A temperatura ambiente girava em torno de 38°C quando uma tubulação foi ligada a um gigantesco navio de casco vermelho. Apesar do calor, a umidade do ar se congelou em flocos dentro dos canos, formando uma rajada como se fosse de neve. Essa imagem paradoxal é comum nesse navio qatariano, o Al-Rekayyat, que carrega um combustível gelado chamado gás natural liquefeito.
O gás natural, quando refrigerado a -162°C, transforma-se em um líquido com uma fração do seu volume inicial. Esse processo revolucionou a atividade de extração e venda de gás natural, permitindo que o combustível seja embarcado em navios e distribuído para o mundo todo.
Após investir dezenas de bilhões de dólares, o Qatar está na linha de frente desse setor.
O Al Rekayyat —que pertence à frota do emirado, tem mais de 300 metros de comprimento e é operado pela Royal Dutch Shell— costuma navegar para China, Japão, Índia, Dubai e País de Gales.
O Qatar, país outrora dependente da pesca e da coleta de pérolas por mergulhadores, tornou-se um gigante relativamente novo no mercado energético global.
Na década de 1970, a Shell descobriu nas águas qatarianas a maior jazida mundial de gás natural. No entanto, não havia mercado para esse combustível —os potenciais clientes na Europa estavam distantes demais para serem alcançados por gasodutos, o método usual. A Shell então se afastou.
No entanto, em meados da década de 1990, vendo o exemplo da Malásia e da Indonésia, o Qatar e seu então emir, Hamad bin Khalifa al-Thani, começaram a promover o GNL (gás natural liquefeito). A Exxon Mobil foi um importante investidor inicial; Shell, Total e ConocoPhillips vieram em seguida.
O Qatar e os seus parceiros energéticos levaram essa atividade a um novo patamar, desenvolvendo usinas bem maiores e mais eficientes. No ano passado, o Qatar produziu cerca de um terço de todo o gás natural liquefeito do mundo, embora a Austrália e os EUA também tenham grandes ambições exportadoras.
O Qatar se tornou o país mais rico do planeta em termos de PIB per capita.
Apesar de o setor atualmente ter um crescimento praticamente nulo, nas últimas duas décadas o volume produzido mundialmente quase quadruplicou, chegando a cerca de 240 milhões de toneladas por ano, o que representa cerca de um terço das exportações totais de gás. As vendas anuais são estimadas em US$ 180 bilhões.
Em Ras Laffan, um promontório no deserto a cerca de uma hora de viagem de Doha (capital), tanques de armazenamento, oleodutos e outras instalações se destacam na paisagem.
O gás chega de poços em alto-mar e em seguida passa por uma série de unidades de refrigeração que limpam o combustível e o resfriam até ficar líquido. A Qatargas e a RasGas, duas empresas exportadoras do emirado, possuem 14 instalações desse tipo.
Graças à sua capacidade de produzir e processar enormes quantidades de gás, o Qatar consegue manter os custos baixos.
A empresa IHS, especializada em pesquisas de mercado, estima que o preço de extrair e liquefazer gás no Qatar seja de US$ 2 por milhão de BTUs, a unidade-padrão de medida para o gás natural. Em projetos planejados nos EUA, na África e na Austrália, o valor é de US$ 8 a US$ 12. A estrutura de baixo custo permite que o Qatar ganhe dinheiro mesmo em um momento de resfriamento do mercado, com preços reduzidos, como atualmente.
Os qatarianos originalmente planejavam levar grande parte do seu GNL para os Estados Unidos e a Europa, mas esses planos foram frustrados pelo boom do gás de xisto na América do Norte.
Em vez disso, no ano passado, países asiáticos como China, Índia e Coreia do Sul receberam três quartos do gás qatariano. O Japão foi o maior cliente do Qatar, já que suas empresas elétricas adotaram o gás natural em lugar da matriz nuclear depois do acidente de Fukushima, em 2011.
A guinada do Qatar em direção à Ásia reflete um padrão mais amplo no setor petrolífero. Nos últimos anos, os produtores do golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Iraque e Irã, ficaram mais focados na Ásia, onde cresce a demanda por importações energéticas. O Qatar está bem posicionado para atender aos mercados asiáticos, especialmente a Índia, que fica a poucos dias de navegação.
Parte importante do esforço qatariano tem a ver com a sua nova frota de navios-tanques, substancialmente maiores e mais eficientes do que os modelos anteriores.
É o caso do Al Rekayyat, que, após ser abastecido com uma carga de GNL estimada em cerca de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões, zarpou para Hazira, na Índia, onde um moderno píer da Shell o esperava.
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