O novo centro de tratamento contra o ebola, nos arredores da capital, Freetown, parece ter tudo.

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Há estantes com roupas de médico e botas de látex, banheiros limpos, uma farmácia e até um galpão para descanso. Mas falta um elemento: pessoal. O centro foi aberto recentemente com uma equipe mínima de profissionais.

Agora, numa região onde pessoas estão morrendo porque não conseguem vagas em uma clínica que trate o ebola, 60 dos 80 leitos da nova clínica estão vazios.

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Funcionários humanitários em Serra Leoa dizem que a falta de coordenação apropriada entre organizações humanitárias, a má administração do governo e algumas ineficiências gritantes estão custando inúmeras vidas.

Um exemplo: ambulâncias são usadas para o transporte de amostras de sangue, às vezes um tubo de ensaio de cada vez, enquanto pacientes morrem em casa depois de passar dias à espera de uma ambulância. Metade dos pacientes em algumas clínicas nem sequer tem o ebola, mas seus exames médicos levam tanto tempo para ficar prontos que eles acabam passando dias nas clínicas, ocupando leitos e aumentando o risco de contrairem o vírus. Mesmo depois de os pacientes se recuperarem, muitas clínicas adiam sua alta até que haja sobreviventes em número suficiente para realizar uma cerimônia de despedida. "Tudo o que eu queria era voltar para casa", contou Suliman Wafta, sobrevivente recente do ebola. "Mas tive que passar oito dias a mais ali."

Recentemente, Serra Leoa anunciou quase cem novos casos da doença em um só dia —e esses foram apenas os casos confirmados, que, segundo especialistas em saúde, talvez representem não mais que um terço do total.

Se as coisas continuarem assim, nem mesmo os leitos previstos nas projeções mais otimistas serão suficientes para receber todos os pacientes gravemente doentes.

As críticas são crescentes, especialmente contra o Reino Unido, que lidera o esforço em Serra Leoa. "Para que os britânicos estão aqui? Para derrotar o ebola ou para fazer festa?", dizia a manchete de um jornal local. "Enquanto os americanos trabalham duro para acabar com o ebola na Libéria, nossos chamados senhores coloniais estão curtindo a vida."

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Autoridades britânicas negam e dizem que os cerca de 800 soldados enviados a Serra Leoa estão construindo novos centros de tratamento e treinando paramédicos.

A pergunta que as pessoas começam a fazer é se as Forças Armadas americanas, que enviaram 2.400 soldados à Libéria, desejam vir à Serra Leoa. Muitos funcionários humanitários dizem que a atuação dos EUA na construção de centros de tratamento, criação de laboratórios móveis para a análise de sangue e transporte de produtos para o combate ao ebola por todo o país está ajudando a frear a epidemia na Libéria.

Um funcionário da administração Obama disse que não foi tomada nenhuma decisão de transferir tropas americanas da Libéria para Serra Leoa, mas que "nenhuma possibilidade foi excluída".

Muitos funcionários humanitários em Serra Leoa falam da necessidade urgente de uma estrutura de comando mais efetiva.

Nas grandes emergências, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) desempenha um papel de grande importância, dividindo os serviços em grupos e então coordenando o trabalho das diferentes organizações humanitárias dentro de cada grupo. Uma funcionária da ONU que não foi autorizada a falar publicamente disse que o Ocha definiu a crise do ebola como um "problema médico sistêmico". "Corporativamente falando, não é uma emergência humanitária", disse, apesar de reconhecer que a maioria das organizações humanitárias considera que é.

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Outra preocupação é com a corrupção. O governo identificou 6.000 profissionais médicos "fantasmas" em sua folha de pagamento. Ao mesmo tempo, os membros de equipes reais que sepultam vítimas do ebola e os funcionários médicos da linha de frente não são pagos há semanas.

Mas nada provocou mais ultraje que a nova clínica de ebola de Kerry Town, sem enfermeiros ou higienistas suficientes para poder operar em segurança com sua capacidade plena.

Vários funcionários humanitários disseram que o governo tinha pressa para abrir a clínica, mas que a organização humanitária colocada no comando dela, a Save the Children International, nunca comandou um hospital de campo para atendimentos críticos. As fileiras de leitos vazios estão gerando inúmeras críticas.

Representantes da Save the Children disseram que o governo "implorou" à organização que administrasse a clínica. O governo disse que a decisão foi do Reino Unido. Os britânicos afirmaram que ninguém mais quis encarar a tarefa. Representantes da Save the Children disseram que pediram oito pacientes a mais de ebola por dia, mas estão recebendo apenas um.

"Aqui é como um navio sem capitão", disse um funcionário. "Cada um rema em uma direção diferente, e o barco não sai do lugar."

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