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“As pessoas que só participam de reuniões em hotéis não são as que importam.” | Greg Kahn
“As pessoas que só participam de reuniões em hotéis não são as que importam.”| Foto: Greg Kahn

Após uma conversa respeitosa com o chefe do vilarejo na clínica local que trata malária, o contra-almirante R. Timothy Ziemer tirou do bolso seu usual presente de agradecimento. A clínica era bem administrada, e havia uma grande afluência de mães gratas pelos mosquiteiros grátis.

Ao aceitar a grossa moeda dourada com o rosto do presidente Obama, o chefe parecia tão emocionado quanto se tivesse recebido a Medalha Presidencial da Liberdade. "Elas não são oficiais", confessou depois Ziemer. "Eu as compro em uma loja de suvenires no edifício de escritórios Reagan por US$ 4,50 cada uma."

O momento ilustra bem o estilo de trabalho desse homem de 67 anos, que foi piloto da Marinha e é o coordenador da Iniciativa contra a Malária da Presidência dos EUA: em campo, com pouco dinheiro e nada de estardalhaço, em vilarejos na África e na Ásia.

Muitos agentes que combatem a malária o reconhecem como um dos líderes mais eficientes e discretos na área de saúde pública.

Desde que Ziemer assumiu o cargo, em 2006, as mortes causadas por malária em todo o mundo tiveram queda de 40%, de 1 milhão por ano para cerca de 600 mil.

Muitos países agora usam as táticas adotadas por Ziemer, como doação de mosquiteiros impregnados com inseticida, pesticida borrifado em ambientes fechados, doses rotineiras de medicamentos antimaláricos para mulheres grávidas, exames de sangue rápidos e comprimidos que combinam um novo fármaco chinês de ação rápida, artemisinina, com um dos diversos medicamentos de efeito prolongado.

Ziemer foi nomeado pelo presidente George W. Bush. Ele entregou um pedido de renúncia ao cargo após a eleição de Obama, mas foi mantido na função.

Em uma visita de quatro dias a Mianmar neste verão, ele fez vários voos e percursos por terra para conversar com chefes de vilarejos, educadores locais que conscientizam a população sobre a malária, médicos e farmacêuticos de áreas rurais, seringueiros e construtores de estradas.

"As pessoas que só participam de reuniões em hotéis não são as que realmente importam", disse ele. "Elas se regalam com camarão, depois voltam para casa e se esquecem de tudo."

Em cada parada, ele pede detalhes para as pessoas: Os casos de malária diminuíram? Como isso é verificado? Como se presta conta do dinheiro recebido? Ele conta que suspendeu um programa de US$ 200 mil na Zâmbia, pois "quando perguntei para onde nosso dinheiro era direcionado, me olharam com um ar atordoado".

Desde a infância até o ensino médio, ele morou em Ban Me Thuot, nos planaltos centrais da Indochina francesa, atual Vietnã. Filho de missionários presbiterianos, ele falava rade, o dialeto da tribo local, comia picolés caseiros de coco, ia atrás de comboios franceses implorando para os soldados lhe darem chocolate e brincava em túneis cavados pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Embora dormisse sob mosquiteiros, ele teve malária.

Em 1964, foi para a faculdade evangélica Wheaton, perto de Chicago. Quatro anos depois, durante a ofensiva do Tet, soldados norte-vietnamitas e vietcongues invadiram Ban Me Thuot. Seu pai foi morto enquanto tentava negociar a saída dos feridos.

No último ano da faculdade, ele entrou na Marinha e pediu para retornar ao Vietnã. Tornou-se piloto de helicóptero e participou de 550 missões com os Sea Wolves, unidade baseada no delta do Mekong. Após o Vietnã, ele passou anos como líder de esquadrilha até ser promovido ao Pentágono.

Depois de se retirar da vida militar, dirigiu a organização World Relief.

A Iniciativa contra a Malária foi fundada em 2005. Na época, os esforços do governo estavam totalmente equivocados. Privilegiavam medicamentos pouco eficazes e a maior parte do orçamento era destinada a anúncios orientando os africanos a comprar mosquiteiros —o que a maioria deles não tinha condições de adquirir.

O Congresso dos EUA autorizou uma verba de US$ 1,2 bilhão para os cinco primeiros anos, especificando que a maior parte dela fosse gasta com itens para ser doados ou vendidos a preços subsidiados —não com consultores.

Atualmente, a iniciativa apoia projetos em 25 países na África e no Sudeste Asiático. "Minha motivação é manter isso funcionando —e acompanhar os jovens que trouxe para a equipe", disse ele.

Por isso, Ziemer continua viajando para lugares como Ba Wa Pin. "Todos os meus ex-colegas da Marinha trabalham para bandidos ligados ao governo", comentou ele, descrevendo ex-almirantes que trabalham para empresas privadas de defesa.

"Eles vivem jogando golfe e passeando no Chesapeake em seus barcos. Em reuniões, eles zombam de mim. ‘Olá, Z, continua salvando o mundo?’ E eu respondo: ‘Positivo, ainda estou salvando o mundo’".

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