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Filme explora relação de Israel com informantes

Sahdi Marei como Sanfur, à dir., e Tsahi Halevi como Razi no filme “Bethlehem”, dirigido por Yuval Adler: volátil relação entre um agente e o informante | Vared Adir/Adopt Films
Sahdi Marei como Sanfur, à dir., e Tsahi Halevi como Razi no filme “Bethlehem”, dirigido por Yuval Adler: volátil relação entre um agente e o informante (Foto: Vared Adir/Adopt Films)

Dez anos atrás, Yuval Adler, cineasta aspirante israelense, viu um vídeo em um site da web do Oriente Médio que captava um dos momentos mais brutais da rebelião palestina. O vídeo mostrava um bando de militantes arrastando um suposto colaborador pelas ruas de Belém e matando-o a tiros diante de uma multidão.

"Lembro-me de que pensei: ‘O que está acontecendo aqui? Como alguém entra nessa situação?’", disse Adler. "Se esse é o risco de ser um informante, como os israelenses conseguiriam recrutar alguém?"

Em "Bethlehem", o primeiro longa-metragem de Adler, as respostas se revelam lentamente, por meio da perigosa interação entre seus dois personagens principais. Ambientado nessa cidade bíblica durante os últimos dias da Segunda Intifada, no final de 2004 e início de 2005, o filme se concentra na volátil relação entre um agente do Serviço de Segurança Geral israelense, órgão de segurança interna mais conhecido como Shin Bet, e seu informante adolescente, o irmão de um comandante da Brigada dos Mártires de Al Aqsa, coalizão armada palestina.

Encenado principalmente com não atores, "Bethlehem" traz uma tensa autenticidade a um assunto que raramente foi explorado no cinema israelense.

"O clichê é que o relacionamento entre agente e informante se baseia apenas na ameaça e na força", disse Adler. A realidade é que "um membro do serviço secreto que dirige ‘ativos’ encontra pessoas que têm algo a menos, um buraco na alma, e o preenche. É uma relação muito íntima e, ao mesmo tempo, a mais exploratória que se possa imaginar".

"Bethlehem", feito com o modesto orçamento de US$ 1,5 milhão, foi o primeiro lugar nas bilheterias israelenses em 2013 e se classificou como melhor filme nos Ophirs, o principal prêmio de cinema de Israel. (Recebeu críticas mistas no circuito dos festivais.)

"Bethlehem" é um dos três filmes atuais que dramatizam esse mundo sombrio da inteligência humana. "Omar", do diretor árabe-israelense Hany Abu-Assad, é um thriller indicado ao Oscar sobre um jovem palestino que participa do assassinato de um soldado israelense e depois é obrigado a trabalhar como agente duplo. O documentário "The Green Prince", de Nadav Schirman, conta a história real de Mosab Hassan Yousef, filho de um fundador do Hamas em Ramallah, que se tornou espião israelense. Ele foi exibido no festival Sundance em janeiro e também recebeu críticas mistas.

Os três filmes captam a dependência e a desconfiança mútuas que formam a típica relação entre o informante e seu contato.

Na pesquisa do roteiro de "Bethlehem", Adler procurou membros do círculo de inteligência de Israel, altamente recatados. "Israel é um lugar pequeno", disse ele. "Você fala com um cara, ele o leva a outro e de repente encontrei um sujeito mais velho, aposentado, que se dispôs a falar."

O contato de Adler, um ex-membro do Shin Bet, o apresentou à tática da espionagem, incluindo o uso de "mistarvim", agentes disfarçados que se fazem passar por palestinos e se introduzem nas cidades da Cisjordânia antes de uma tentativa de assassinato.

O roteirista de Adler, Ali Waked, jornalista árabe-israelense que havia coberto a Segunda Intifada, realizou entrevistas com militantes palestinos, alguns dos quais ainda estavam fugindo das Forças de Defesa Israelenses, sobre suas atividades durante a rebelião.

Adler disse que ouviu críticas de israelenses e palestinos. "As pessoas que pensam que um lado é claramente mau não gostam do filme", disse ele. "Nós mostramos um quadro mais complexo."

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