Com um ruído elétrico suave, Iris Marossek pedala sua bicicleta entre prédios de concreto no coração da antiga Berlim oriental, entregando correspondências a 1.500 pessoas por dia. Sua bicicleta é um aceno ao passado e ao futuro. Ela é decorada com uma imagem de um corno preto curvo, remetendo à forma como, nos séculos passados, os carteiros alemães anunciavam sua chegada. Mas as duas baterias instaladas debaixo do assento revelam que a a bicicleta não é uma magrela qualquer.
Marossek pedala uma das 6.200 e-bikes do Deutsche Post, o serviço de correios alemão. As e-bikes usam motores elétricos para serem mais fáceis de pedalar e vêm ganhando popularidade em países onde a adesão à bicicleta é grande, como a Alemanha, agradando a pessoas mais velhas, empresas de entregas e pessoas que vão trabalhar de bicicleta, mas não querem chegar suadas.
"Elas são ótimas, e melhoram sempre", comentou Marossek. "Você anda nelas e não fica exausta, como ficaria com uma bicicleta comum."
Com o mercado evoluindo rapidamente, uma multidão de empresas compete pelo mercado. A marca Smart, da Daimler, oferece financiamento com juros zero para a compra de sua e-bike de US$ 3.000 (R$ 6.700) no Reino Unido, e a BMW lançou sua própria e-bike este ano por US$ 3.600 (R$ 8.070).
Na Alemanha, os correios costumam usar as e-bikes para trajetos mais longos ou íngremes. E elas reduzem o desgaste físico de funcionários mais velhos. "Notamos que nossos funcionários não estão ficando mais jovens e pensamos em maneiras de aliviar a carga deles", disse Frank Kolaczinsky, o chefe de Marossek.
Com dezenas de milhares de e-bikes já em uso na China, as vendas de e-bikes agora estão crescendo na Europa, especialmente em países do norte do continente, onde a tradição de andar de bicicleta vem de longa data. De acordo com a Federação Europeia de Ciclistas, há 250 mil e-bikes em circulação na Suíça. Na Alemanha, as vendas de bicicletas em geral caíram 5,5% no ano passado, mas as de e-bikes subiram quase 8%, e hoje as e-bikes respondem por 11% do mercado. Na Holanda, que tem o maior índice de uso de bicicletas per capita da Europa, o mercado total de bicicletas sofreu leve contração no ano passado, mas as vendas de e-bikes subiram mais de 9%.
Noel Regan, 35 anos, comprou uma e-bike Velo de Ville um ano atrás por US$ 4 mil. Ele é irlandês e trabalha em Bruxelas para uma associação da indústria energética. "Tenho uma bike comum", ele explicou. "Mas eu queria uma que pudesse usar para ir ao trabalho e que não me deixasse com calor e suado ao chegar."
Outros enxergam as e-bikes como uma maneira de evitar o trânsito de carros. David Stellini, 37 anos, comprou uma recentemente. Ele trabalha em Bruxelas para o Partido do Povo e costumava ir ao trabalho de carro. Um engarrafamento recente durante uma visita do presidente Obama à cidade foi o estopim que motivou sua decisão. "Moro a 20 minutos do Parlamento, mas estava levando duas horas ou mais, até duas horas e meia, para chegar", explicou.
Hotéis como o Hotel New York, em Roterdã, possuem pequenas frotas de e-bikes de aluguel. Na loja de bicicletas Au Guidon Vert, em Bruxelas, o proprietário, Nicolas de Keghel, disse que as e-bikes respondem por uma em cada quatro bikes vendidas e por metade de sua receita.
Na Europa, as e-bikes são os sinais mais recentes de diferença entre o Norte e o Sul.
Elas não decolaram em países como Itália e Espanha, mas na França suas vendas subiram mais de 17% no ano passado, partindo de uma base baixa; foram vendidas ao todo 56 mil e-bikes no país, enquanto na Alemanha o número foi de 410 mil.
As e-bikes não deixam de ter suas desvantagens, porém. Sentada na dela, Marossek sorriu. "Esta bike não faz tanto bem para o meu corpo quanto a bicicleta comum."
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