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Fim de cartéis alimenta nova guerra

Acima, força policial comunitária de Petaquillas, México | Brett Gundlock / The New York Times
Acima, força policial comunitária de Petaquillas, México (Foto: Brett Gundlock / The New York Times)

Durante quase uma semana, homens armados e mascarados leais a uma gangue local de tráfico de drogas controlou esta pequena cidade, localizada em uma das principais rotas de contrabando do país. Policiais e soldados somente observaram enquanto pistoleiros procuraram por membros de um grupo rival e levaram pelo menos 14 homens, que desde então não foram mais vistos.

“Eles estão lutando pela rota que passa por Chilapa”, disse Virgilio Nava, cujo filho de 21 anos foi um dos capturados em maio, apesar de não ter ligações aparentes com qualquer dos bandos. “Mas nós é que somos afetados.”

Há anos, os EUA pressionam os países que combatem cartéis de drogas poderosos, como o México, a decapitar os grupos, matando ou prendendo seus líderes. O apogeu dessa estratégia foi a captura do mais poderoso narcotraficante do México, Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como El Chapo, que escapou no mês passado de uma prisão federal.

O resultado foi a fragmentação dos cartéis e surtos de violência em lugares como Chilapa, cidade de cerca de 31 mil habitantes, onde grupos menores disputam o controle. “O que vimos com a estratégia de alvos de alto valor é que a Al Qaeda diminuiu, mas apareceu o Estado Islâmico”, disse Raúl Benítez Manaut, professor na Universidade Autônoma Nacional do México especializado em questões de segurança. “Com os cartéis foi parecido.”

Enquanto os grandes cartéis são como monopólios envolvidos na produção, distribuição e venda de drogas, os bandos menores muitas vezes controlam apenas uma parte da cadeia de suprimento das drogas. Enquanto os grandes cartéis têm recursos para comprar autoridades do governo em nível nacional, os bandos menores geralmente se concentram nos níveis local e estadual, muitas vezes com consequências desastrosas para as comunidades.

Isso ficou extremamente claro em um caso que chocou o país no ano passado, quando 43 estudantes desapareceram em Iguala, que, como Chilapa, fica no Estado de Guerrero. Assim como aconteceu aqui, os desaparecimentos ocorreram em meio a uma disputa por território entre traficantes locais.

A violência e os sequestros em Chilapa expuseram a incapacidade ou falta de empenho do governo para encontrar respostas efetivas.

Governos sucessivos falaram sobre uma reforma da polícia nacional, mas seus esforços falharam em eliminar a corrupção e criar forças de segurança profissionais. O presidente Enrique Peña Nieto propôs uma série de mudanças em novembro passado, incluindo a centralização do controle da polícia local em cada Estado, mas isso não foi implementado.

Moradores e autoridades dizem que Chilapa fica em uma rota de contrabando de maconha e pasta de ópio disputada por dois bandos. Eles cresceram após o governo conseguir prender ou matar os líderes do cartel Beltrán Leyva.

Um grupo conhecido como Rojos (Vermelhos) hoje controla a cidade, segundo residentes e autoridades. Mas vilarejos rurais próximos são controlados pelos Ardillos, cujo nome deriva da palavra “esquilo” em espanhol. Os moradores acusaram o prefeito de ligações com os Rojos, o que ele nega.

A violência entre os grupos aumenta. É comum encontrar cadáveres. No mês passado, um corpo decapitado foi deixado com um bilhete: “Aqui está seu lixo, gambás com rabos”. Dois dias depois, sete corpos foram encontrados. Um estava sem cabeça, com uma mensagem cortada no peito: “Sinceramente, Rojos”.

Moradores dizem que os pistoleiros que invadiram a cidade em maio eram liderados pelos Ardillos. Os invasores desarmaram a polícia local e começaram a capturar alguns homens. “Eles diziam: ‘Tragam o prefeito, tragam o Chaparro’”, disse Matilde Abarca, 44, referindo-se ao apelido do chefe dos Rojos. O filho de Abarca, de 15 anos, foi apanhado, espancado e levado em uma caminhonete.

Segundo ela, os pistoleiros disseram que devolveriam os moradores sequestrados se os outros lhes entregassem o líder dos Rojos.

A ocupação ocorreu apesar de soldados e policiais federais estarem em Chilapa por causa da crescente violência. Testemunhas disseram que as autoridades simplesmente olharam, afirmação confirmada por fotografias e vídeos de celular. Alguns dizem que as autoridades se contiveram porque os invasores afirmaram ser uma força defensiva da comunidade, como os que surgiram para enfrentar traficantes em algumas cidades.

Desde que a ocupação de Chilapa terminou, as polícias estadual e federal ficaram para manter a ordem, e as autoridades prometeram investigar os desaparecimentos. Mas não há sinal de progresso.

Os parentes dos 14 homens capturados se reúnem diariamente. Muitos se agarram à esperança de que eles continuem vivos, talvez obrigados a trabalhar em plantações de papoula ou de maconha.

José Díaz, 52, porta-voz das famílias de Chilapa, disse que cerca de cem pessoas da área desapareceram desde meados do ano passado, incluindo seus dois irmãos e um primo.

Dados recentes do governo mostram que o índice nacional de assassinatos vem caindo. Mas muitas áreas continuam sofrendo com a violência de grupos menores de traficantes que tentam ocupar o vazio deixado pelos cartéis.

“Para o crime organizado, El Chapo não é o futuro”, disse Alejandro Hope, ex-oficial da inteligência mexicana. “El Chapo é um remanescente, poderoso, mas de qualquer forma um remanescente.”

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