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Pessoas de etnia tâmil reuniram-se no dia 13 de outubro para saudar o Rainha de Jaffna, que voltou a funcionar após 24 anos | Eranga Jayawardena/Associated Press
Pessoas de etnia tâmil reuniram-se no dia 13 de outubro para saudar o Rainha de Jaffna, que voltou a funcionar após 24 anos| Foto: Eranga Jayawardena/Associated Press

Dois homens andavam no trem conhecido como o Rainha de Jaffna, passando por velhos campos de batalha da guerra civil do Sri Lanka.

Um deles, Nisal Kavinda, de 20 anos e etnia cingalesa, estava eufórico. Ele queria pegar esse trem desde 2009, quando o presidente Mahinda Rajapaksa declarou vitória sobre os rebeldes separatistas do norte tâmil. Quando o trem chegou ao Passo do Elefante, ele saltou para a plataforma com sua câmera. Um tanque rebelde incendiado permanece como memorial do soldado do governo que realizou uma missão suicida ao subir pelas laterais e atirar granadas. "Memórias do terrorismo", disse Kavinda alegremente, voltando ao trem.

Não muito longe dele estava o outro homem, Saravananuttu Subramanian, contador aposentado de 78 anos que examinava os turistas vindos do sul com o canto do olho. "Digamos que eles querem saber como seus soldados derrotaram os separatistas tâmeis", disse o tâmil Subramanian.

Do lado de fora, vão passando as ruínas das casas. Milhares de civis morreram lá, presos entre soldados do governo e os rebeldes, mas não há nenhum memorial para eles.

Em outubro, após passar 24 anos parado, o Rainha de Jaffna retomou seu serviço regular, ao longo do percurso de 400 quilômetros, ligando a capital do Sri Lanka, Colombo, de maioria cingalêsa, ao norte do país, de maioria tâmil. O trem é visto como um sinal de que a cisão entre os dois maiores grupos étnicos do país não existe mais. Mas conversas a bordo deixaram claro que um abismo psicológico ainda separa o norte do sul. Os visitantes do sul, em muitos casos, orgulham-se do que o governo trouxe para o norte — paz e desenvolvimento econômico, segundo eles. Para muitos tâmeis do norte, no entanto, o alívio dos tempos de paz mistura-se aos sentimentos de derrota e humilhação.

"Assim que a guerra terminou, a população de Jaffna soube que inúmeros ônibus de cingaleses viriam à cidade por curiosidade", disse Silan Kadirgamar, de 80 anos, historiador tâmil que vive em Colombo.

Vinte e seis anos de guerra civil devoraram esse trem, que na língua tâmil é chamado de Yal Devi. Rebeldes tâmeis arrancaram trilhos e dormentes para construir abrigos, e a força aérea do Sri Lanka destruiu o telhado da estação ferroviária de Jaffna. Mas antes disso, quem tomava esse trem sabia que poderia ser atacado por qualquer um dos lados.

Kadirgamar recorda-se de sua espera na estação em Colombo uma tarde em 1977 — sua esposa e dois filhos chegariam de Jaffna no trem da tarde. Sua esposa, antecipando a violência, não embarcou com as crianças. Ele esperava na plataforma quando o trem entrou na estação. Os passageiros não estavam lá, exceto algumas pessoas feridas, ele disse, "e havia manchas de sangue por todo o trem".

Nos cinco anos de paz, viajar pelo Yal Devi é incrivelmente normal. Os passageiros fazem fila ao amanhecer com travesseiros e crianças dormindo. Das janelas, a paisagem da florescente Colombo do pós-guerra. Depois disso, favelas e vagões abandonados. Mais para frente, a selva. Turistas cingaleses sentem-se à vontade no decurso da viagem, tocando tambores e cantando. O trem, restaurado com a ajuda de uma linha de crédito de US$ 800 milhões da Índia, fez da viagem algo confortável e seguro. Mas os passageiros tâmeis estão nervosos, talvez porque o trem esteja lotado de soldados do governo, que voltam para seus postos depois da licença.

Quando o trem para em Jaffna, que estava nas mãos do governo ao final da guerra, uma espécie de normalidade volta à paisagem e o fluxo de passageiros segue para uma cidade que se adapta ao turismo do pós-guerra.

Siva Padmanathan, de 44 anos, que oferece passeios de riquixá da estação, disse que suas conversas com os clientes do sul eram estranhas. ‘Eles me perguntam, ‘Agora as coisas estão bem aqui?’ E eu respondo que não. Eles olham para nós como se estivéssemos expostos em um museu. Acham que somos engraçados. Acham que eles ganharam e nós perdemos."

Mas Kavinda não toma conhecimento disso, e voltou para o sul no Yal Devi, feliz com seu passeio pelo norte. Ele disse que desejava que os tâmeis que conheceu falassem melhor cingalês, já que, como ele disse, "O Sri Lanka é um país cingalês". Mas ele tinha certeza de que ficaram contentes em vê-lo.

"Quando voltamos para Jaffna, eles estavam sorrindo, então acho que eles gostam dos cingaleses", disse.

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