Sob muitos aspectos, esta cidade do leste do Texas é um bom exemplo da velha relação do estado com o futebol americano.
Há pouco tempo, caravanas de carros saíam de Houston e Dallas para assistir a partida dos Marshall Mavericks pelo campeonato estadual de futebol colegial, e placas penduradas nas pontes ao longo da rodovia interestadual indicavam o caminho para o jogo.
Mas agora, Marshall mudou consideravelmente, pois crescem as preocupações em torno dos perigos que o esporte representa à saúde. O conselho escolar aprovou planos para acabar com a categoria de base do distrito, que começa no sétimo ano do ensino fundamental, substituindo-a por uma versão do esporte com muito menos contato físico. Não houve muita objeção à decisão.
"Eu imaginava que haveria mais resistência e preocupação", afirmou Marc Smith, o superintendente escolar. "Porém, o argumento da segurança realmente foi bem aceito entre os pais. Eles o entendem muito bem, pois veem seus filhos de 11 ou 12 anos sendo jogados no chão".
O esporte continua a ser extremamente popular. Porém, como isso está acontecendo no Texas, essa pequena medida de acabar com as categorias de base na sétima série é um exemplo de como a questão dos danos cerebrais começou a afetar o cenário do futebol americano. Em menos de uma década, as lesões na cabeça passaram de uma consequência inevitável (e ignorada) de um esporte de contato, para um ferimento que modificou a forma de praticar o esporte.
Os danos cerebrais causados durante a prática do esporte está ligado ao declínio devastador de dezenas de ex-jogadores profissionais. Entre eles está Junior Seau, um linebacker do San Diego Chargers, que cometeu suicídio em 2012 como consequência de uma encefalopatia crônica, doença cerebral degenerativa conectada a atletas que sofreram choques frequentes na cabeça.
Pesquisas recentes indicam que jogadores com apenas sete anos de idade recebem pancadas na cabeça comparáveis às de jogadores juvenis e adultos.
Pais como Matt Moore, gerente geral de uma concessionária da Ford em Marshall, acabam ficando preocupados com a situação.
O médico aposentado Jim Harris diz que alguém tinha que tomar uma atitude, mesmo que os 25 mil habitantes da cidade não fossem receptivos.
Depois de anos de leitura sobre estudos médicos, relatórios sobre ex-jogadores profissionais com danos cerebrais e ações judiciais alegando que a Liga Nacional de Futebol Americano (ou NFL, na sigla em inglês) ocultava os perigos de sucessivas pancadas na cabeça, Harris concluiu que o futebol estava fazendo mais mal do que bem.
Harris rejeita o argumento de que o futebol americano não é mais perigoso que lacrosse ou hóquei se jogado da maneira certa. Ele levou seu argumento aos Boys & Girls Clubs, ao conselho escolar e para todos que se interessavam pelo assunto.
"A situação precisa mudar", afirmou. "Temos que começar a dizer que não precisamos jogar futebol. Se é prejudicial para as crianças, não deveria ser praticado".
Por mais sutil que seja, a mudança na mentalidade refletida pela decisão da cidade de Marshall acerca do futebol americano pode indicar problemas para a NFL e o esporte como um todo. A ESPN, rede de TV esportiva, revelou em novembro que a participação no programa juvenil do futebol americano caiu quase 10 por cento entre 2010 e 2012. Cada jovem atleta que deixa de jogar futebol americano causa uma erosão no esporte que é, de longe, o mais popular dos Estados Unidos.
As categorias de base parecem estar se preparando. Elas estão gastando milhões de dólares para criar programas de certificação para treinadores. Todos os 50 estados possuem leis que exigem que os jogadores sejam retirados do jogo caso haja a suspeita de uma concussão, e médicos devem examiná-los antes que possam retornar.
Harris convenceu seu clube do livro a ler "League of Denial", que detalha a crise dos danos cerebrais na NFL.
"Uma leitura dessas te faz pensar", disse Tony Crosby, que estava na equipe de futebol da Universidade do Texas de 1963, campeã nacional. "Faria o possível para manter meu neto fora do jogo".
Bryan Partee, diretor executivo dos Boys & Girls Clubs de Big Pines, e filho de um kicker do San Diego Chargers, vê com clareza as decisões que estão sendo tomadas pelos pais.
O clube possui uma liga juvenil de futebol americano, mas Partee afirmou que hoje mais jovens estão jogando futebol e basquete.
Para agradar os pais, ele aumentou as ligas de futebol americano sem contato físico, que agora, além de meninos entre 5 e 7 anos, também incluem os de 8 a 12. No futebol americano sem contato físico, ao invés dos choques, o jogador para o adversário retirando uma bandeira de sua cintura. Ninguém usa capacete nem proteções como no futebol americano regular.
"Os pais gostam do jogo, mas têm medo que os filhos se machuquem", afirmou Partee. "Nossa filosofia não é levar seu filho para a liga nacional; queremos que ele volte a jogar no ano que vem".