A tarefa que se apresentava seria uma maratona de dois dias de degustação de vinhos com uma miríade de rótulos confusos: natural, orgânico, prática orgânica e biodinâmica. Mas para Jean Bardet, chef com duas estrelas Michelin, não havia nenhuma dúvida sobre a qualidade dessas garrafas.
“Hoje você vê esses jovens com brincos no nariz, que não entendem nada de vinho, dizendo ‘se é orgânico, é melhor’. Isso é loucura. Todo vinho dá prazer e felicidade. Ou não. É tudo uma questão de paladar”, disse Bardet, especialista em vinhos do Vale do Loire.
Bardet disse que não é pró-pesticida — afinal de contas, seu pomar e sua horta aqui estão livres dessas substâncias. Ele é apenas contra a má produção de vinho.
O uso de pesticidas se tornou um grande problema entre os viticultores e bebedores franceses. Muitos veem a repentina enxurrada de novos vinhos que proclamam sua virtude ambiental como um modismo naturalista. Outros condenam a resistência aos pesticidas, que entendem como uma ameaça em potencial a outros vinhos.
Muitos europeus acreditam que a França usa pesticidas em excesso em todos os tipos de produtos. O país é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo, depois dos Estados Unidos e do Japão.
Um problema para os produtores de vinho é que não existe uma definição nem em regulamento do que constitui um vinho “puro” ou “natural” na França.
Um vinho definido como orgânico pela União Europeia é produzido a partir de uvas cultivadas organicamente, mas que podem ser manipuladas quimicamente, com limitações do uso de sulfitos no processo de produção da bebida. Muitos produtores dizem que seu vinho é natural, o que exige algo mais: nada pode ser adicionado ou removido durante a produção. Alguns produtores de vinhos naturais adicionam uma pequena quantidade de sulfitos no momento de engarrafar; outros apenas engarrafam suco de uva fermentado, o chamam de vinho e torcem para que seja bebível. Métodos biodinâmicos envolvem uma abordagem holística que trata o solo como um organismo.
A primeira degustação este ano foi a Renaissance, em Angers, que reuniu produtores que apresentaram vinhos orgânicos, sem pesticidas, mas não necessariamente sem sulfito. A estrela improvável foi Emmanuel Giboulot, proprietário de um vinhedo na região de Côte d’Or. Giboulot produz uvas orgânicas e biodinâmicas. Em dezembro, ele ganhou uma longa batalha jurídica para não cumprir a ordem do governo de pulverizar um pesticida chamado Pyrevert em seu vinhedo. Isso havia sido determinado para combater um inseto que espalha a “flavescence dorée” ou “podridão dourada”, uma doença bacteriana.
Ele disse que “vivemos um paradoxo. A indústria do vinho luta por pesticidas ao mesmo tempo que alega que o bom vinho francês pode somente vir do terroir localizado no país”, essa combinação indescritível de solo, clima, geografia e conexão emocional com a terra. No final, a “flavescence dorée” apareceu em apenas três aldeias em toda a Côte d’Or.
Em Les Anonymes, as degustações foram inflexíveis. Lá, muitos rótulos eram feitos à mão; grande parte das centenas de vinhos oferecidos era de baixa qualidade, como vinho feito no quintal.
“Faço suco de uva fermentado e engarrafado, ponto final”, disse Lilian Bauchet, que produz um Gamay de Beaujolais.
Em Saumur, a cerca de 40 quilômetros de distância, quase 200 produtores de vinho de 15 países estavam reunidos em um labirinto de caves para o La Dive Bouteille, maior exposição mundial de vinho natural.
“A cada ano isso fica mais emocionante. Alguns dizem que é uma moda passageira, mas quem começa a beber esses vinhos nunca volta aos tradicionais”, disse Camille Rivière, importadora de vinhos naturais de Nova York, enquanto passeava pelos corredores.