Robert Turner, ex-diretor de Gaza da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados, diz que o bloqueio precisa ser levantado| Foto: Wissam Nassar/ The New York Times

Robert Turner era reconhecido em todos os lugares na Faixa de Gaza, e chamado jocosamente de governador. Para a maioria das pessoas, ele era conhecido simplesmente como “Mr. Bob”.

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Turner saiu de Gaza no dia 9 de julho depois de servir como diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados por três anos — ou, dito de outra forma, por duas guerras entre Israel e o Hamas, grupo militante que controla o enclave costeiro.

Turner disse que havia menos esperança e muito mais pobreza e desemprego na Faixa de Gaza agora do que quando ele chegou, porém, em meio ao ritmo lento de reconstrução e ferozes lutas internas, ele viu uma pequena oportunidade.

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“Há uma mudança real em Israel”, ele disse, citando movimentações no pós-guerra que permitem algumas exportações de Gaza para a Cisjordânia e Israel, além de mais viagens para os empresários. “Quando falei com eles sobre essas alterações antes da guerra, disseram que eram impossíveis. As mudanças são, até hoje, praticamente irrelevantes — não criam empregos suficientes — mas passar do impossível para o possível é importante.”

A agência de Turner é o governo efetivo para o 1,3 milhão de palestinos classificados como refugiados na população de Gaza que é de 1,8 milhão. Seus 13.000 funcionários são responsáveis por 240 escolas e 21 clínicas de saúde (cada médico vê uma média de 100 pacientes por dia), coletam lixo em oito campos de refugiados, fornecem ajuda alimentar para 848.000 pessoas e supervisionam um programa de construção de US$ 200 milhões.

Durante a guerra do ano passado, 91 de suas escolas receberam 292.000 residentes desabrigados; o último deles finalmente saiu em meados de junho. Nenhuma das 9.000 casas de refugiados destruídas foi reconstruída, mas a agência de auxílio distribuiu US$ 100 milhões para reparos e subsídios de aluguel. Agora, ela enfrenta um déficit de US$ 101 milhões em seu orçamento de US$ 680 milhões.

“Se não pudermos abrir nossas escolas em setembro, acho que a reação da população será vigorosa. Somos a última instituição que ainda funciona. Somos a última coisa na qual a população confia”, disse Turner.

Turner, de 51 anos, passou 25 anos como trabalhador humanitário, nos Bálcãs e na África, Afeganistão, Haiti, Iraque, Indonésia e Kuwait. Ele voltou à sua nativa Columbia Britânica para um cargo ministerial de silvicultura e arqueologia.

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Se Turner tivesse uma varinha mágica para fazer uma única mudança em Gaza, “a resposta mais simples seria levantar o bloqueio”, ele disse. Mas o problema é que “não é apenas Israel”, acrescentou, citando o Hamas, a Autoridade Palestina, o Egito, o Irã, a Arábia Saudita e “uma multiplicidade de atores internacionais”, que contribui com as deficiências.

“Existe um caldo. Não sei quais são todos os ingredientes, não sei quem são os cozinheiros e não sei qual vai ser o gosto no final.”

“Pró-palestino e pró-israelense é uma falsa dicotomia. Em longo prazo, não haverá um Estado democrático de Israel para os judeus na ausência de um Estado palestino e da mesma forma não vai haver um Estado palestino pacífico na ausência de Israel. Essa ideia de que é preciso ser a favor de um e contra o outro é um absurdo.”