O Facebook já é a maior rede social do mundo. Agora a empresa pretende ser a maior participante de um novo campo global ao comprar o WhatsApp, líder global em mensagens móveis.
"O WhatsApp é o grandalhão da cidade", declarou Bertrand Schmitt, executivo chefe da App Annie, empresa de análise que monitora os rankings de aplicativos no mundo todo. "O Facebook está comprando sua entrada. Trata-se de uma escala global".
O contrato do Facebook para comprar o WhatsApp por US$19 bilhões, anunciado em 19 de fevereiro, se estende a países como México, Alemanha e Índia, onde o aplicativo de mensagens possui grande participação de mercado.
E o negócio dá ao Facebook a chance de competir contra outras iniciantes de mensagens, como o Line no Japão e o WeChat na China. Cerca de 45 por cento dos usuários de mensagens móveis online usam o WhatsApp, de acordo com a empresa de pesquisa Analysys Mason.
A aquisição, a maior até agora pelo Facebook, é parte de seu esforço para criar uma série de aplicativos no dispositivo móvel do usuário, em vez de depender unicamente de sua rede social principal. O foco também é se aproveitar da tendência de mais pessoas usando seus celulares para se comunicar entre si ou com grupos pequenos, em vez de compartilhar informações de forma mais ampla.
O crescimento do WhatsApp foi um foguete. A empresa, fundada em 2009, diz que um quinto de seus usuários, ou 100 milhões de seus 450 milhões de assinantes, aderiram nos últimos quatro meses. Mais de 55 por cento de seus usuários são da Europa Oriental, México, Índia, Brasil e Estados Unidos, segundo a App Annie.
No entanto, embora a compra dê ao Facebook uma oportunidade de atingir pessoas de diferentes maneiras, ela também pode gerar um aumento de concorrência e tensão com algumas das maiores operadoras de telefonia do mundo, como AT&T nos Estados Unidos e Deutsche Telekom na Alemanha. Durante anos, as empresas de telecomunicações causaram a ira dos consumidores que tinham de pagar altas taxas para enviar mensagens de texto. Mas aplicativos como o WhatsApp oferecem uma maneira gratuita ou barata de enviar mensagens. O WhatsApp, por exemplo, cobra US$1 por ano, e o primeiro ano é de graça.
Ao longo da última década, empresas como a Telefónica, da Espanha, e a Vodafone, da Inglaterra, se aproveitaram de altas margens nos serviços de mensagens de texto. No ano passado, as operadoras do mundo todo perderam um total de US$32 bilhões em receita conforme os consumidores trocaram suas caras mensagens de texto por serviços baratos via internet, de acordo com a firma de pesquisa Ovum, em Londres.
Algumas operadoras tentaram banir rivais de mensagens online. Isso inclui a holandesa KPN, que culpou o WhatsApp por uma grande recessão em 2011. Mais tarde, legisladores locais decidiram que a KPN não poderia discriminar o tráfego de dados de serviços rivais de mensagens.
Analistas dizem que o Facebook WhatsApp continua em vantagem quando compete com essas operadoras de celulares. Embora tenha 1,2 bilhão de usuários globais, o Facebook ainda é um dos aplicativos para smartphone mais baixados do mundo. Poucas operadoras estariam dispostas a bloquear os serviços do Facebook, por medo de irritar seus clientes.
As empresas de telecomunicações "lutaram para reagir ao crescimento de serviços como o WhatsApp", argumentou Steven Hartley, da Ovum. "Quando conseguiram responder, as iniciantes de mensagens online já haviam dominado o mercado".
O WhatsApp está conquistando um milhão de usuários por dia e deve atingir um bilhão em breve. Esses números são, com certeza, a razão pela qual o Facebook está apostando US$16 bilhões em dinheiro e ações, mais um adicional de US$3 bilhões em ações restritas um décimo de seu próprio valor de mercado na ideia de que as chamadas telefônicas se tornarão cada vez mais obsoletas, enquanto as mensagens curtas enviadas de dispositivos móveis continuarão em ascensão.
Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook, está apostando que, em algum momento, sua empresa conseguirá faturar grandes quantias de dinheiro com esses usuários.
O Facebook também atingiu uma meta estratégica crucial: garantir que o WhatsApp permanecesse fora do alcance de seu maior rival, o Google. O WhatsApp, com apenas 55 funcionários, não se impressionou com a recente oferta do Google de US$10 bilhões pela empresa.
Existe uma preocupação de que, ao valorizar o número de usuários sobre a receita, o Facebook esteja inflando mais uma bolha das pontocom. Contudo, pela lógica do Vale do Silício, o Facebook pode ter feito um bom negócio.
Quando o Google comprou o YouTube por US$1,6 bilhão, em 2006, críticos chamaram o gigante das buscas de louca. Hoje o YouTube é a plataforma de vídeos dominante na internet.
Quando o Facebook adquiriu o Instagram por US$1 bilhão, em 2012, também se falou em um suposto investimento equivocado. Entretanto hoje, com o Instagram crescendo e começando a vender anúncios, a compra parece uma pechincha.
No WhatsApp, o Facebook não vê um modelo lucrativo de publicidade, mas o futuro das comunicações móvel, multiplataforma, barato e internacional. Se a empresa conseguir aumentar o número de usuários do WhatsApp e a quantidade de tempo que eles passam com o produto, teoricamente será possível ganhar dinheiro.
"Serviços mundiais que possuem um bilhão de usuários são todos incrivelmente valiosos", declarou Zuckerberg. "Enxergamos uma trajetória bastante clara à frente".
A Sequoia Capital, firma de capital de risco que investiu cerca de US$60 milhões no WhatsApp por uma participação acionária de 15 a 20 por cento, deverá receber mais de 50 vezes seu dinheiro inicial, ou US$3 bilhões.
Retornos como esse mantêm as firmas de capital de risco "no jogo de colocar grandes valores em empresas iniciantes que têm chances iguais de falir ou de decolar", explicou Erik Gordon, professor da University of Michigan.
Quanto ao WhatsApp, ele é popular entre consumidores europeus, mas ainda mais em mercados emergentes como Brasil e Índia, dizem analistas. Conforme muitos usuários em economias em desenvolvimento, como a Indonésia, passaram a utilizar smartphones, eles se voltaram a aplicativos online como os serviços de mensagens que não estavam disponíveis nos aparelhos de baixo custo.
"O Facebook e o WhatsApp trabalharão juntos para entrar em mais mercados emergentes", declarou Pamela Clark-Dickson, da empresa de pesquisa Informa Telecoms and Media.
Ainda assim, nem todo mercado será fácil de entrar. Na China, onde o Facebook é proibido, o aplicativo local de mensagens WeChat é o líder de mercado, enquanto seu rival regional Line domina no Japão e o Kakao é o aplicativo de mensagens mais baixado da Coreia do Sul. O WhatsApp, que é permitido na China, não aparece nos cinco aplicativos mais baixados de redes sociais em nenhum desses países asiáticos, de acordo com a App Annie.
Esses concorrentes também estão se expandindo cada vez mais, incluindo Europa e América, o que poderia prejudicar os planos futuros do Facebook para o WhatsApp.
As empresas rivais de mensagens desenvolveram, dentro de seus aplicativos, jogos móveis e outros serviços que os usuários estão dispostos a pagar. Isso contrasta com o WhatsApp, cujos cofundadores, Brian Acton e Jan Koum, se opuseram a inserir anúncios.
"Em países como China e Japão, o Facebook Messenger não é líder", disse Siim Teller, da consultoria On Device Research, em Londres. "O Facebook tem problemas para inovar além de seu aplicativo principal de rede social".
David Gelles colaborou