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Frase reacende debate sobre bissexualidade

O mergulhador Tom Daley namora um homem, mas ainda gosta de garotas | Clive Rose/Getty Images
O mergulhador Tom Daley namora um homem, mas ainda gosta de garotas (Foto: Clive Rose/Getty Images)

"É claro que ainda gosto de garotas."

Essa foi uma das frases mais comentadas de um vídeo de Tom Daley que circulou no YouTube no mês passado, em que o mergulhador olímpico britânico de 19 anos anunciou que está namorando um homem.

Ele continuou: "Mas, quero dizer, neste momento estou namorando um cara e não poderia estar mais feliz".

A mensagem de Daley foi simples e singela, e os defensores dos direitos gays pareceram entusiasmados ao receber em suas fileiras um atleta assumido. (Os comentários mais ferinos vieram depois, quando o "cara" foi identificado pelos tabloides como o roteirista Dustin Lance Black, que é 20 anos mais velho.)

Mas Daley nunca usou a palavra "gay", e há a questão de ele ainda gostar de garotas.

A revelação de Daley reacendeu um debate intenso na comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).

A bissexualidade, assim como a síndrome da fadiga crônica, é muitas vezes considerada imaginária pelos que estão do lado de fora. Estereótipos não faltam: os bissexuais são promíscuos, mentirosos ou vivem "em negação". Eles são gays que não conseguem admitir sua sexualidade ou "lésbicas até a formatura" que estão procurando maridos.

"Essas reações são clássicas. Muitas pessoas não acreditam que a bissexualidade realmente existe e a consideram uma etapa transitória ou uma forma de ‘estar no armário’", disse Lisa Diamond, professora na Universidade de Utah que estuda orientação sexual.

Estudos baseados na população, disse a doutora Diamond, indicam que a bissexualidade é mais comum que a atração exclusiva pelo mesmo sexo e que a libido feminina é especialmente aberta. Isso talvez explique por que a bissexualidade feminina é mais comum na cultura popular, desde "I Kissed a Girl", de Katy Perry, ao seriado "Orange Is the New Black", do Netflix.

Em um ensaio no "New York Times", no qual revelou seu relacionamento com outra mulher, a atriz Maria Bello escreveu: "Meu sentimento sobre ligação e parceria sempre foi de que eles são fluidos e evoluem".

Antes de se casar com Bill de Blasio, Chirlane McCray se identificava como lésbica, o que se tornou parte das credenciais progressistas da família do prefeito de Nova York. A bissexualidade masculina, em comparação, é mais criticada, e grande parte do ceticismo vem dos homens gays.

O guru gay conservador Andrew Sullivan, em seu blog "The Dish", chamou a alegação de Daley sobre gostar de garotas de "um clássico mecanismo para facilitar a transição para sua verdadeira identidade sexual. Eu sei porque também fiz isso".

As lésbicas também podem ser temerosas. Mesmo depois que McCray se casou com De Blasio, algumas de suas "amigas lésbicas-separatistas", como disse a revista "New Yorker", recusaram-se a aceitar sua nova vida.

Esses pensamentos irritam os defensores da bissexualidade, que veem o viés contra os círculos gays como evidência de "bifobia". Muitas críticas neste sentido foram dirigidas ao colunista sexual Dan Savage. Em 2011 o blogueiro Chris O’Guinn acusou Savage de dizer "coisas claramente cruéis e insultantes sobre os bissexuais", incluindo seu comentário no documentário "Bi the Way", que dizia: "Quando conheço alguém que tem 19 anos e me diz que é bissexual, digo: ‘Sim, tudo bem, eu duvido. Volte quando você tiver 29 anos e veremos’."

Savage respondeu com um vídeo para o "The Dish" no último verão. "Reconhecer que isso é uma coisa que acontece, que as pessoas brevemente se identificam como ‘bi’ antes de se assumirem como gays muitas vezes —nem todas as pessoas bi, mas os gays fazem isso— não deve ser considerado bifobia."

Daley e Bello, nenhum dos quais usou a palavra "bissexual", falaram sobre o ardor incontrolável de um único relacionamento, em vez de uma mudança de identidade. (Bello se contentou em se chamar de "qualquer coisa".)

Apenas algumas celebridades adotaram o termo. A atriz Cynthia Nixon, que se casou com uma mulher depois de ter filhos com um homem, disse ao "Daily Beast" em 2012: "Eu não uso a palavra ‘bissexual’ porque ninguém gosta dos bissexuais. Todo mundo gosta de xingar os bissexuais".

Mas evitar rótulos tem sua própria história entre os ativistas gays, que contaram com a visibilidade como arma contra a intolerância.

Quando um entrevistador da "Essence" mencionou a palavra "bissexual" para a nova primeira-dama de Nova York, McCray respondeu: "Eu sou mais do que um simples rótulo. Por que as pessoas insistem em rotular onde nos situamos no espectro sexual? Os rótulos colocam as pessoas em caixas, e essas caixas têm a forma de caixões".

No caso de Daley, a diferença pode ser geracional. Pessoas mais novas talvez não deem valor a rótulos como "gay" ou "bissexual", quando as comunidades que eles descrevem não são mais tão marginalizadas.

"Entre a geração mais jovem, vi muito mais abertura sobre a bissexualidade tanto em homens como em mulheres e, com frequência, uma rejeição a todos os rótulos", diz a doutora Diamond. "Eles são mais abertos para a ideia de que ‘a sexualidade é complexa, e, desde que eu saiba com quem eu quero dormir, não importa como me chamem’."

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