• Carregando...

O alvo da explosão de um dos carros foi a mulher de um juiz. Outro ataque, à casa da mãe de um árbitro, levou a um boicote que forçou o adiamento dos jogos de uma semana inteira. No total, foram seis atentados.

“Tudo bem, infelizmente acontece bastante por aqui, sim. É praticamente um esporte aqui em Chipre, mas, geralmente, é por motivos financeiros. Você me deve, não paga, esse tipo de coisa... mas por causa de futebol? Não se faz essas coisas por causa de jogo”, diz Andreas Michaelides, que já foi técnico da seleção cipriota e hoje faz parte da Câmera dos Representantes.

Embora a maioria dos torcedores do resto do mundo pense no futebol europeu nos moldes da sofisticada e organizada Premiere League inglesa ou a Bundesliga alemã, a realidade de muitos países do continente é bem diferente. Falência de clubes, violência, conflitos de interesses, jogadores com salários atrasados e acusações de manipulação de resultados são uma constante nos torneios da Albânia à Turquia.

Segundo as avaliações da Federbet, empresa que acompanha padrões de apostas das partidas realizadas no Chipre, em 2014, mais da metade dos jogos mostrava sinais de ter sido arranjada.

“Não dá para dizer que o futebol cipriota é muito saudável. Estamos passando por uma verdadeira avalanche de corrupção em todo lugar – governo, sistema financeiro, ministérios. Onde há dinheiro envolvido, há sempre o risco”, admite Prodromos Petrides, presidente de um dos clubes mais bem-sucedidos da ilha, o Apoel Nicosia.

Em 2014, de acordo com o sindicato nacional de jogadores, a dívida dos clubes das duas divisões principais chegava a 60 milhões de euros.

“O futebol de Chipre tinha muito dinheiro há cinco, seis, sete anos, mas agora parece que sumiu”, diz o presidente da entidade, Spyros Neofitides.

Mesmo os clubes em situação mais estável enfrentam problemas.

“Em outros países, os times grandes têm patrocínio de seguradoras, companhias telefônicas, aéreas, bancos. Esses, aqui em Chipre, não estão dando nada. O mesmo vale para as empresas de seguro. A empresa aérea, então, está falida”, lamenta Petrides said.

A derrocada financeira é evidente na forma como os times tratam seus jogadores. Três anos atrás, o venezuelano César Alberto Castro Pérez, que jogava no Olympiakos Nicosia, foi abordado por dois homens que o ameaçaram com armas, exigindo que assinasse um documento que encerrava seu contrato e ainda renunciava a quaisquer valores não pagos.

Parece que todo mundo tem uma história – ou conhece alguém que tenha – de oferta de dinheiro em troca da garantia do resultado de alguma partida.

Um jogador conta que, no ônibus, já a caminho do estádio, no ano passado, o presidente de seu clube informou o grupo de que terminaria o primeiro tempo perdendo, mas que ganharia no final.

Em uma pesquisa com cerca de 400 jogadores profissionais, quase cem disseram esperar serem procurados por alguém do próprio clube para entregar algum resultado.

Marios Panayi, que já foi um dos juízes mais respeitados do país, entregou à polícia documentos que, segundo ele, provam as ações de um cartola que oferecia aos árbitros promoções e escalações em troca de acerto de resultados.

“Há aproximadamente 300 juízes aqui em Chipre. Para mim, desses, só uns dez por cento são honestos. E olhe lá”, conclui Panayi.

Colaborou George Psyllides

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]