• Carregando...
mais de 1.450 leões-marinhos apareceram nas praias da Califórnia | Kendrick Brinson/The New York Times
mais de 1.450 leões-marinhos apareceram nas praias da Califórnia| Foto: Kendrick Brinson/The New York Times

Quando Wendy Leeds chegou, o filhote tinha poucas chances de sobreviver. Como mais de 1.450 de leões-marinhos que apareceram nas praias da Califórnia neste ano, o bebê de oito meses estava faminto, desgarrado e a centenas de quilômetros da mãe, que ainda precisava amamentá-lo, ensiná-lo a caçar e a se alimentar. Suas costelas saltavam sob a pele aveludada.

O filhote estava deitado na praia havia horas e se tornara alvo de um cachorro agressivo, até que conseguiu se arrastar até o deque de uma casa milionária à beira-mar, cujo dono o protegeu com um guarda-sol e chamou o departamento de controle de animais. Então chegou Leeds, especialista do Centro de Mamíferos Marinhos do Pacífico, que, como outros centros de resgate da Califórnia, está sendo inundado por telefonemas sobre leões-marinhos magros e frágeis.

Filhote é tratado no Centro de Mamíferos Marinhos
Kendrick Brinson
The New York Times

Especialistas suspeitam que águas mais quentes que o normal estão afastando os peixes e outros alimentos das ilhas costeiras onde os leões-marinhos se reproduzem e cuidam dos filhotes. Com isso, as mães são obrigadas a ampliar o tempo longe das ilhas procurando comida, e centenas de filhotes famintos nadam para longe e acabam nas praias entre San Diego e San Francisco.

Muitos filhotes estão deixando as ilhas do Canal, arquipélago de oito ilhas perto da costa sul da Califórnia, na busca desesperada por comida. Mas eles são jovens demais para viajar muito, mergulhar fundo ou caçar sozinhos, segundo os cientistas.

Neste ano, houve cinco vezes mais resgates de leões-marinhos que o normal —1.100 só em fevereiro. Os filhotes estão aparecendo embaixo de cais de pesca, em quintais, ao longo de canais e em rochedos costeiros.

“São muitas ligações, e não conseguimos atender a todas”, disse Justin Viezbicke, que supervisiona questões litorâneas na Califórnia para a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (Noaa na sigla em inglês).

Muitos dos animais estão com pneumonia e têm parasitas no sistema digestivo. Alguns estão tão cansados que não tentam fugir quando o pessoal do resgate se aproxima com redes e toalhas e os coloca em gaiolas para cães.

“Eles vêm para a praia porque se não se afogariam”, disse Shawn Johnson, diretor de ciência veterinária no Centro de Mamíferos Marinhos em Salsalito. “São apenas pele e osso. Estãoà beira da morte.”

Pesquisadores dizem temer as consequências a longo prazo da mudança climática e do aumento das temperaturas oceânicas sobre uma população de leões-marinhos que evoluiu ao longo de milhares de anos para se reproduzir quase exclusivamente nas ilhas do Canal, contando com os fluxos circulares das ondas do Pacífico para trazer anchovas, sardinhas e outras presas.

“O meio ambiente está mudando muito rapidamente”, disse Sharon Melin, do Serviço Nacional de Pesca Marítima, que descobriu que os filhotes das ilhas estão 44% abaixo do peso.

Hoje, os pontos de resgate e reabilitação, como o Centro de Mamíferos Marinhos do Pacífico, em Laguna Beach, parecem salas de pronto atendimento de grandes cidades. Voluntários e profissionais puxam caixotes de leões-marinhos que acabam de chegar à praia para ser pesados e examinados. Muitos estão letárgicos e exaustos.

Os funcionários gravam números cortando o pelo dos animais, aquecem os mais frios em banhos com água salgada e tentam recuperar sua saúde com mingaus de arenque, xarope de milho, óleo de salmão e outros nutrientes.

Muitos se recuperaram, ganharam peso e passaram das gaiolas internas e alimentação por tubo a comer pequenos peixes e a nadar nas piscinas ao ar livre.

Porém, os índices de mortes são assustadores, e os veterinários têm de tomar decisões rápidas e dolorosas de sacrificar os filhotes sem condições de sobreviver.

Dos 1.450 leões-marinhos capturados nas praias, cerca de 720 estão sendo tratados hoje, disse Viezbicke, do Noaa.

Em Capistrano Beach, Leeds colocou o filhote em uma gaiola para cachorro, aceitou uma doação de US$ 20 do dono da casa que havia pedido ajuda e desceu a estrada até um cais de pesca onde um salva-vidas havia avistado outro filhote na areia.

Este estava muito frio e com a respiração instável, então ela colocou os dois animais na mesma gaiola para que se aquecessem.

Eles pareceram se recuperar rapidamente: quando Leeds foi tocar um deles, o outro tentou mordê-la.

Porém, os veterinários decidiriam que os dois filhotes estavam muito subnutridos e doentes, e teriam de ser sacrificados.

Enrolados como um par de meias marrons, eles foram levados ao centro de socorro.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]