não irá funcionar sem uma reforma estrutural profunda", disse Kirkegaard.

"A experiência do Japão deve ser profundamente analisada pelos líderes europeus."

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O Banco Central Europeu anunciou recentemente que está preparado para adotar mais medidas para revitalizar a economia combalida, como dar mais empréstimos aos bancos e comprar títulos garantidos por hipotecas e outros ativos. Os críticos dizem que o BC não atuou com a devida firmeza para ajudar na retomada do crescimento.

Certos economistas indagam se a Europa se tornará outro Japão. Ambos têm adotado diversas versões de austeridade, mas sem implementar mudanças profundas em sua economia, que, segundo analistas, são necessárias para restaurar o crescimento em longo prazo. A Europa também se depara cada vez mais com o espectro da deflação, a exemplo do Japão, enquanto se observa muita lentidão no processo de recuperação.

Recentemente, alguns países liderados pela França e pela Itália se posicionaram contra exigências da União Europeia de que sigam as metas fiscais e evitem estímulos que alguns economistas consideram cruciais. Na opinião de certos economistas, a situação do Japão só reforça o argumento de que o controle fiscal, embora às vezes necessário para melhorar as finanças de um país, prejudica o crescimento quando a economia está em declínio.

Atualmente, políticos europeus culpam as políticas de austeridade pela demora na retomada do crescimento, mas a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, teme afrouxar as exigências de disciplina fiscal depois que altos níveis de endividamento e deficits elevados ajudaram a gerar a crise da dívida na zona do euro. Os líderes da região têm encontro marcado no início de dezembro para discutir outras estratégias de crescimento.

O economista Bart van Ark afirmou: "A Europa pode se tornar um segundo Japão em termos de desaceleração demográfica significativa e de crescimento fraco da renda per capita". Ele acha imperativa uma "agenda de reforma, porém essa é uma estratégia muito difícil" de ser encampada por políticos de qualquer país.

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A mescla de estímulos monetários e disciplina fiscal está falhando.