Depois de espalhar o caos e refugiados desesperados por todo o Oriente Médio, a brutal guerra civil da Síria levou a miséria para a fronteira leste da Europa impulsionando a carreira de Angel Bozhinov, um ativista nacionalista desta cidade búlgara na divisa com a Turquia.
Líder local do partido de extrema direita Ataka, Bozhinov perdeu a vaga na câmara dos vereadores da cidade em 2011, mas sua sorte deu uma guinada graças ao temor causado pela chegada dos refugiados sírios através da fronteira turca.
O número de membros da filial local do Ataka cresceu drasticamente nas últimas semanas, enquanto, segundo ele, "muitas pessoas vêm até mim nas ruas para dizer que nosso partido estava certo". O Ataka, ou "ataque", em búlgaro, defende o lema "Bulgária para os búlgaros" e afirma que os refugiados sírios não passam de terroristas que a Bulgária o membro mais pobre da União Europeia deve expulsar. Um dos membros do Ataka no Parlamento afirmou que eles não passam de "primatas terríveis e nojentos".
O influxo de refugiados sírios causou conflitos em toda a União Europeia, uma vez que aumentam o fardo dos governos que ainda lutam para se livrar dos anos de recessão. Porém, a Bulgária talvez seja o mais frágil de todos os 28 membros da União Europeia. Por mais modesto que seja o número de refugiados no país, a chegada de cerca de 6.500 sírios este ano aumentou o descontentamento com o governo de coalizão da Bulgária.
A vinda dos refugiados e o furor público causado pelo esfaqueamento de uma jovem búlgara por um argelino que buscava asilo no país "abriram as portas" para os nacionalistas de extrema direita, segundo Daniel Smilov, do Centro de Estratégias Liberais, um grupo de pesquisas políticas com sede em Sófia, a capital do país.
Independentemente da virulência de sua mensagem ou da pequena quantidade de seus membros, o Ataka passou a ter uma vantagem desmesurada desde que as eleições parlamentares de maio deixaram o novo governo socialista da Bulgária em uma situação crítica, em consequência dos protestos que exigem a saída do governo sob a acusação de nepotismo e corrupção.
As denúncias feitas pelo Ataka em relação aos estrangeiros e a outras minorias locais, como os ciganos, juntamente com a exigência da retomada dos territórios búlgaros "perdidos", colocaram o partido no primeiro plano da tendência chauvinista e nacionalista que ganha terreno em diversos países da antiga União Soviética na Europa Central e do leste.
Assim como muitos partidos populistas na Europa Ocidental, o Ataka mistura a inclinação pela lei e a ordem e a exigência de restrições à imigração da extrema direita a políticas econômicas com forte tendência de esquerda. Porém, mais do que os grupos nacionalistas dos países mais ricos do ocidente, o Ataka possui um componente "extremamente racista e antissemita", afirmou Krassimir Kanev, chefe do Comitê Búlgaro de Helsinki, um grupo de defesa dos direitos humanos que trabalha para melhorar as condições nos assentamentos do governo que abrigam os refugiados.
O partido pode ser comparado ao movimento neofascista Aurora Dourada, da Grécia, afirmou. Ainda assim, embora o governo grego tenha combatido o Aurora Dourada, na Bulgária o Ataka é visto como um aliado do governo.
Kanev acrescentou que o Ataka e outros partidos do tipo contrariam as previsões que diziam que o extremismo xenofóbico desapareceria dos países mais pobres da Europa com a entrada na União Europeia.
Em novembro, o partido húngaro de extrema direita Jobbik, o terceiro maior do parlamento, inaugurou uma estátua em Budapeste homenageando Miklos Horthy, o líder fascista do país durante a Segunda Guerra Mundial. Além disso, na vizinha Eslováquia, Marian Kotleba, um nacionalista famoso pelos comentários incendiários a respeito dos ciganos, foi eleito governador de um estado.
Embora o Ataka tenha recebido apenas sete por cento dos votos e ficado com 23 dos 240 assentos do parlamento búlgaro nas eleições de maio, o partido tirou proveito de suas alianças volúveis para aprovar a proibição da venda de terras para estrangeiros, além de levar as autoridades a iniciarem a construção de uma cerca na divisa com a Turquia para impedir a entrada dos sírios.
Ibrahim Ragheb, de 40 anos, é pai de seis filhos e fugiu da Síria no outono deste ano, acompanhado de 21 parentes. Ele planejava chegar à Alemanha, mas agora está ilhado em um centro de detenção localizado em uma escola imunda na área industrial de Sófia. Zombando da afirmação do Ataka de que todos os refugiados são terroristas, ele apontou para a neta de três meses enrolada em um lençol. "Ela se parece com Osama bin Laden?", perguntou.
Os refugiados sírios, muitos dos quais entraram na Bulgária depois de pagarem 550 dólares por pessoa a coiotes em Istambul, afirmam não desejar ficar no país, mas as regras da União Europeia exigem que busquem asilo no país em que primeiro foram registrados.
Os refugiados, que em sua maioria sonhavam em ir para a Alemanha ou a Suécia, afirmam que nunca esperavam que a Europa fosse desse jeito. "Este país é pobre demais", reclamou Mohammed Hussein, um sírio de 24 anos que está confinado a uma antiga base militar em Harmanli, uma cidade deserta próxima a Svilengrad. "É como viver em uma prisão", afirmou.
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