| Foto: Stuart Goldenberg

A revelação feita no mês passado de que o Facebook mexeu com os feeds de notícias de perto de 700 mil usuários como parte de uma experiência psicológica realizada em 2012, desnudou inadvertidamente o que poucas empresas de tecnologia reconhecem: o fato de que possuem poderes enormes para monitorar de perto, testar e até mesmo modelar nosso comportamento, geralmente sem que conheçamos tais capacidades.

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A publicação do estudo segundo o qual apresentar às pessoas mensagens levemente felizes nos feeds as fazia publicar atualizações mais felizes e que mensagens tristes geravam posts tristes, deu origem a uma torrente de indignação de pessoas que consideraram perturbador o fato de que o Facebook brinca com as emoções de usuários insuspeitos. O estudo foi conduzido em parceria com pesquisadores acadêmicos, por isso pareceu violar regras que evitam que pessoas sejam objetos de estudo sem sua autorização. Várias agências de privacidade da Europa começaram a examinar se o estudo violou leis locais a esse respeito.

Porém, se virmos esse estudo e sua publicação como uma análise da maneira pela qual usamos a mídia social, o fato pode fornecer vislumbres importantes acerca de alguns dos mistérios mais profundos do comportamento humano.

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Muitos pesquisadores de ciências sociais acreditam que ao analisar nosso comportamento online, eles poderiam descobrir por que e como as ideias se espalham por grupos, como formamos nossas visões políticas e o que nos persuade a agir com base nelas, e até mesmo por que e como as pessoas se apaixonam.

A maioria das empresas da internet realiza experiências extensivas com usuários para testar produtos e com outros fins comerciais, mas o Facebook deu um passo incomum ao se associar a acadêmicos interessados em pesquisar temas não imediatamente pertinentes aos seus negócios. Tais esforços produziram várias descobertas importantes nas ciências sociais.

Entretanto, existe outro benefício ao incentivar a pesquisa no Facebook. É somente compreendendo o poder da mídia social que podemos começar a nos defender contra seus piores abusos potenciais. O estudo mais recente do Facebook provou que ele pode influenciar os estados emocionais das pessoas; você não ficou feliz com isso? Críticos que há muito tempo argumentam que o site é poderoso demais e que necessita ser regulamentado ou monitorado agora podem citar a própria pesquisa da empresa como prova.

É problemático que o Facebook tenha atraído usuários para o estudo sem seu consentimento. A empresa pediu desculpas, e agora diz que vai investigar maneiras de aprimorar suas diretrizes para a realização de pesquisas.

Se o Facebook descobrisse uma maneira de ser mais transparente com sua pesquisa, você não iria preferir saber que a companhia pode fazer isso com as montanhas de informações que tem sobre todos nós? Igualmente, você não ficaria interessado no que as outras empresas de tecnologia sabem sobre nós? Como o algoritmo de pesquisa personalizado do Google reforça tendências? Como a raça afeta a maneira pela qual as pessoas navegam pelos sites de namoro?

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Depois do protesto contra a pesquisa do Facebook, veremos poucos desses estudos. "Seria devastador", afirmou Tal Yarkoni, pesquisador de psicologia da Universidade do Texas, campus de Austin. "Até agora, se você conhecesse a pessoa certa no Facebook e propusesse uma questão interessante, seria possível conseguir que colaboradores dentro da empresa trabalhassem com você. Porém, o Facebook não precisa fazer isso. Eles têm muito a perder e quase nada a ganhar com a publicação".

Se você tomou parte em algum experimento do Google ou Facebook, nem vai ficar sabendo. Usuários que são colocados em grupos experimentais são selecionados por acaso, geralmente sem seu conhecimento. Embora o Facebook agora diga que as pessoas aceitam tais testes quando fazem a assinatura do site, os usuários não recebem avisos extras ao serem incluídos num estudo.

"O Facebook poderia lançar uma bolha pedindo para os usuários aceitarem participar de cada teste, mas isso bagunçaria os resultados, pois as pessoas estariam se selecionando para o estudo", disse Yarkoni – pesquisadores médicos e de ciências sociais longe da internet enfrentam um problema semelhante.

Ryan Calo, professor assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Washington, pediu às empresas que realizam experiências com usuários para criar "comissões de revisão da questão do consumidor", espécie de ombudsman interno que avaliaria cada experimento proposto, equilibrando os riscos e ganhos potenciais ligados aos sujeitos.

Nos últimos anos, o Facebook expandiu sua equipe de dados científicos para conduzir um grande número de estudos públicos. De acordo com a empresa, a missão da equipe é alterar nossa compreensão da psicologia humana e da comunicação ao estudar o maior ponto de encontro do mundo.

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Em 2012, a equipe de dados publicou um estudou que analisou mais de 250 milhões de usuários; os resultados derrubaram a teoria da "bolha do filtro", o antigo temor segundo o qual as redes online nos mostram notícias que reforçam nossas crenças.

Em outra experiência, o Facebook dividiu ao acaso 61 milhões de usuários norte-americanos em três campos no dia da eleição em 2010, e mostrou a cada grupo uma mensagem (ou nada de mensagem) diferente, sem vínculo partidário, estimulando o voto. Os resultados mostraram que determinadas mensagens aumentaram significativamente a tendência das pessoas votarem – não apenas pessoas que utilizavam o Facebook, mas até mesmo os amigos que não usavam.

"Eu li aquilo e pensei que o Facebook controlava as eleições", afirmou Zeynep Tufekci, professora assistente da Universidade da Carolina do Norte. "Se podem nos convencer a votar, também poderiam nos convencer individualmente, e sabemos que eles conseguem definir se você é republicano ou democrata – e as eleições são decididas por algumas centenas de milhares de eleitores em alguns estados. Então, o poder de convencimento de que dispõem é um poder de verdade".

Tufekci sugeriu uma posição contra o Facebook, o Google e outros gigantes da internet por causa de sua capacidade de modelar o que fazemos neste mundo. Ela tem um argumento valioso.

Porém, se cada estudo demonstrando o poder do Facebook for saudado por um protesto contra seu poder, a empresa e outros sites não vão revelar pesquisa alguma sobre seu funcionamento. E não é melhor conhecer sua força e tentar se defender dela do que nunca ficar sabendo?

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