Os seres humanos podem levar espécies à extinção ao caçá-las ou ao destruir seu habitat. Mas também podem ameaçá-las de uma forma mais sutil, porém não menos perigosa: fazendo-as adoecer.
No começo do século 20, os seres humanos introduziram mosquitos transmissores da malária no Havaí, e muitas espécies de aves nativas foram dizimadas. Recentemente, um fungo levado da Europa para os Estados Unidos se revelou letal para os morcegos. Agora, os cientistas estão lutando para evitar o próximo desastre: um fungo recém-descoberto que está matando salamandras na Europa e pode em breve chegar à América do Norte, que abriga cerca de metade de todas as espécies de salamandra do mundo. Há meses, os biólogos pedem a suspensão do comércio de salamandras como animais de estimação, pois precisam de tempo para criar uma defesa contra o fungo. Até agora, as autoridades americanas não tomaram nenhuma providência.
“Seria de se imaginar que já houvesse alguma coisa em vigor”, disse o biólogo Vance Vredenburg, da Universidade Estadual de San Francisco. “Realmente precisamos que um órgão público de qualquer nível aja e faça alguma coisa.”
Vredenburg e seus colegas já viram o que uma infecção por fungos pode fazer com anfíbios. Na década de 1990, eles descobriram que o Batrachochytrium dendrobatidis (abreviado como BD) estava matando populações inteiras de rãs. O BD se espalhou pelo mundo e hoje ameaça dizimar centenas de espécies.
Em 2013, cientistas na Holanda descobriram que uma espécie correlata de fungo, chamada Batrachochytrium salamandrivorans (Bsal), estava matando salamandras-de-fogo. Depois disso, eles também detectaram o fungo na Bélgica e no Reino Unido e descobriram que três espécies de salamandras asiáticas poderiam hospedar o fungo sem adoecer. É provável que o comércio de animais esteja espalhando o Bsal para salamandras selvagens na Europa, que não desenvolveram resistência à doença.
Pesquisadores na América do Norte estão à procura do Bsal no subcontinente, sem tê-lo encontrado até agora. No entanto, com base em um estudo publicado em julho na revista “Science”, Vredenburg e seus colegas preveem que várias regiões norte-americanas estão sob risco.
Registros do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA mostram que cerca de 780 mil salamandras foram importadas entre 2010 e 2014. Vredenburg e seus colegas descobriram que 98% delas eram nativas da Ásia.
Lá, as salamandras portadoras do Bsal tendem a viver em climas frios e úmidos. A equipe de Vredenburg identificou várias regiões na América do Norte que seriam particularmente hospitaleiras para o Bsal: Sudeste, Pacífico Noroeste e serra Nevada e os planaltos do centro do México.
Os cientistas ainda têm muito a aprender sobre o Bsal. O fungo pode crescer numa ampla gama de condições além das atualmente conhecidas, por exemplo. Descobrir novas espécies hospedeiras na Ásia poderia ajudar os cientistas a preverem em quais outras regiões da América do Norte ele poderia se proliferar.
A bióloga Karen Lips, da Universidade de Maryland, concorda que os EUA deveriam proibir a importação de salamandras de estimação, pelo menos até que os cientistas consigam avaliar a dimensão da ameaça representada pelo Bsal. O Conselho Consultivo Conjunto do Setor de Animais de Estimação também apoia a suspensão temporária das importações de salamandras.
Priya Nanjappa, da Associação de Agências de Pesca e Vida Selvagem, disse que a experiência com o Bsal mostrou a importância de serem implementadas novas leis que permitam ao governo reagir com eficácia a doenças emergentes na fauna e flora selvagens.
“Isso está provando que, mesmo quando conseguimos antever, estamos tropeçando”, disse ela.
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