Eric Larsen não parecia muito à vontade. Geralmente, ele se sente melhor desbravando uma geleira do que fazendo social numa festa chique em Manhattan. No entanto, ali estava ele, no Museu Americano de História Natural.
O ganha-pão de Larsen o trouxera até lá. Está impresso no seu cartão de visitas: explorador. Ele saiu de sua casa em Boulder, no Colorado, por causa do jantar e premiação anual do Clube dos Exploradores, espécie de Oscar da sua profissão.
Mais de mil pessoas estavam presentes, entre eles o astronauta Buzz Aldrin, o astrônomo Neil deGrasse Tyson e inúmeras outras pessoas que buscam aventura e conhecimento.
Fundado em 1904, o Clube dos Exploradores é uma sociedade internacional dedicada a promover a pesquisa de campo e “preservar o instinto explorador”.
Entre os seus membros, estiveram os primeiros seres humanos a visitar o polo Norte, o polo Sul, o topo do monte Everest e a superfície da Lua. Theodore Roosevelt foi associado.
A despeito desses triunfos do passado, os exploradores atuais enfrentam uma perspectiva assustadora: os nossos mapas já foram totalmente desenhados, e não resta muito a explorar. Ainda podemos vasculhar o fundo dos oceanos e descer de rapel a cavernas nunca mapeadas, mas é difícil afastar a sensação de que essas expedições não são fundamentais. O “instinto explorador” ainda persiste, mas perdeu seu ar de ousadia. Será que realmente precisamos de exploradores na era do Google Maps?
Alan Nichols, 85, que está encerrando seu mandato como presidente do Clube dos Exploradores, acredita que sim. “Esta é a era de ouro das explorações”, disse ele recentemente.
Nichols está empenhado em localizar o túmulo de Genghis Khan. “Há 750 anos procuram a tumba e nunca encontraram. Mas nós vamos encontrar. Por quê? Porque temos aparelhos de radiografia que penetram no subsolo, temos drones, temos a magnetometria. Temos todas essas coisas que os exploradores não tinham antes!”, disse.
Mas o avanço tecnológico acarreta problemas para um dos preceitos mais caros ao clube —o de que exploração implica aventura “in loco”. Hoje em dia, muitas das expedições mais emocionantes são feitas remotamente, usando braços robóticos e sensores. Em vez de lendários montanhistas e capitães navais, há equipes de cientistas e engenheiros. Quando a Nasa envia jipes para estudar a superfície marciana, eles são controlados por uma comissão em Pasadena, na Califórnia.
O Clube dos Exploradores chegou a termos com essas expedições modernas homenageando os cientistas responsáveis. Mas nem todos concordam com essa concessão. Nichols foi criticado, por exemplo, por ter oferecido uma honraria especial a Elon Musk no jantar do ano passado. “Exploradores vieram me dizer: ‘É ridículo chamá-lo de explorador’.”
Musk, executivo-chefe das empresas SpaceX e Tesla Motors, promove viagens ao Espaço, mas nunca decolou em nenhuma delas.
Há lugares onde a exploração clássica ainda parece viável. Neste ano, o clube homenageou C. William Steele, espeleólogo que estava prestes a se enfurnar em Huautla, no México, onde fica o mais profundo sistema de cavernas do hemisfério ocidental.
Para alguns autointitulados exploradores, as mudanças no significado do termo “exploração” motivaram introspecção.
“Tem a ver com a história que estou contando”, disse Larsen, o explorador do Colorado, durante o jantar de gala. Ele ganha a vida procurando patrocinadores para suas expedições polares, mas não promete viajar a lugares novos. Em vez disso, preenche lugares antigos com novos significados. Há alguns anos, tentou atingir o polo Sul de bicicleta. “A esta altura, não se trata tanto do ‘eu fiz’, mas de ‘como eu fiz’.”