Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
tendências mundiais

Facções sabotam a nova imagem do Talibã

Uma série de sequestros e assaltos ocorreu na província de Helmand, em meados de 2014, constrangendo os líderes talibãs que controlam a área. As autoridades do grupo, baseadas no Paquistão, ordenaram uma caçada para encontrar os bandidos, mas descobriram um fato, no mínimo, inconveniente: eram seus próprios homens que estavam por trás dos crimes, faturando milhares de dólares em resgates por mês. Em questão de dias, todos foram executados.

O episódio levanta algumas questões: mais de treze anos após o início da guerra, quem é o Talibã exatamente? Eles são bandidos? Ou não passam de líderes disciplinadores que enforcaram os rebeldes?

Cada vez mais parece que é um pouco dos dois.

Mais de uma década de luta constante mudou o movimento que a invasão liderada pelos EUA ajudou a tirar do poder, em 2001; a maioria dos combatentes que se ergueram na época para lutar contra os senhores da guerra, durante a guerra civil, foi morta ou permanece em exílio. Na prática, o movimento agora conta com um grupo misto de integrantes, muitos dos quais não cultuam, nem de longe, o movimento espiritual dos anos 90.

Os ganhos militares significativos que o Talibã obteve no último ano voltaram a atrair a atenção para a formação e os desafios do grupo, ao mesmo tempo em que seus líderes tentam provar à população que têm mais direito a dirigir o país que o governo com apoio dos norte-americanos.

"A antiga liderança está envelhecendo e perdeu a capacidade de exercer o comando e controle a partir do Paquistão. Não só perdeu a credibilidade com os mais jovens como o contato com o combate do dia a dia", afirma Karl W. Eikenberry, ex-embaixador norte-americano no Afeganistão.

Em parte isso ocorreu porque as derrotas para a campanha militar da coalizão no campo de batalha forçaram uma reviravolta nas fileiras do Talibã: centenas de comandantes de nível médio foram mortos e substituídos na última década, deixando em seu lugar um grupo jovem e mais brutalizado, com pouca coisa a ver com a liderança de Mullah Muhammad Omar, o emir recluso do movimento que não é visto desde o início do conflito. A partir dos escalões mais altos da organização central liderada por ele, o grupo está tentando mostrar, da forma mais explícita possível, que vem se afastando de algumas práticas e políticas de linha dura que definiram o governo de 1996 a 2001.

Em algumas regiões do país não é raro ouvir histórias de um estilo mais previdente de governança: os comandantes insurgentes abriram escolas para meninas e operam sistemas judiciários considerados mais justos que o oficial. Em alguns casos participam de festas de casamento, com música, sem uma palavra de reprimenda – o que já foi considerado inconcebível para um grupo que proibia instrumentos musicais e espetáculos de qualquer tipo. E o grupo mostra uma campanha "publicitária" bastante agressiva nas redes sociais.

Em todo o país, entretanto, os habitantes que vivem sob o controle talibã falam de um cenário bem mais complicado. Muitos acham que nada mudou, que o grupo inflige um comando violento e é inflexível com quem se atreve a desobedecer. Há também os que se recusam a ouvir as diretivas da liderança, lutando e governando à sua própria maneira.

Mesmo aqueles que vivem em um mesmo distrito não concordam com o que está acontecendo. O governador de Marawara afirma que o governo controla 75 por cento da área e o Talibã vem tentando reconquistar o apoio popular; já um ancião que vive na mesma região disse exatamente o contrário: que o Talibã controla 75 por cento e as coisas não poderiam estar piores.

"A ideologia deles não mudou nem uma vírgula. São os mesmos desgraçados de sempre", lamenta Hajji Pacha, idoso que mora no distrito.

Ershad Zazai, governador talibã de Sarkano, na província de Kunar, admite: "É verdade que havia pessoas cruéis e imprudentes entre nós, que usavam o poder erroneamente para ameaçar ou agredir as pessoas comuns".

"Mas agora não há mais esse tipo de gente no nosso grupo; muitos também tiveram que mudar o comportamento porque não há brutalidade nos princípios do Emirado Islâmico", conclui.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.